Estudo evangélico sobre a visão de Ezequiel capítulo 1 e a descrição dos anjos: querubins com faces de animais e as quatro rodas. Os estandartes das tribos de Israel, significado da expressão ‘até que venha Siló’ e a origem da ‘Estrela de Davi’.

Evangelical study on the vision of Ezekiel chapter 1 and the description of the angels: cherubim with faces of animals and the four wheels. The banners of the Tribes of Israel; meaning of the expression ‘until Shiloh comes’ and the origin of the ‘Star of David.’


A visão de Ezequiel cap. 1




Nota: Este texto foi escrito em 2010 em outro contexto no livro “Curiosidades e revelações” indicado no final da página. Aqui nós veremos o simbolismo judaico dos animais vistos por Ezequiel baseado nos conhecimentos sacerdotais da Antiguidade; portanto, associando-os aos quatro acampamentos de Israel no deserto. Já no livro de Apocalipse 4, quando João descreve os mesmos seres viventes, ou seja, os querubins que estão à volta do Trono, a explicação é um pouco diferente, mas não deixa de ter o mesmo propósito: mostrar o caráter de Deus através daquelas criaturas angelicais e revelar as características que Ele sempre esperou do Seu povo.

Ezequiel 1
1 Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, que, estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.
2 No quinto dia do referido mês, no quinto ano de cativeiro do rei Joaquim,
3 veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do Senhor.
4 Olhei, eis que um vento tempestuoso vinha do Norte, e uma grande nuvem com fogo a revolver-se, e resplendor ao redor dela, e no meio disto, uma coisa como metal brilhante, que saía do meio do fogo.
5 Do meio dessa nuvem saía a semelhança de quatro seres viventes [Ez 10: 12; 15; 20 deixa claro que eram querubins], cuja aparência era esta: tinham a semelhança de homem.
6 Cada um tinha quatro rostos, como também quatro asas [Ez 10: 14; 21. cf. Ap 4: 8 – seis asas].
7 As suas pernas eram direitas [NVI: retas], a planta de cujos pés era como a de um bezerro e luzia como o brilho de bronze polido.
8 Debaixo das asas tinham mãos de homem, aos quatro lados; assim todos os quatro tinham rostos e asas.
9 Estas se uniam uma à outra; não se viravam quando iam; cada qual andava para a frente.
10 A forma de seus rostos era como a de homem; à direita, os quatro tinham rosto de leão; à esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia, todos os quatro [cf. Ap 4: 6-7].
11 Assim eram os seus rostos. Suas asas se abriam em cima; cada ser tinha duas asas, unidas cada uma à do outro; outras duas cobriam o corpo deles.


Os querubins com 4 asas as quatro faces dos querubins


12 Cada qual andava para a sua frente; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando iam.
13 O aspecto dos seres viventes era como carvão em brasa, à semelhança de tochas; o fogo corria resplendente por entre os seres, e dele saíam relâmpagos,
14 os seres viventes ziguezagueavam à semelhança de relâmpagos.
15 Vi os seres viventes; e eis que havia uma roda na terra, ao lado de cada um deles.
16 O aspecto das rodas e a sua estrutura eram brilhantes como o berilo; tinham as quatro a mesma aparência, cujo aspecto e estrutura eram como se estivera uma roda dentro da outra.
17 Andando elas, podiam ir em quatro direções; e não se viravam quando iam.
18 Os seus aros eram altos, e metiam medo; e, nas quatro rodas, as mesmas eram cheias de olhos ao redor [cf. Ap 4: 6; 8].


As rodas com olhos


19 Andando os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; elevando-se eles, também elas se elevavam.
20 Para onde o espírito queria ir, iam, pois o espírito os impelia; e as rodas se elevavam juntamente com eles, porque nelas havia o espírito dos seres viventes.
21 Andando eles, andavam elas e, parando eles, paravam elas, e, elevando-se eles da terra, elevavam-se também as rodas juntamente com eles; porque o espírito dos seres viventes estava nas rodas.
22 Sobre a cabeça dos seres viventes havia algo semelhante ao firmamento, como cristal brilhante que metia medo, estendido por sobre a sua cabeça.
23 Por debaixo do firmamento, estavam estendidas as suas asas, a de um em direção à de outro; cada um tinha outras duas asas com que cobria o corpo de um e de outro lado.
24 Andando eles, ouvi o tatalar das suas asas, como o rugido de muitas águas, como a voz do Onipotente; ouvi o estrondo tumultuoso, como o tropel de um exército. Parando eles, abaixavam as asas.
25 Veio uma voz de cima do firmamento que estava sobre a sua cabeça. Parando eles, abaixavam as asas.


o trono acima do firmamento
Fonte de imagens animadas acima: vídeo do YouTube – Ezekiel Chapter 1; post. jwsharetube


Por perdermos ao longo dos séculos o simbolismo usado na Antiguidade por esses homens de Deus, muitas vezes não conseguimos compreender com exatidão o que eles queriam dizer. Mas, vamos tentar entender um pouco esta visão de Ezequiel dos quatro seres viventes, ou seja, dos querubins que estavam no trono. Os querubins vistos por Ezequiel também o foram pelo apóstolo João (neste último texto a explicação está no contexto cristão apocalíptico).

Um ponto curioso é a forma com que o mundo espiritual se apresenta para cada um dos profetas, o que nos faz pensar que a personalidade deles, assim como seu conteúdo mental e emocional também eram fatores capazes de interferir na aparência das visões. Foi o que Paulo escreveu em 1 Co 14: 32: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas”. Por exemplo, Jesus pode ser visto por alguém como um cordeiro, um leão, um homem manso e dócil ou um guerreiro. Isso não só depende do que o Senhor quer dar como revelação naquele momento, como também uma forma de respeitar o jeito de ser de cada um, seu crescimento espiritual e sua capacidade emocional de suportar certas imagens ou determinada unção.

João (Ap 4: 6-7) descreve os mesmos seres viventes que Ezequiel (Ez 1: 1-14; Ez 10: 14-15). Os seres viventes têm a aparência de leão, novilho, homem e águia, e são símbolos dos querubins que cercam o trono de Deus. A diferença é que João diz que cada um deles tem rostos diferentes, ao passo que Ezequiel vê as quatro faces nos quatro querubins (Ez 1: 6,10; Ez 10: 14).

João e Isaías dizem que esses seres têm seis asas e Isaías os chama de ‘serafins’ (Is 6: 2: “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava”). Ezequiel disse que tinham quatro asas (Ez 1: 6; Ez 10: 14; 21).

