O profeta e sacerdote Ezequiel foi levado cativo para Babilônia (597 AC). Em Tel-Abibe perto do rio Quebar começaram as suas visões. Profetizou e reanimou os que estavam com ele no exílio. Estudo especial sobre Ez 4: 1-17; Ez 16: 1-14 e Ez 47: 1-12.
The prophet and priest Ezekiel was taken captive to Babylon (597 BC). In Tel-Abib near the river Chebar his visions began. He prophesied and revived those who were with him in exile. Special study on Ezek. 4: 1-17; Ezek. 16: 1-14 and Ezek. 47: 1-12.
A História fala sobre três etapas do exílio de Judá: 605, 597, 586 AC.
Ezequiel era sacerdote. Período profético: 592-571 AC. Seu nome provém do hebraico Yehezqe’l ou Jeezquel, ‘Deus fortalece’. Filho de Buzi, Ezequiel foi deportado para a Babilônia em 597 AC (Ez 1: 1-2; 2 Cr 36: 9-10; 2 Rs 24: 14-17 – exílio de Joaquim ou Jeconias, rei de Judá) e se estabeleceu na vila de Tel-Abibe perto do rio Quebar. Cinco anos mais tarde recebeu sua chamada como profeta (Ez 1: 2), provavelmente com trinta anos de idade (Ez 1: 1). Em Quebar começaram suas visões proféticas para os que estavam com ele no exílio, tentando reanimá-los, dizendo que Deus os levaria de volta à sua terra. Temas principais do seu livro:
1) Advertências do juízo vindouro sobre Jerusalém por causa do seu pecado (a terceira etapa do exílio, e a mais devastadora).
2) Promessas de juízo sobre outras nações.
3) Palavras de esperança para o futuro de Israel.
4) Visão do novo templo e do país restaurado.
Segundo a bíblia, sua esposa morreu subitamente no dia que Nabucodonosor investiu contra Jerusalém (Ez 24: 1-2; 15-18; 21-24; 2 Rs 25: 1-2), ou seja, sitiou a cidade: 10º dia do 10º mês (Tebete: Dezembro–Janeiro) do 9º ano do reinado do rei Zedequias. O estado de sítio durou mais ou menos 1 ano e meio (2 Rs 25: 2-3). No 9º dia do 4º mês (Tamuz: Junho–Julho) do 11º ano do reinado do rei Zedequias, ela foi arrombada e o rei foi levado cativo (2 Rs 25: 3-4; Jr 39: 2-7; Jr 52: 4-12). No 7º dia do 5º mês (’Abh: Julho–Agosto) do 19º ano de Nabucodonosor (586 AC – 2 Rs 25: 8 – 1 mês depois do exílio de Zedequias) Jerusalém foi completamente arrasada, incluindo o templo do Deus de Israel. A morte da esposa de Ezequiel foi também um sinal de Deus para o povo, que não deveria se lamentar ou prantear o exílio, mas se conformar com a decisão do Senhor. Não há menção de filhos.
O primeiro retorno dos exilados a Jerusalém só se deu em 538 AC.
Uma das primeiras visões de Ezequiel foi a dos quatro querubins e da glória de Deus, que tornou claro o seu chamado como profeta (Ez 1 a 3 – ver link).
Da mesma forma que com Jeremias, Deus usou algumas vezes com Ezequiel a dramatização, para o aprendizado ser entendido como um sinal do que Ele estava fazendo ou viria a fazer ao Seu povo.
Uma delas é o tijolo (Ez 4: 1-17), simbolizando o cerco de Jerusalém; outra foi o da espada (Ez 5: 1-4), representando o destino da nação: uns morreriam pela fome ou queimados na cidade, que seria tomada pelos babilônios; outros seriam mortos à espada, outros seriam espalhados entre as nações; destes, uns seriam poupados, outros seriam mortos longe de sua pátria.
Antes de falarmos sobre os quatro temas principais do seu livro, vamos voltar ao parágrafo acima, pois se trata de uma das suas encenações mais dramáticas, ou seja, o tijolo como símbolo do cerco de Jerusalém pelos babilônios. A História marca o ano de 538 AC como o final do exílio na Babilônia. Ezequiel foi deportado para lá em 597 AC. Vamos começar com o texto bíblico de Ez 4: 1-17 (ARA):
1 Tu, pois, ó filho do homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti e grava nele a cidade de Jerusalém.
2 Põe cerco contra ela, edifica contra ela fortificações, levanta contra ela tranqueiras e põe contra ela arraiais e aríetes em redor.
3 Toma também uma assadeira de ferro e põe-na por muro de ferro entre ti e a cidade; dirige para ela o rosto, e assim será cercada, e a cercarás; isto servirá de sinal para a casa de Israel.
4 Deita-te também sobre o teu lado esquerdo e põe a iniquidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás sobre ti a iniquidade dela [NVI: Deite-se então sobre o seu lado esquerdo e sobre você ponha a iniquidade da nação de Israel. Você terá que carregar a iniquidade dela durante o número de dias em que estiver deitado sobre o lado esquerdo].
5 Porque eu te dei os anos da sua iniquidade, segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias; e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Israel [NVI: Determinei que o número de dias seja equivalente ao número de anos da iniquidade dela, ou seja, durante trezentos e noventa dias você carregará a iniquidade da nação de Israel].
6 Quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Judá.
7 Quarenta dias te dei, cada dia por um ano. Voltarás, pois, o rosto para o cerco de Jerusalém, com o teu braço descoberto, e profetizarás contra ela [NVI: durante quarenta dias, tempo que eu determinei para você, um dia para cada ano. Olhe para o cerco de Jerusalém e, com braço desnudo, profetize contra ela].
8 Eis que te prenderei com cordas; assim não te voltarás de um lado para o outro, até que cumpras os dias do teu cerco [NVI: Vou amarrá-lo com cordas para que você não possa virar-se enquanto não cumprir os dias da sua aflição].
9 Toma trigo e cevada, favas e lentilhas [NVI: trigo e cevada, feijão e lentilha, painço e espelta], mete-os numa vasilha e faze deles pão; segundo o número dos dias que te deitares sobre o teu lado, trezentos e noventa dias, comerás dele.
10 A tua comida será por peso, vinte siclos por dia; de tempo em tempo, a comerás [NVI: Pese duzentos e quarenta gramas do pão por dia e coma-o em horas determinadas]
11 Também beberás a água por medida, a sexta parte de um him; de tempo em tempo, a beberás [NVI: Também meça meio litro de água e beba-a em horas determinadas].
12 O que comeres será como bolos de cevada; cozê-lo-ás sobre esterco de homem, à vista do povo [NVI: Coma o pão como você comeria um bolo de cevada; asse-o à vista do povo, usando fezes humanas como combustível].
13 Disse o Senhor: Assim comerão os filhos de Israel o seu pão imundo, entre as nações para onde os lançarei.
14 Então, disse eu: ah! Senhor Deus! Eis que a minha alma não foi contaminada, pois, desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca.
15 Então, ele me disse: Dei-te esterco de vacas, em lugar de esterco humano; sobre ele prepararás o teu pão [NVI: “Está bem”, disse ele, “deixarei que você asse o seu pão em cima de esterco de vaca, e não em cima de fezes humanas”].
16 Disse-me ainda: Filho do homem, eis que eu tirarei o sustento de pão em Jerusalém; comerão o pão por peso e, com ansiedade, beberão a água por medida e com espanto [NVI: E acrescentou: Filho do homem, cortarei o suprimento de comida em Jerusalém. O povo comerá com ansiedade comida racionada e beberá com desespero água racionada];
17 porque lhes faltará o pão e a água, espantar-se-ão uns com os outros e se consumirão nas suas iniquidades [NVI: pois haverá falta de comida e de água. Ficarão chocados com a aparência uns aos outros, e definharão por causa de sua iniquidade (iniquidade significa: perversidade, injustiça, falta de equidade)].
Ez 4: 1-8 fala sobre o tijolo, as fortificações, tranqueiras, arraiais e aríetes ao seu redor, assim como a assadeira de ferro como um muro de ferro entre o profeta e a cidade; era dessa forma que Jerusalém seria cercada; isto serviria de sinal para a casa de Israel. Para nós, o muro de ferro representa a separação entre Deus e Seu povo, por causa dos seus pecados e do endurecimento do seu coração.
O profeta estaria 390 dias deitado sobre o lado esquerdo simbolizando os 390 anos de pecado da casa de Israel; depois, Ezequiel se deitaria por 40 dias sobre o lado direito, simbolizando os 40 anos de pecado da casa de Judá. Difícil precisar as datas exatas como base para a contagem desses anos. Muitas hipóteses foram feitas, mas não são satisfatórias nem coerentes para Israel e Judá. As cordas ao redor do profeta (v.8) simbolizavam o cerco de Jerusalém (coincidindo com alguns anos do período de exercício profético de Jeremias [626-585 AC], quando Jerusalém ficou sitiada por 2 anos por Nabucodonosor – Jr 39: 1-2).