Segundo o profeta Isaías na sua visão do trono de Deus descrita em Is 6: 1-13, os serafins estavam diante do trono e tinham uma forma humana (“rosto”, “pés”), ainda que se dispusessem de seis asas, e repetiam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; a terra inteira está cheia de sua glória”. Era tão forte esta ação de adoração que abalava o lugar.

Serafins e Querubins

Por isso, os serafins e os querubins constituem uma ordem de seres angélicos responsáveis por certas funções de vigilância e adoração. Os serafins eram agentes de purificação pelo fogo, segundo os estudiosos hebraicos que procuram ligar o nome serafim à raiz: sãraph = queimar, consumir com fogo. Eles lideram a adoração no céu e protegem a santidade de Deus.

Semelhantemente, os querubins, em hebraico (kerühbïm, plural de ‘querube’ = celestial) também são seres celestiais e no livro de Gênesis está escrito que tinham a incumbência de guardar o caminho para a árvore da vida [símbolo de Jesus] no jardim do Éden (Gn 3: 24), assim como foram colocados sobre a arca da Aliança (Êx 25: 18-22 e Hb 9: 5) para proteger os objetos sagrados guardados nela (1 Sm 4: 4; 2 Sm 6: 2; 2 Rs 19: 15; Sl 80: 1; Sl 99: 1). No Sl 80: 1, a bíblia diz: “Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor” e no Sl 99: 1 está escrito: “Reina o Senhor; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra”. Em outras palavras, são guardiões do Trono de Deus. Isso também indica que os querubins pertencem a uma classe de anjos com grande força de conhecimento, sabedoria e iluminação divina e que refletem a beleza do Criador. Por isso, se diz que são conhecedores dos mistérios divinos (“cheios de olhos”). Talvez, por esse motivo, Ezequiel os descreve no meio de tanto fogo (= poder e santidade de Deus). O fato de olharem nas quatro direções ao mesmo tempo significa onisciência, percepção completa.

Para entender a visão de Ezequiel precisamos, antes de tudo, entender o contexto do autor. Ezequiel era um sacerdote que viveu no tempo em que os judeus foram exilados na Babilônia. Sendo sacerdote, a sua preocupação principal era com o templo, com a presença de Deus e com a observância da Lei. Portanto, o conteúdo da sua mente estava voltado para as imagens espirituais relacionadas com as coisas sagradas guardadas no templo. Também estava dando uma palavra de incentivo para o povo da Antiga Aliança, agora em cativeiro.

O profeta começa falando sobre um vento tempestuoso que vinha do Norte e uma grande nuvem com fogo, do meio da qual saía a semelhança de quatro seres viventes. O vento tempestuoso, a nuvem e o fogo eram figuras conhecidas dos israelitas desde o tempo de Moisés, pois geralmente YHWH se manifestava na forma de eventos da natureza, como foi com a nuvem que os cobria de dia e a coluna de fogo que os protegia de noite. O importante é que o vento descrito simbolizava a presença do Espírito Santo que emanava do trono, do Norte (pois o Norte na bíblia se refere ao trono de Deus, o que norteia nossa vida), com poder e santidade (fogo). No Pentecostes, Sua presença foi descrita como um vento impetuoso (At 2: 2).


Faces dos Querubins


Ele também diz que os anjos tinham aparência humana, pois menciona mãos e rosto de homem, entretanto, seus rostos não eram apenas de homem; se pareciam, de um lado com um leão, de outro com águia e de outro com boi. O resplendor deles foi descrito como o brilho de bronze polido ou como carvão em brasa, à semelhança de tochas; o fogo corria resplendente por entre eles e do meio do fogo saíam relâmpagos, algo muito parecido com a manifestação divina no monte Sinai. Isso significava um Deus de poder, um Deus temível e temido, que tinha a capacidade de purificar as almas dos homens como o fogo depura o ouro e que era digno de respeito. Antes de estudarmos um pouco o significado dos animais, há ainda uma informação importante sobre os querubins. O nome querubim (celestial, kerühbïm, plural de ‘querube’, em hebraico, como vimos anteriormente) indica uma classe de anjos com grande força de conhecimento, sabedoria e iluminação divina e que refletem a beleza do Criador. Por isso, se diz que são conhecedores dos mistérios divinos (“cheios de olhos”, como diz o profeta). O fato de olharem nas quatro direções ao mesmo tempo significa onisciência, percepção completa.

A palavra querubim, em assírio, é kirubu, expressão que designa um touro alado (símbolo de Adade ou Hadade, ‘o Trovejador’, divindade assíria equivalente a Baal, o deus das tempestades) ou um leão alado (símbolo da deusa Istar) que não só serviam como adorno nas paredes e portas dos templos, mas eram achados aos pares (leões e touros alados), servindo também como guardas postos na entrada dos templos mesopotâmicos. Esse ser híbrido, leão ou touro com rosto de homem, é chamado “shedu” ou “lamassu”. Por estar em cativeiro na Babilônia, terra Mesopotâmica, Ezequiel também pode ter visto os querubins dessa forma devido à influência da cultura local. Por outro lado, como sacerdote, a instrução levítica no seu interior lhe permitia um conhecimento maior e mais voltado à raiz do seu próprio povo do que à idolatria.

O palácio de Senaqueribe, por exemplo, tinha de cada lado das portas principais figuras gigantescas de pedras com cerca de 30 toneladas de peso e em pares, os leões alados ou touros alados com cabeça de homem, que não só serviam como adorno nas paredes, mas também como sentinelas. Em alguns escritos, esse leão representa uma deidade feminina (‘lamassu’). Um nome menos usado é ‘shedu’ (Sumério: dalad; Acadiano, šēdu) que se refere à contraparte masculina de um lamassu. Grandes figuras de lamassu de até quase seis metros de altura podem ser vistas na escultura assíria. Artisticamente, lamassus foram retratados como híbridos, com corpos de touros alados ou leões e cabeças de machos humanos, como símbolo do poder. Eram inicialmente espíritos protetores domésticos do povo comum da Assíria e Babilônia, tornando-se mais tarde como protetores dos reis; por isso foram colocados como sentinelas nas entradas dos palácios.

As seguintes imagens de touros e leões alados foram encontrados na entrada dos palácios dos reis da Assíria.


lamassu, um touro alado
Um touro alado assírio – wikipedia.org

Um lamassu (touro alado) em Ninrode

Imagem acima: Um touro alado no palácio noroeste de Assurbanipal em Ninrode (Ninrude; antiga Calá), um dos principais dos quatro montículos arqueológicos da cidade de Nínive – wikipedia.org.