Ez 4: 9-17 pode ser resumido em poucas palavras: o pão da ira de Deus e o período de fome passado por Jerusalém durante o cerco babilônico de dois anos (Jr 39: 1-2). O versículo 9 fala sobre os ingredientes usados no preparo do pão: trigo, cevada, favas e lentilhas [NVI: trigo e cevada, feijão e lentilha, painço (uma gramínea [capim] cujas espigas servem de alimento) e espelta (uma espécie de trigo de qualidade inferior)]. Isso significa que haveria um período de fome tão grande que seria uma alegria comer qualquer coisa, como grãos e até gramíneas.
Na NVI o v.12 diz: “Coma o pão como você comeria um bolo de cevada; asse-o à vista do povo, usando fezes humanas como combustível”, simbolizando o pão imundo que os israelitas comeriam diante das nações para as quais o Senhor os lançaria. Como Ezequiel era um sacerdote, ele argumentou com o Senhor sobre as fezes humanas, pois jamais tinha colocado alguma coisa impura na boca. Então, o Senhor disse que o pão do profeta seria preparado (assado) sobre esterco de vacas (v. 15). Como eles nunca tiveram o suficiente com o que fazer um pão, eles o comiam como bolos de cevada, uma porção pequena.
O profeta o comeria durante os 390 dias em que se deitaria sobre o seu lado esquerdo pela casa de Israel. E no v.13 o Senhor mesmo é quem diz: “Assim comerão os filhos de Israel o seu pão imundo, entre as nações para onde os lançarei”. O ‘pão imundo’ seria uma forma de dizer que já que eles rejeitaram o pão espiritual vindo de Deus, assim como o pão material como um sinal de Sua bênção pela fidelidade deles e tiveram prazer na idolatria se alimentando de comida consagrada a ídolos, então eles comeriam o imundo, e isso seria vergonha para eles diante das nações, até porque não fizeram distinção entre o alimento dos judeus e dos gentios.
Os versículos 10-11 dizem que Ezequiel deveria comer 20 siclos (equivale a 240 gr.) do pão e beber a sexta parte (500-600 ml de água) de um him de água por dia (1 Him = aproximadamente 3,47 a 4 litros de água). Isso significava que assim como o profeta comeria e beberia com escassez, o povo também comeria e beberia pouco, com ansiedade devido à angústia do cerco (vs. 16-17 – cf. Ez 12: 18-20). Como foi dito acima, Nabucodonosor sitiou Jerusalém por dois anos até invadi-la por completo e queimá-la.
Como falamos no início, um dos teores das profecias de Ezequiel era a advertência do juízo de Deus sobre uma nação rebelde e idólatra. Por ser sacerdote, Ele lhe mostrou claramente as abominações dentro de Sua Casa pelos sacerdotes; o profeta sofreu ao ter a visão da destruição e da abominação no templo. Deus também lhe mostrou Seu juízo contra os príncipes de Judá, que viviam de falsas profecias e aconselhavam erradamente o povo, levando-o à idolatria (Ez 11: 1-13). Outra dramatização feita pelo profeta foi quando preparou a bagagem do exílio e saiu do meio do povo para outro lugar por ordem do Senhor. Isso ilustrava o que acontecera com eles e que ainda aconteceria com o resto que havia ficado em Jerusalém (Ez 12: 11-15). Ezequiel deixava bem claro a Israel que sua rebeldia o impedia de entender a palavra do Senhor, por isso não criam que as profecias se cumpririam. Entretanto, Deus afirma que elas seriam todas cumpridas e não seriam retardadas (Ez 12: 25-28), diferenciando-as das falsas profecias que eles ouviam. Aliás, o ataque de Ezequiel aos falsos profetas era tão intenso quanto o de Jeremias (Ez 13: 3; Ez 13: 6-9 e 16), assim como em relação às falsas profetisas (Ez 13: 17-23, principalmente vs. 21-23). Deus mesmo faria cessar suas falsas visões. O castigo contra a idolatria já tinha sido decretado por Deus (Ez 14: 6-8; Ez 14: 16; Ez 14: 21-22), tanto para os profetas quanto para os sacerdotes, os príncipes e o povo. Em Ez 18: 1-32, YHWH deixa claro que a responsabilidade é pessoal, que Ele respeita o livre-arbítrio dos Seus filhos e que cada um deles vai trazer à sua vida o que praticar; além disso, termina se revelando aos Seus escolhidos, dizendo que não tem prazer na morte de ninguém, mas o que está acontecendo com eles é Sua disciplina, para trazê-los de volta à bem-aventurança e à comunhão com Ele. Sua santa indignação contra o comportamento idólatra de Israel e Judá é comparada à indignação de um marido traído pela esposa adúltera (Ez 23: 1-49; Ez 16: 1-63); Sua vingança é certa.
O segundo tópico falado no início deixa clara a punição divina sobre as demais nações ao redor de Israel (Amom, Moabe, Edom, Filístia, Tiro e Egito – Ez 25 a 29), não apenas pela sua iniqüidade particular, por serem nações visivelmente pecaminosas, mas, principalmente, porque se alegraram com o exílio do povo escolhido e com a profanação do templo do Senhor. Quando Ezequiel fala de Tiro, deixa-nos a impressão de transmitir algo mais, como que falando da queda do próprio Satanás (Ez 28: 11-19), que ocorreu no passado, ou da sua nova queda na próxima vinda de Jesus. Como aconteceu com Jeremias, Ezequiel também foi desprezado pelo povo (Ez 33: 30-33), que não dava valor às suas profecias e não as colocava em prática.
Deus reforça para Ezequiel as responsabilidades do verdadeiro atalaia (Ez 33: 1-20 – “A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel: tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca e lhe darás aviso da minha parte” – Ez 33: 7; Ez 3: 16-27) e profetiza também contra os pastores infiéis de Israel (Ez 34: 1-10), dizendo que Ele mesmo cuidará do Seu rebanho (Ez 34: 11-31). Alusões ao Messias podem ser vistas em Ez 34: 23; Ez 37: 24; Ez 17: 22-24.
A terceira característica das profecias de Ezequiel diz respeito à restauração da nação após o exílio (Ez 36: 24-28) e que, como um exército de ossos secos, serão ressuscitados (Ez 37: 1-14 – “A visão de um vale de ossos secos”); a nação deixará de ser duas (Israel e Judá), como foi até aquele momento, e voltará a ser unida como nos tempos de Davi (Ez 37: 15-28). Podemos extrapolar esta profecia para a primeira vinda de Jesus, quando Judá e Israel estarão unidos debaixo do Seu amor:
• Ez 34: 23: “Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi (= Jesus) é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor”.
• Ez 34: 24: “Eu, o Senhor, lhes serei por Deus, e o meu servo Davi (= Jesus) será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”.
• Ez 37: 22: “Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei (= Jesus) de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos”.
• Ez 37: 24: “O meu servo Davi (= Jesus) reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão”.
Completando as profecias sobre a restauração da nação, Deus dá a Ezequiel a visão do novo templo (Ez 40–44), assim como reforça os deveres dos sacerdotes (restauração do sacerdócio levítico) e das leis mosaicas (Ez 45–48). O templo visto por Ezequiel jamais foi erguido; o templo de Esdras, após o retorno dos exilados à pátria, tinha uma aparência bem mais simples e foi uma tentativa de reconstruir o padrão do de Salomão. Entretanto, erigido ou não, o templo de Ezequiel dava ao povo uma nova esperança de voltar a se sentir o povo escolhido. Talvez, as dimensões e a aparência do templo e da Cidade de Davi a ser reconstruída, mostrados em visão ao profeta, sejam uma alusão à nova Jerusalém (Ap 21: 12-13; Ez 48: 30-38).
Em Ez 47: 1-12 nós podemos ter a certeza do derramar do Espírito e da Sua unção (simbolizadas pelas águas cada vez mais abundantes sobre o profeta – v. 3-5) para renovar muitas vidas (v. 7-10; 12), bem como o projeto de Deus para os que se arrependerem e se voltarem a Ele. Vamos ler o texto:
1 Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do templo, para o oriente; porque a face da casa dava para o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do altar.
2 Ele me levou pela porta do norte e me fez dar uma volta por fora, até à porta exterior, que olha para o oriente; e eis que corriam as águas ao lado direito.
3 Saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; mediu mil côvados e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos tornozelos.