Quando olhamos as cortinas do Tabernáculo de Moisés (Êx 26: 1-2; 31; 1 Rs 6: 23-28; 2 Cr 3: 10-13) e as paredes do templo de Salomão em algumas imagens, notamos querubins com formas semelhantes à de um leão (pelo menos o corpo) – cf. Ez 41: 18-19 – querubins – ‘leõezinhos’. Coincidência ou não, podemos pelo menos imaginar que desde os tempos antigos, esses animais tinham um simbolismo importante para a humanidade.


Cortinas do pátio externo do Tabernáculo Santo dos Santos do Templo

Cortinas do pátio externo do Tabernáculo e o Santo dos Santos do Templo de Salomão


Um dos lados do rosto dos querubins era a face de homem, simbolizando a inteligência, bem como o livre-arbítrio dado por Deus ao ser humano; de outro lado do rosto aparecia a imagem de leão, simbolizando realeza, autoridade, força, liderança, poder espiritual. O boi simbolizava a força física, o suprimento, a provisão, a riqueza e a abundância, além de ser um animal usado na adoração a Deus. É interessante lembrar que quando Moisés se demorou no Sinai, o povo pediu a Arão que lhe construísse a imagem de um deus que eles pudessem ver; ele, então, fez um bezerro de ouro (Êx 32: 1-10 e 18-24). Aqui, vamos fazer uma parada para um comentário. O povo que saiu do Egito não conhecia ainda o “Deus do Sinai”, nem tinha Suas leis; estavam mais familiarizados com os deuses egípcios. Por isso, podemos pensar que o bezerro de ouro feito por Arão estava relacionado com a idolatria egípcia. Cativos há quatrocentos e trinta anos, mal se lembravam da herança deixada pelos patriarcas, a não ser da terra prometida por Deus a eles. Assim, há duas possibilidades quanto ao bezerro de ouro: a) O deus Ápis (Hapi-anku), personificação da terra e reencarnação de Osíris. Era o touro de Mênfis e estava associado com o deus Ptah, o deus construtor da referida cidade; simbolizava a força do rei (Faraó). b) a deusa Hator, deusa das mulheres, dos céus, do amor, da alegria, do vinho, da dança, da fertilidade e da necrópolis de Tebas, pois acolhia os mortos e velava os túmulos. Era representada como uma vaca com o disco solar entre os chifres ou como uma mulher com cabeça ou com orelhas de vaca, ou ainda como uma mulher de pele amarela e que carrega na cabeça um par de chifres de vaca, entre os quais se encontra um disco vermelho rodeado por uma cobra. Ela segura um bastão bifurcado em uma mão e um sinal de Ankh na outra. O Ankh (pronuncia-se ‘Anak’ em egípcio, e ‘anrr’ nas línguas semitas como hebraico e árabe), representando a vértebra torácica de um touro, vista em corte transversal, era para os egípcios o símbolo da vida, também como símbolo da vida eterna, a vida após a morte. Apesar de sua origem egípcia, ao longo da história o Ankh foi adotado por diversas culturas. Por exemplo, foi mantido mesmo após a cristianização do povo egípcio a partir do século III, quando os cristãos convertidos passaram a ser chamados cópticos. Copta significa ‘egípcio’ e se refere aos egípcios cujos ancestrais abraçaram o cristianismo já no século I. Por sua semelhança com a cruz dos cristãos, o Ankh manteve-se como um dos principais símbolos cópticos, sendo chamado de Cruz Cóptica ou ‘crux ansata’, onde a parte superior foi adaptada para uma forma circular ao invés da forma oval original do antigo Egito (um sincretismo pagão com a cruz de Cristo).

Pela reação dos israelitas descrita na bíblia, é mais provável que estivessem adorando Hator ou os dois (ver Êx 32: 4, onde está escrito: “teus deuses”: “Este [Arão], recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito”). “Teus deuses”, no hebraico, “elohim” (Strong #430), plural de Eloá, pode significar “deuses” (no sentido comum) ou ser um nome usado para o Deus Supremo.


Deusa egípcia Hator Deusa egípcia Hator
Deusa egípcia Hator

Ápis, o touro de Mênfis O bezerro de ouro dos Israelitas


O último animal visto por Ezequiel era a águia, simbolizando a majestade, a capacidade de ver longe, de ter movimentos livres para dominar o espaço, de alcançar grandes alturas, portanto, de chegar às alturas espirituais (espiritualidade). Outra característica interessante na águia é que ela experimenta um processo de renovação física após atingir quarenta anos de idade, muito semelhante ao trabalhar de renovação do Espírito Santo em nós. É a ave que possui maior longevidade, chegando a viver setenta anos. Entretanto, por volta dos quarenta anos, se quiser continuar a viver, precisa passar por um processo de renovação. Ela começa a sentir que suas penas estão ficando velhas, que seu bico já não está tão afiado e forte quanto antes, que suas garras já estão enfraquecendo e, então, decide tomar uma atitude drástica. Esse processo tem início com a interrupção das suas atividades rotineiras como seus vôos, sua caça e suas aventuras. Então, voa alto até os penhascos. Ali, sozinha e isolada, ela começa, por si mesma, o trabalho de renovação, traumático, e que exige muita coragem, mas que, por fim, vai lhe dar de volta a força e a grandeza que pareciam estar perdidas. A águia começa a arrancar com o bico as suas penas, uma por uma, até que esteja inteiramente depenada e desfigurada. Depois disso, percebendo seu bico fraco, impotente e cheio de crostas, ela o esfrega fortemente na rocha deixando-o “em carne viva”. Por último, são as garras; ela faz o mesmo processo que fez com o bico, batendo suas unhas com violência sobre a rocha várias vezes até que aquela camada envelhecida e calosa seja arrancada e fique, igualmente, em “carne viva”. Todavia, após esse processo de autoflagelação começam a nascer penas novas, bonitas e brilhantes; cresce um bico novo; as garras começam a brotar com todo vigor e ela fica completamente renovada e revitalizada. Ela ganha uma nova aparência e desce das alturas para dar continuidade à sua existência.

Ezequiel também diz que as pernas dos querubins eram direitas (NVI: retas), a planta de cujos pés era como a de um bezerro. Isso significa o andar correto (direito), de autoridade, poder e privilégio que lhes foi dado por estarem em obediência e serviço ao Criador e terem por objetivo proteger a santidade e a glória de Deus através da sua adoração constante a Ele. A planta dos pés era como de um bezerro, simbolizando, não apenas a adoração, pois o bezerro era um animal “puro” (limpo) por ser usado nos sacrifícios ao Senhor, e por ter as unhas fendidas e os cascos divididos em dois (Lv 11: 2-3). Isso significava não entrar em contato direto com as coisas terrenas.