4 Mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos.
5 Mediu ainda outros mil, e era já um rio que eu não podia atravessar, porque as águas tinham crescido, águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia passar.
6 E me disse: Viste isto, filho do homem? Então, me levou e me tornou a trazer à margem do rio.
7 Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia grande abundância de árvores, de um e de outro lado.
8 Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis.
9 Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio.
10 Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar para se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas espécies, será como o peixe do mar Grande, em multidão excessiva.
11 Mas os seus charcos e os seus pântanos não serão feitos saudáveis; serão deixados para o sal.
12 Junto ao rio, às ribanceiras, de um e de outro lado, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não fenecerá a sua folha, nem faltará o seu fruto; nos seus meses, produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de remédio.
• En-Gedi (Ein Gedi, ‘en-gedhï, fonte da cabra’ ou ‘fonte do cabrito’) é um oásis de água fresca a oeste do Mar Morto, no deserto da Judéia. A fertilidade dessa área, em meio a uma região tão estéril, tornava-a local ideal para os fora-da-lei, para encontrar alimento (Ct 1: 14) e como lugar de esconderijo (Davi, por exemplo: 1 Sm 23: 29; 1 Sm 24: 1-3). Seu antigo nome era Hazazom-Tamar, ‘fendas das palmeiras’ ou ‘porção [de terra] de tamareiras’ (Gn 14: 7; 2 Cr 20: 2), porque era banhada por uma quente e constante corrente, e foi outrora célebre pelas suas palmeiras e vinhas (Ct 1: 14). En-Gedi (Js 15: 62; Ct 1: 14; Ez 47: 10) é a moderna Ain Jidi, ao ocidente do mar Morto, e a meio caminho entre as extremidades norte e sul. Há, no deserto, atrás do desfiladeiro, inumeráveis cavernas, nas quais se refugiaram Davi e os seus companheiros. Por En-Gedi passava a estrada que os Moabitas e Amonitas seguiram quando foram atacar Josafá (2 Cr 20: 1-2). A fonte ainda existe, surgindo uma fina nascente de água numa espécie de terraço e vai formando uma corrente que vem pelo monte, de uma altura de cento e vinte metros acima do nível do mar Morto, onde deságua. Ali começava uma escarpa íngreme, ‘a ladeira de Ziz’ (2 Cr 20: 16), que parece ter sido o atual desfiladeiro que é ainda atravessado.
O Parque Nacional de Ein Gedi foi fundado em 1972 e é uma das mais importantes reservas naturais de Israel. Ele tem dois ribeiros principais alimentados por nascentes que correm durante todo o ano: Nachal David (o ribeiro de Davi) e Nachal Arugot (o ribeiro de Arugot). Também há outras duas nascentes que correm na reserva: a Shulamit (a cascata da Sulamita) e a cascata de Ein Gedi. O ribeiro (wadi) de Arugot corre de oeste para leste na Cisjordânia, com 31 km de comprimento. Ele deságua no Mar Morto ao sul de Ein Gedi. As três seções do wadi são chamadas de Wadi el-Jihar, Wadi el-Ghar e Wadi Areijeh em árabe. Arugot, em hebraico, é o plural de Arugah, que significa ‘terraço ou canteiro no jardim’, e deriva do árabe, Areijeh. Ghar significa ‘caverna’.
• En-Eglaim (‘ên-‘eghlayim, ‘fonte das duas novilhas’ ou ‘fonte dos dois bezerros’) é um local mencionado em uma visão do profeta Ezequiel. De acordo com sua visão, o Mar Morto (um lago salgado no qual os peixes não podem viver) seria um dia cheio de água doce e os pescadores lançariam suas redes ‘de En-Gedi a En-Eglaim’. De acordo com Thomas Kelly Cheyne (1899), uma teoria provável seria que o lugar referido é perto de onde o Rio Jordão se esvazia no Mar Morto, resultando em peixes de água doce sendo arrastados para o Mar Morto e morrendo do conteúdo de sal excessivo. Cheyne sugeriu Ain Hajleh (Ain Hajlah) como uma possível localização, pensando que o hebraico Eglaim poderia ser uma versão posterior em um texto que originalmente se lê ‘Hoglah’, como no nome de lugar ‘Beth-Hoglah’. O local exato ainda não foi identificado, embora as propostas incluam Ain Hajlah, Ain Al-Fashka (Ein Feshkha) e Eglaim (’eghlayim, Is 15: 8, uma aldeia em Moabe).