Os quatro acampamentos de Israel no deserto

Vamos caminhar ainda mais na palavra de Deus. O simbolismo judaico dos animais vistos por Ezequiel, baseado nos conhecimentos sacerdotais da Antiguidade, associa-os aos quatro acampamentos de Israel no deserto.

Quando os judeus se acamparam no deserto após deixar o Egito, eles foram instruídos a montar quatro acampamentos, um para cada ponto cardeal, com o tabernáculo no centro. Quatro tribos – Judá, Rúben, Efraim e Dã – foram reconhecidas como líderes tribais (Nm 2: 1-34). Cada uma teve seu próprio estandarte ou bandeira que os identificava como cabeça das tribos, enquanto as outras tribos tiveram suas insígnias, uma bandeira menor (Nm 2: 2). Na tenda da congregação ficavam os objetos sagrados e a arca da Aliança, símbolo de Deus entre os homens. Ali o Senhor falava com Moisés.


Acampamento Israelita


O primeiro era chamado o acampamento de Judá e incluía Zebulom e Issacar e se localizava a leste (Nm 2: 3).
O segundo acampamento era encabeçado por Rúben e incluía Simeão e Gade. Eles se localizavam ao sul do tabernáculo (Nm 2: 10).
O terceiro acampamento era chamado de Efraim e incluía Manassés e Benjamim. Posicionava-se a oeste (Nm 3: 18).
O quarto acampamento era o de com Aser e Naftali incluídos, e se localizava ao norte (Nm 2: 25).

Segundo essa linha de pensamento, quando Deus olhasse para baixo veria o acampamento de Israel com o tabernáculo no centro e os quatro sub-acampamentos ao redor dele como os querubins à Sua volta.

Mas que tipo de similaridade Ezequiel estaria vendo entre as faces dos querubins e as tribos? Teria algo a ver com os estandartes dessas tribos? A não ser por Judá, que mostrava um leão em sua bandeira, todos os outros estandartes eram diferentes dos animais apresentados pelo profeta. Quando pesquisamos a imagem original desses estandartes, o que encontramos é o seguinte:



Estandarte de Judá Estandarte de Zebulom Estandarte de Issacar

Estandarte de Rúben Estandarte de Simeão Estandarte de Gade

Estandarte de Efraim (José) Estandarte de Manassés Estandarte de Benjamim

Estandarte de Dã Estandarte de Naftali Estandarte de Aser

Abaixo está a tribo de Levi (tribo separada para o sacerdócio) e o estandarte da nação de Israel como um todo.


Estandarte de Levi Estandarte de Israel


Agora, vamos nos lembrar das bênçãos de Jacó, especificamente sobre essas quatro tribos:
• Gn 49: 1-28 (as bênçãos de Jacó sobre seus filhos): “Depois, chamou Jacó a seus filhos e disse: Ajuntai-vos, e eu vos farei saber o que vos há de acontecer nos dias vindouros: Ajuntai-vos e ouvi, filhos de Jacó; ouvi a Israel, vosso pai. Rúben, tu és meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito do teu pai e o profanaste; subiste à minha cama [ele se referia ao fato de Rúben coabitar com sua concubina]. Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre a minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros [ele se referia à traição de Simeão e Levi, matando os homens de Hamor, pai de Siquém, com quem a filha de Jacó, Diná, tinha casado. O povo de Hamor tinha feito um pacto de se unir com Jacó e por isso, circuncidaram todos os do sexo masculino; entretanto, enquanto estavam sarando das feridas no acampamento, Simeão e Levi foram até lá e mataram todos eles – Gn 34: 1-31]. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. Judá, teus irmãos te louvarão; a tua mão estará sobre a cerviz dos teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Judá é leãozinho; da presa subsiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de em entre seus pés, até que venha Siló*; e a ele obedecerão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará as suas vestes no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os dentes, brancos de leite. Zebulom habitará na praia dos mares e servirá de porto aos navios, e o seu limite se estenderá até Sidom. Issacar é jumento de fortes ossos, de repouso entre os rebanhos de ovelhas. Viu que o repouso era bom e que a terra era deliciosa; baixou os ombros à carga e sujeitou-se ao trabalho servil. Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os talões do cavalo e faz cair o seu cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó Senhor! Gade, uma guerrilha o acometerá; mas ele a acometerá por sua retaguarda. Aser, o seu pão será abundante e ele motivará delícias reais. Naftali é uma gazela solta; ele profere palavras formosas. José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o aborrecem. O seu arco, porém, permanece firme, e seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com as bênçãos dos altos céus [espirituais], com bênçãos das profundezas [emocionais], com bênçãos dos seios e da madre [materiais]. As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais até ao cimo dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos. Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o despojo. São estas as doze tribos de Israel; e isto lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia”.

(*) “Até que venha Siló”. Foi em Siló que a tenda da congregação foi armada nos primeiros dias depois da conquista da Terra Prometida (Js 18: 1), e foi esse o principal santuário dos israelitas durante o tempo dos juízes (Jz 18: 31). Pelo tempo de Eli (o sacerdote) e seus filhos, o santuário já se tornara uma estrutura bem estabelecida de adoração centralizada. Depois de Siló, a arca da Aliança mudou várias vezes de lugar, pois foi roubada pelos inimigos (filisteus), até ser transferida para Baalim de Judá, também chamada de Quiriate-Jearim ou Quiriate-Baal (Js 18: 14; 1 Sm 7: 1-2; 1 Cr 13: 5) para a casa de Abinadabe e seus filhos, Uzá e Aiô (2 Sm 6: 2-3); dali foi para casa de Obede-Edom (provavelmente um filisteu de Gate e que morava perto de Jerusalém – 2 Sm 6: 10; 1 Cr 13: 13-14; 1 Cr 15: 25 – segundo: “O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995”), de onde Davi (como rei) a tomou e a levou até Sião, a cidade de Davi, até conquistar seu lugar definitivo no templo de Jerusalém construído por Salomão (o povo sacrificava no altar do holocausto colocado no alto em Gibeão – 1 Cr 16: 39; 1 Cr 21: 29; 2 Cr 1: 3-5 – mas a arca ficou em Jerusalém, numa tenda que Davi construiu para ela: 1 Cr 15:1; 1 Cr 16:1; 37-39; 2 Cr 1: 3-5; 1 Rs 3: 4; 15). A expressão usada por Jacó: “até que venha Siló”, em referência a Judá, em hebraico: ‘adh kï-yãbhô’ shïlõh, pode ser traduzida de várias maneiras. As duas mais cabíveis a meu ver são: 1) “Até que ele [em referência a Judá] venha a Siló”, cumprindo o que está escrito em Js 18: 1, quando, numa reunião, a tribo nobremente rejeitou a proeminência que havia desfrutado anteriormente (na peregrinação pelo deserto). 2) Emendando-se shïlõh para shellõh e traduzindo a frase como faz a Septuaginta (a versão grega do AT), “até que aquilo que é dele venha”, isto é, “as coisas reservadas para ele”, talvez aqui seja uma referência a Davi ou uma referência messiânica [ele = Jesus].

• 1 Cr 5: 1-2: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois era o primogênito, mas, por ter profanado o leito de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que, na genealogia, não foi contado como primogênito. Judá, na verdade, foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o príncipe [Davi; Jesus]; porém, o direito da primogenitura foi de José)”.
• Jr 31: 9 b: “porque sou pai para Israel, e Efraim é o meu primogênito”.

Podemos notar que as chamadas bênçãos de Jacó sobre os filhos, são, na verdade, a descrição da personalidade de cada um deles que já estavam sendo exercidas, alguns filhos pelo próprio significado dos seus nomes, pois foram recebidos segundo uma situação entre Jacó, Lia e Raquel; outros filhos adquiriram o comportamento acima descrito por Jacó devido à necessidade em que se encontraram, não necessariamente pela má índole nos seus corações, como foi o caso de Simeão e Levi. Na verdade, eles estavam tomando uma atitude de precaução para proteger a família. Podemos até imaginar que eles sentiram pelo seu espírito que não era da vontade de Deus a união com aqueles incircuncisos (Gn 34: 14 e 31). Simeão ouviu a voz de Deus dentro de si, e Levi, por estar unido e aderido (significado dos seus nomes) às leis que conhecia através de Abraão, também não concordou com aquele acordo, tampouco com a atitude covarde e egoísta de Jacó, pensando mais em si mesmo do que na família ou em Diná, a filha violentada: “Então, disse Jacó a Simeão e a Levi: Vós me afligistes e me fizestes odioso entre os moradores desta terra, entre os cananeus e os fereseus; sendo nós pouca gente, reunir-se-ão contra mim, e serei destruído, eu e minha casa” (Gn 34: 30). Embora tenha mencionado sua casa, os pronomes foram colocados em primeira pessoa do singular: eu, me, mim e minha.

Os significados dos nomes são os seguintes:
• Rúben, 1º – Re’ubhen, ou Rã’â be‘onÿi que significa: ‘o Senhor olhou para minha aflição’ ou ‘eis um filho’. Texto bíblico: Gn 29: 32b: “O Senhor atendeu à minha aflição. Por isso agora me amará meu marido” (Lia disse).
• Simeão, 2º – Shim‘ôn = ‘Deus ouviu, aquele que ouve’. Texto bíblico: Gn 29: 33 b: “Soube o Senhor que era preterida e me deu mais este; chamou-lhe, pois Simeão” (pois Deus ouvira a súplica de Lia).
• Levi, 3º – Lewi, da raiz lãwâ = juntar, portanto, Levi = unido, ligado, aderido. Texto bíblico: Gn 29: 34b: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos; por isso, lhe chamou Levi” (Lia disse).
• Judá, 4º – Yehüdhâ = louvado, celebrado, festejado em louvor (ydh) ao Senhor. Texto bíblico: Gn 29: 35b: “Esta vez louvarei o Senhor. E por isso lhe chamou Judá; e cessou de dar á luz” (Lia).
• Dã, 5º – Dãn = Deus me julgou, Deus é juiz. Texto bíblico: Gn 30: 6: “Então, disse Raquel: Deus me julgou, e também me ouviu a voz, e me deu um filho; portanto, lhe chamou Dã” (de sua serva Bila).
• Naftali, 6º – Naphtãlï = lutador, pois “Disse Raquel: Com grandes lutas tenho competido com minha irmã e logrei prevalecer; chamou-lhe, pois Naftali” (filho de Bila, serva de Raquel). Texto bíblico: Gn 30: 8.
• Gade, 7º = boa sorte, afortunado. Texto bíblico: Gn 30: 11: “Disse Lia: Afortunada! E lhe chamou Gade” (Zilpa, sua serva concebeu de Jacó).
• Aser, 8º – ’ãsher = feliz, bem-aventurado, tesouro. Texto bíblico: Gn 30: 13: “Então, disse Lia: É a minha felicidade! Porque as filhas me terão por venturosa; e lhe chamou Aser” (filho de Zilpa, serva de Lia).
• Issacar, 9º – ’ïsh = homem e sãkhãr = salário, portanto, ‘trabalhador alugado’, pois Lia comprou de Raquel o direito de coabitar com Jacó por um punhado de mandrágoras (Gn 30: 14-16). Texto bíblico: Gn 30: 18: “Então, disse Lia: Deus me recompensou, porque dei a minha serva [no caso do filho anterior, Aser, pois Issacar foi filho legítimo de Lia] a meu marido; e chamou-lhe Issacar”.
• Zebulom, 10º, do acadiano Zabalu = exaltar (Acade, região da Suméria, uma das designações dadas à metade norte do Iraque, para cima de Bagdá). Texto bíblico: Gn 30: 20: “E disse: Deus me concedeu excelente dote; desta vez permanecerá comigo meu marido, porque lhe dei seis filhos; e lhe chamou Zebulom” (Lia).
• Diná, única mulher, dïnâ = inocente, absolvida, julgada. Texto bíblico: Gn 30: 21: “Depois disto, deu à luz uma filha e lhe chamou Diná” (Lia).
• José, 11º, originado do verbo Yãsaph = adicionar, portanto, yôseph = que Deus adicione (filhos), pois Raquel pediu a Deus que lhe desse outro filho. Jacó tinha por volta de 91 anos quando nasceu José. Texto bíblico: Gn 30: 23-24: “Ela (Raquel) concebeu, deu à luz um filho e disse: Deus me tirou o meu vexame. E lhe chamou José, dizendo: Dê-me o Senhor ainda outro filho”.
• Benjamim, 12º, Binyãmïn = filho da minha mão direita. Texto bíblico: Gn 35: 18: “Ao lhe sair a alma (porque morreu), deu-lhe o nome de Benoni (filho da minha aflição [Raquel deu]); mas seu pai lhe chamou Benjamim”.