Beth-Hoglah (ou Ain Hajlah) ficava no território de Benjamim, na fronteira com Judá. Ain Hajlah ou Ein Hajla significa ‘Fonte da Perdiz’.
Ein Feshkha (hebraico: עינות צוקים, Einot Tzukim; lit. ‘as fontes do penhasco’) ou Ain Al-Fashka é uma reserva natural e sítio arqueológico de 2.500 hectares na costa noroeste do Mar Morto, cerca de 3 km ao sul de Qumran na Cisjordânia e 30 km ao norte de En-Gedi. Ain Al-Fashka está localizado ao norte de Râs Feshkhah, o ‘promontório de Feshkhah’. Dentro da reserva está um grupo de nascentes de água salobra. A reserva natural é composta por um trecho aberto com piscinas de água mineral para banhos, rodeadas de folhagem alta e um trecho fechado à visitação para proteção da fauna e flora nativas (fonte: wikipedia.org).
Muitas pessoas lêem este texto de Ezequiel, bem como muitas profecias do AT, buscando seu cumprimento de maneira física, material e palpável; entretanto, se esquecem que esta é uma das profecias que já foram cumpridas da parte de Deus na presença de Jesus, especialmente quando vinha a Jerusalém para ensinar ou curar. Ele era o templo de Deus com os homens e as águas que fluíam dele era o Espírito Santo. Ezequiel diz que o templo estava voltado para o oriente e as águas fluíam do sul da casa: “Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do templo, para o oriente; porque a face da casa dava para o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do altar” (v.1). Na NTLH está escrito: “O homem me levou de volta até a entrada do Templo. Debaixo da entrada, saía água que corria na direção do leste, pois o Templo dava frente para esse lado. A água corria por baixo do lado sul do Templo, ao sul do altar”.
Jesus estava sempre voltado às coisas espirituais (‘a face da casa dava para o oriente’ – ARA), pois Sua missão era espiritual. O oriente simboliza o mundo espiritual, as coisas espirituais. No AT, a crença era que Deus entrava no templo sempre pelo lado do oriente (Ez 43: 1-2; 4; Ez 44: 2). Ezequiel também diz que as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do altar, e fluíam na direção leste.
O sul representa a nossa própria vida, nossa humanidade e imperfeição, em confronto com a majestade e plenitude de Deus, ou seja, o norte (o norte, na bíblia, significa: o trono de Deus, o que norteia nossa vida, Sua palavra e Sua vida plena para nós). Então, Jesus encarnado recebia a unção do Espírito e a deixava fluir livremente, sem medo de se esgotar, pois Ele sabia que, como um ser humano igual a nós, ela não vinha dEle, e sim de quem era maior e estava no alto, o Pai. E deixava fluir essa vida e essa cura para os que sofriam as tribulações na terra, na vida natural, porém, não conseguiam alcançar os favores de Deus pela sua própria força de vontade ou piedade, nem por qualquer sacrifício (‘altar’); apenas o Seu sacrifício, feito definitivamente por nós, abriria a porta para o trono de Deus (norte). O altar de que o profeta fala é o altar de bronze ou o altar do holocausto, onde se sacrificavam os animais como propiciação pelos pecados.
Então, ele prossegue dizendo: “Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis” (v.8). Elas fluíam para o sul pela região árida e rochosa entre Jerusalém e o mar Morto, ao longo do vale do Jordão, até o mar Morto.
O mar Morto é a porção de água com maior concentração salina no mundo (aproximadamente 25% de sal) e atualmente não pode sustentar a vida de nenhuma espécie de animal aquático. Ele é o ponto de mais baixa altitude no planeta (450 metros abaixo do nível do mar), e tem 450 metros de profundidade. Sua evaporação chega a matar os pássaros que o sobrevoam. Ele recebe as águas do Jordão, mas não tem saída para as mesmas.
O profeta estava falando que este mar que estava morto mostraria vida de todas as espécies nas suas águas e nas suas margens (peixes e vegetação), desde En-Gedi até En-Eglaim. A quantidade de peixes seria grande, e a vegetação seria sempre produtiva (v.12) por causa desse rio cujas águas saem do santuário (v.1). Portanto, as águas do Mar Morto seriam saudáveis (v.8-9) e propícias a todas as formas de vida. Mas os pântanos seriam deixados para o sal, não se tornariam saudáveis (v.11). As águas cada vez mais abundantes sobre o profeta (v.3-5) simbolizam o Espírito Santo e Sua unção cada vez maior sobre ele, e elas saíam do templo para renovar muitas vidas (v. 7-10; 12). A água viva de Deus (cf. Jo 7: 37-39, onde o evangelista escreve: “como diz a Escritura”) tem poder para restaurar e ressuscitar a vida.