Símbolos das tribos

Tribos Símbolos
Judá leão
Zebulom porto de navios
Issacar jumento entre rebanhos de ovelhas
Rúben mandrágora e face de homem
Simeão espada
Gade tropa de cavalo (cavalo = guerra)
Efraim (José) ramo frutífero
Benjamim lobo
serpente
Naftali gazela
Aser pão / oliveira (Dt 33: 24-25)
Levi Arca da Aliança (Dt 33: 8)


Insígnia de Rúben Insígnia de Simeão Insígnia de Levi
Insígnia de Judá Insígnia de Dã Insígnia de Naftali
Insígnia de Gade Insígnia de Aser Insígnia de Issacar
Insígnia de Zebulom Insígnia de José Insígnia de Benjamim

De acordo com o que lemos acima, os símbolos (insígnias) das tribos não são propriamente o que se vê nos estandartes, mas acompanham as bênçãos de Jacó, o significado dos nomes ou, então, no caso de Levi, a separação que lhe foi dada por Deus para cuidar das coisas sagradas (por isso a arca da Aliança no estandarte – cf. bênção de Moisés – Dt 33: 8); no caso de , a característica era a da serpente (no símbolo) e a balança (no estandarte). Outro comentário: a mandrágora era considerada uma planta afrodisíaca, por isso Raquel pediu as mandrágoras que estavam nas mãos de Rúben, filho de Lia, para ver se conseguia conceber um filho de Jacó. Assim, o símbolo de Rúben é a mandrágora e face de homem (Gn 30: 14-16), pois sua raiz se assemelha ao tronco de um corpo humano (sem os membros). Entretanto, não vemos isso nem no estandarte nem na insígnia, o que nos leva ao próximo raciocínio.

Por exemplo: quando Jacó se refere a Simeão, ele fala de espada. Podemos vê-la no estandarte, mas não há explicação para o que se vê no símbolo (insígnia). Quanto a Issacar, Jacó diz que ele é um jumento entre os rebanhos de ovelhas, mas não vemos isso nem no estandarte nem na insígnia. Outro exemplo: sobre Gade nós dissemos que, segundo as palavras de Jacó, seu símbolo seria o de uma tropa de cavalos, mas é difícil identificar isso na insígnia. O que vemos no estandarte é mais provavelmente uma imagem do significado do seu nome: ‘boa sorte, afortunado’, pois era uma tribo gozava do bem-estar e da abundância. Quanto a Aser, Jacó fala de pão, o que nos faz pensar que se tratava de uma tribo próspera. Seu nome significa ‘feliz, bem-aventurado, tesouro’. O que vemos na insígnia se parece mais com um ramo de oliveira, lembrando a bênção de Moisés em Dt 33: 24-25: “De Aser disse: Bendito seja Aser entre os filhos de Jacó, agrade a seus irmãos e banhe em azeite o pé. Sejam de ferro e de bronze os teus ferrolhos, e, como os teus dias, durará a tua paz”. Em relação a Manassés, só o que podemos ver no estandarte é um animal parecido com um boi, visto pelas costas, o que também nos fala de abundância, suprimento, provisão e adoração, como vimos pela sua posição a oeste do acampamento.

Tudo isso pode nos levar à seguinte pergunta:
— Com essas aparentes contradições de simbolismo, o que chegou até nós como informação seria exatamente o que era nos tempos de Moisés ou foi corrompido ao longo dos séculos? Essas eram as imagens reais dos estandartes e das insígnias ou isso veio depois, criado por homens, inspirados no misticismo da Cabala (A vertente mística do Judaísmo)?

Estou dizendo isso porque podemos notar em todos os símbolos o hexagrama conhecido como ‘Estrela de Davi’, que não tem nada a ver com a bíblia. A explicação para a Estrela de Davi não é proveniente de nenhum relato bíblico a respeito de Davi. Na verdade, o hexagrama não era inicialmente um símbolo exclusivamente judaico. O símbolo bíblico de Israel dado por Deus sempre foi a Menorá (o candelabro de sete lâmpadas). É interessante que algumas fontes de pesquisa dizem que a estrela de Davi já existia desde os tempos da Suméria e esteve sempre presente em várias religiões como o Hinduísmo, Budismo, Islamismo, Fé Bahá’í (*), Nova Era, Maçonaria e todas as artes de feitiçaria e ocultismo. (*) A Fé Bahá’í é uma religião monoteísta fundada por Bahá’u’lláh, um nobre persa que viveu no século XIX. Os seus ensinamentos afirmam que existe um único Deus e que todas as grandes religiões mundiais têm a mesma origem divina.

O hexagrama, porém, sendo uma construção geométrica simples, foi utilizado ao longo da história da humanidade para fins que não eram exclusivamente religiosos (idólatras ou místicos), e sim como um simples motivo decorativo nas sinagogas antigas na terra de Israel datadas da época do Segundo Templo e em algumas sinagogas depois da destruição da nação pelos romanos, até o século IV DC, e nas igrejas cristãs da região da Galiléia.

A adoção da Estrela de Davi como um símbolo distintivo para o povo judeu e o Judaísmo começou na Idade Média. Em 1354, o rei Carlos IV da Boêmia permitiu à comunidade judaica de Praga de ter sua própria bandeira. Os judeus, então, confeccionaram a Estrela de Davi em ouro sobre um fundo vermelho. A bandeira passou a ser usada tanto em sinagogas, como no selo oficial da comunidade quanto em livros impressos.

Após a Batalha de Praga em 1648 contra o cerco da cidade por tropas protestantes suecas (durante a guerra dos 30 anos – 1618-1648), alguns jesuítas vienenses a pedido de Fernando III, Imperador Romano-Germânico e Arquiduque da Áustria (1637-1657), ofereceram uma bandeira de honra com o mesmo símbolo aos Judeus de Praga (capital da República Tcheca), em reconhecimento à sua contribuição para a defesa da cidade. Essa bandeira mostrava um hexagrama dourado sobre fundo vermelho.

O hexagrama (sem o círculo) foi adotado pela Organização Sionista como um símbolo para a bandeira de Israel em 1897, antes do seu uso na Maçonaria. Alguns ocultistas afirmam que esta figura, composta por dois triângulos entrelaçados, um de cabeça para baixo, é um dos símbolos mais poderosos na prática da magia. O hexagrama quando circundado aumenta seu poder e significado. É também conhecido como o ‘Selo de Salomão’ no misticismo cabalístico.

Resumindo: a Estrela de Davi pode ser ou não um motivo de “preocupação espiritual”, dependendo do uso que se faz dela.

Sim, as insígnias vieram com a Cabala e outras filosofias. O que podemos dizer diante de tudo isso? Não seria melhor permanecer na simplicidade da palavra de Deus escrita nas Escrituras? A atitude dos doze filhos de Jacó já não seria suficiente, como eu disse no início, para explicar o simbolismo dos animais vistos por Ezequiel?

Vamos prosseguir com nosso raciocínio:

Judá recebeu o direito de liderar todos os seus irmãos (1 Cr 5: 1-2), pois dessa tribo viria o Messias, e Jacó o chamou de Leão, não só em referência ao Leão de Judá, Jesus, mas porque para liderar um povo e estar na presença de Deus é necessário autoridade, força e poder espiritual, representados pela figura do leão.

• A segunda tribo separada foi a de Rúben, justamente o que profanou o leito de Jacó, coabitando com sua concubina (Gn 35: 22: “E aconteceu que, habitando Israel [Jacó] naquela terra, foi Rúben e se deitou com Bila, concubina de seu pai; e Israel o soube. Eram doze os filhos de Israel”), mesmo correndo o risco de perder o direito da primogenitura por causa disso, como de fato perdeu. Bila era serva de Raquel, mulher de Jacó, da qual nasceram os outros irmãos de Rúben: Dã e Naftali. Assim, podemos dizer que Rúben é o símbolo do rosto de homem visto nos querubins, pois o livre-arbítrio dado ao homem no Éden estava ali e Rúben o exerceu, deixando prevalecer a natureza carnal; usou mal a inteligência que recebeu do Senhor. Além disso, existe a referência acima à mandrágora.

• A terceira tribo separada é a de Efraim. Da mesma forma que José não era o primogênito de Jacó, mas recebeu o direito da primogenitura (1 Cr 5: 1-2 e Jr 31: 9 b, como vimos acima), Efraim não era o primogênito de José, e sim Manassés, porém, teve do avô a bênção do primogênito, ou seja, a porção dobrada das bênçãos do seu irmão (Gn 48: 11-22). Por isso, Jacó disse em Gn 49: 22-26: “José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o aborrecem. O seu arco, porém, permanece firme, e seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com as bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre. As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais até ao cimo dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos”. Quando Jacó menciona as bênçãos dos altos céus, ele se refere às bênçãos espirituais. Quando fala sobre as bênçãos das profundezas, se refere à vida emocional e, quando diz “bênçãos dos seios e da madre” está se referindo às bênçãos materiais (seios = leite = alimento, e madre = útero, de onde se gera a vida física. NVI: fertilidade e fartura). Juntando essas informações podemos dizer que seu símbolo visto por Ezequiel é o boi porque o boi simboliza a força física, o suprimento, a provisão, a riqueza e a abundância, além de ser um animal usado na adoração a Deus. Mais uma informação importante sobre a prosperidade de Efraim: foi uma das tribos mais populosas (Gn 48: 19) e com grande poder militar (Nm 2: 18-19: “O estandarte do arraial de Efraim, segundo as suas turmas, estará para o lado ocidental; e Elisama, filho de Amiúde, será príncipe dos filhos de Efraim. E o seu exército, segundo o censo, foram quarenta mil e quinhentos”).

• Em último lugar aparece a tribo de [‘Deus me julgou’, ‘Deus é juiz’, Gn 30: 6: “Então, disse Raquel: Deus me julgou, e também me ouviu a voz, e me deu um filho (de sua serva Bila); portanto, lhe chamou Dã”]. Jacó disse (Gn 49: 16-17): “Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os talões do cavalo e faz cair o seu cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó Senhor!” Quanto ao v.16, poderia estar se referindo a Sansão, que foi juiz de Israel pela tribo de Dã? Quanto ao v.17, poderia ser um alusão dessa tribo na idolatria que causou a queda de Israel como nação (Jz 18: 30-31; mais tarde abrigando o bezerro de Jeroboão – 1 Rs 12: 29)? Isso mostra que nunca foi uma tribo com proeminência espiritual.

Nós podemos ver no seu estandarte a balança da justiça, de acordo com a palavra profetizada de Jacó de que Dã julgaria seus irmãos, ao mesmo tempo em que a astúcia e a traição (serpente) poderiam distorcer essa justiça. Ao permitir essa face de serpente prevalecer, estaria pondo à parte o seu lado de águia (uma ave que devora a serpente, pois não têm medo dela). Se ele estivesse disposto a se renovar como uma águia, a deixar que o Senhor mudasse seu interior e transformasse sua carne, poderia estar olhando diretamente para o Norte, para a face de Deus. Como vimos, a águia, simboliza a majestade, a renovação, a capacidade de ver longe, de ter movimentos livres para dominar o espaço, de alcançar grandes alturas, portanto, de chegar às alturas espirituais (espiritualidade).

Rememorando: Um dos lados do rosto dos querubins era a face de homem, simbolizando a inteligência e o livre-arbítrio dado por Deus ao homem; de outro lado do rosto aparecia a imagem de leão, simbolizando realeza, autoridade, liderança, força, poder espiritual. O boi simbolizava a força física, o suprimento, a provisão, a riqueza e a abundância, além de ser um animal usado na adoração a Deus; em outras palavras, a obediência e o serviço a Ele. O último animal era a águia, simbolizando a longevidade, a capacidade de ver longe, de se renovar, de ter movimentos livres para dominar o espaço e de alcançar grandes alturas, portanto, de chegar às alturas espirituais (espiritualidade). Podemos dizer que estas eram as qualidades dadas por Deus às quatro ordens de tribo que Ele via sempre diante de si através dos querubins. Entretanto, dois de Seus filhos distorceram essas qualidades usando-as pelo lado oposto, o negativo. Apenas Judá e Efraim pareceram usá-las adequadamente.

Chegamos agora ao ponto em que podemos adicionar mais uma informação sobre os pontos cardeais mencionados na bíblia e, logicamente, explicar melhor o posicionamento das tribos e das faces dos querubins. O paralelo vai ser com a nossa vida cristã. O Norte, na bíblia, significa: o trono de Deus, o que norteia nossa vida, Sua palavra e Sua vida plena para nós. O Sul significa: a nossa própria vida, nossa humanidade e imperfeição, em confronto com a majestade e plenitude de Deus. O Ocidente significa: o mundo material, as coisas naturais, o antigo; e o Oriente, o mundo espiritual, as coisas espirituais.

Para liderar o clã de Israel, Judá precisaria ser um leão, olhando para o oriente, estando, portanto, atento ao mundo espiritual, de onde viria a glória de Deus para supri-lo (a entrada do tabernáculo e do templo era voltada para o Oriente). A segunda face é a do homem, representado pela tribo de Rúben, que estava ao sul do arraial. Como foi dito, o sul significa a nossa própria vida, nossa humanidade e imperfeição, em confronto com a majestade e plenitude de Deus. Foi o que Rúben fez: deixou seu livre-arbítrio pender para o lado da sua humanidade, para a sua pequenez. Efraim recebeu a grande bênção de ser populoso e suprido, especialmente na vida material, por isso a face voltada para o ocidente, para o material, como um boi, símbolo da força física (o poder militar da tribo), do suprimento, da provisão, da riqueza e da abundância, além de ser um animal usado na adoração a Deus. Apesar da abastança em que foi colocado, ele não poderia deixar de ser um adorador, de agradecer a Deus por tê-lo abençoado (é uma pena que séculos mais tarde se voltou para a idolatria. Efraim, uma parte das dez tribos do Norte lideradas por Jeroboão, adorou a imagem de um bezerro: 1 Rs 12: 25-33). E o último animal é a águia, símbolo de longevidade, espiritualidade, de renovação, de majestade, de capacidade de ver longe, de ser livre. O Norte significa o trono de Deus, o que norteia nossa vida, Sua palavra e Sua vida plena para nós. Concluindo, rejeitou essa bênção e preferiu olhar para o lado oposto (o do mal, ao invés do bem e da glória de Deus), usando da astúcia e da traição.

Depois que Ezequiel descreveu os rostos dos querubins, ele descreveu carros e rodas, sobre as quais os anjos se moviam. Além de tudo o que já dissemos sobre eles, os querubins constituíam um tipo de carruagem divina, como é descrito no livro de Salmos e 2 Samuel:
• Sl 18: 10: “E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento”.
• 2 Sm 22: 11: “E subiu sobre um querubim, e voou; e foi visto sobre as asas do vento”.

Na visão de Ezequiel esses animais eram atrelados a um carro e se movimentavam com grande rapidez (“os seres viventes ziguezagueavam à semelhança de relâmpagos”). Considerando esses elementos, pode-se concluir que se trata da visão do carro de Deus, símbolo da Sua autoridade espiritual agindo em nosso favor, como o que Eliseu viu no momento que Elias foi arrebatado (“O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, tomando as suas vestes, rasgou-as em duas partes” – 2 Rs 2: 12) ou o que o moço de Eliseu viu quando este orou pedindo ao Senhor que abrisse seus olhos para ver a proteção dos anjos de Deus ao seu redor durante a guerra contra os siros (2 Rs 6: 17: “Orou Eliseu e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”). A expressão “carros de fogo” simboliza, com certeza, a autoridade e o poder de Deus, Sua presença majestosa se manifestando em toda a glória a favor dos Seus filhos. A mensagem que a visão de Ezequiel quis transmitir com os carros (carruagens) foi destinada, sobretudo, aos judeus levados ao exílio, ou seja, a presença de Deus os acompanhava ali. Os judeus acreditavam que o Senhor só estava presente no templo, através da arca da Aliança, porém o profeta lhes trouxe a revelação de que Deus se movimentava espiritualmente, aonde Seu povo fosse, como foi no passado, no deserto. Ezequiel também diz: “ouvi o estrondo tumultuoso, como o tropel de um exército. Parando eles, abaixavam as asas”, o que vem corroborar a idéia que o Senhor se faz acompanhar de um exército de seres angélicos, como Seus guerreiros e mensageiros.

Conclusão

Em relação à visão que Ezequiel teve dos querubins podemos dizer:
1) Querubins, em hebraico kerühbïm, plural de ‘querube’ = celestial, são seres celestiais e no livro de Gênesis está escrito que tinham a incumbência de guardar o caminho para a árvore da vida no jardim do Éden, assim como foram colocados sobre a arca da Aliança para proteger os objetos sagrados guardados nela, o que se resume numa função de vigilância e adoração. Também indica uma classe de anjos com grande força de conhecimento, sabedoria e iluminação divina e que refletem a beleza do Criador. Por isso, se diz que são conhecedores dos mistérios divinos (“cheios de olhos”).
2) Os querubins tinham quatro faces: de homem, de leão, de boi e de águia.
3) O simbolismo judaico desses animais, baseado nos conhecimentos sacerdotais da Antiguidade, associa-os aos quatro acampamentos de Israel tendo quatro tribos como líderes: Judá, Rúben, Efraim e Dã. Ao leste: Judá, Zebulom e Issacar. Ao sul, Rúben, Simeão e Gade. Ao oeste: Efraim, Manassés e Benjamim. Ao norte: Dã, Naftali e Aser.
4) A explicação pode ser encontrada nas bênçãos de Jacó sobre essas quatro tribos:
• Judá recebeu o direito de liderar seus irmãos, mas para liderar e estar na presença de Deus é necessário a autoridade, a força e o poder espiritual, representados pela figura do leão.
• Rúben profanou o leito de Jacó, coabitando com sua concubina, por isso o rosto de homem, símbolo da inteligência e do livre-arbítrio que lhe foram dados por Deus, entretanto, usados de maneira errada por Rúben.
• Efraim (representando José – Gn 49: 22-26, nas bênçãos de Jacó) teve a bênção da primogenitura mesmo sem ser o primogênito. Suas bênçãos foram espirituais, emocionais e materiais. Seu símbolo é o boi: força física, suprimento, provisão, riqueza, abundância e adoração a Deus.
• Dã: seu estandarte consta de uma balança, a balança da justiça, de acordo com a palavra profetizada de Jacó de que Dã julgaria seus irmãos, ao mesmo tempo em que a astúcia e a traição poderiam distorcer essa justiça. Ao permitir essa face de serpente (também um dos símbolos dessa tribo) prevalecer, pôs à parte o seu lado de águia (uma ave que devora a serpente, pois não têm medo dela) e não se renovou; não deixou que o Senhor mudasse seu interior levando-o a olhar diretamente para o Norte, para a face de Deus.
5) Pontos cardeais em paralelo com a nossa vida cristã: Norte = o trono de Deus, o que norteia nossa vida, Sua palavra e Sua vida plena para nós (por isso a águia como símbolo de majestade, espiritualidade). Sul = nossa própria vida, nossa humanidade e imperfeição, em confronto com a majestade e plenitude de Deus (por isso o símbolo do homem). Ocidente = mundo material, as coisas naturais (por isso a imagem do boi como símbolo de riqueza, fartura, abundância e força física). Oriente = o mundo espiritual, as coisas espirituais (por isso o leão como símbolo de poder, autoridade e liderança espiritual).
6) Carros e rodas – carro de Deus – Sua autoridade espiritual e poder agindo em nosso favor – a presença de Deus nos acompanha aonde formos.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Curiosidades e revelações

Curiosidades e revelações (PDF)

Curiosities and Revelations (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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