Em outras palavras, o Espírito Santo se assemelha a um rio de águas que fluem do trono de Deus para todo aquele que crer em Jesus, e esse rio tem poder de renovar, restaurar e ressuscitar a vida, mesmo em lugares desérticos e secos ou em um mar morto, como é o Mar Morto em Israel. Peixes podem simbolizar aqui as almas vivificadas pela palavra de Deus; ‘toda sorte de árvore que dá fruto’ podem simbolizar os filhos de Deus, que frutificam pela presença das águas do Espírito Santo, e os frutos que eles dão para o reino de Deus são contínuos (o ano inteiro) e servem de alimento para as almas famintas; e suas folhas provêem cura para os necessitados e doentes pelos seus pecados.
Nós podemos ver que o rio (v. 9) é suficiente para todas as criaturas ao mesmo tempo, o que significa que o Senhor não limita Sua bênção nem Sua unção sobre quem quer que O busque e beba de Sua palavra de vida. É interessante o uso do adjetivo ‘saudáveis’ em referência a tudo que é alcançado e dessedentado pelas águas que fluem do santuário, pois quando não existe água não existe vida nem saúde, tudo morre e tudo seca; todas as criaturas e plantas perecem. Assim é um coração que rejeita a palavra de Deus, Seu espírito e Seu ensino e que se apega apenas às coisas terrenas e pequenas: é doente, seco, endurecido, frio, sem ter nada de bom para dar a ninguém, enfim, morto. Não sorri, não vê beleza em nada, não tem mais motivação para viver.
O Espírito Santo é um presente dado por Deus a todos os que aceitam o senhorio de Jesus e desejam um motivo para estar na terra, que desejam servi-lO e multiplicar o que recebem dEle. Assim, tanto para as pessoas que crêem em Deus, mas ainda não confessaram Jesus como Senhor de suas vidas, quanto para aquelas que já têm uma comunhão mais profunda com Ele, mas precisam mais da Sua força, o Espírito Santo se torna uma bênção disponível da parte de Deus. Porém, para os que O rejeitam e para os que se rebelam contra Ele, a única coisa que lhes sobra é a esterilidade, ‘o sal’, que, quando em excesso, desidrata e remove a vida (“Mas os seus charcos e os seus pântanos não serão feitos saudáveis; serão deixados para o sal” – 11).
Os aprendizados principais com Ezequiel se resumem novamente na justiça e no juízo de Deus contra o pecado e na esperança e no incentivo aos que estão arrependidos, enfraquecidos e humilhados, trazendo-os de volta a um estado de comunhão perfeita com Ele. A Palavra de Deus nos diz que Deus é amor, mas também nos diz que é justo e fiel, não podendo negar a si mesmo. Portanto, como atalaias nós devemos deixar claro ao povo que o Senhor ama o pecador, entretanto, abomina o pecado e, quando não existe arrependimento, Ele o leva à Sua disciplina, o entrega nas mãos do inimigo até que veja por si mesmo quem é o seu verdadeiro Senhor e Libertador. Ele respeita o livre-arbítrio dado ao homem para escolher o seu caminho, por isso diz que a responsabilidade é pessoal. Quando o homem reconhece Seu senhorio e se volta para Ele, aí passa a experimentar a restauração de sua alma (os muros de sua cidade) e a reconstrução do seu templo interior (seu espírito). Assim, pode ter livre acesso ao Santo dos Santos (a intimidade com o coração de Deus), uma verdadeira comunhão entre Pai e filho, entre esposo e esposa, sem a desconfiança da traição e sem as mentiras causadas pelo pecado. Ao falarmos de Jesus para alguém, estamos falando do poder do Seu sacrifício na cruz do Calvário, nos resgatando do “exílio” causado pelas nossas impiedades e iniqüidades, e trazendo uma real transformação a todo o nosso ser, além de nos dar a certeza da nossa adoção como filhos de Deus (Rm 8: 15). A mesma autoridade que o Senhor nos dá para expulsar demônios, também nos dá para mostrar aos nossos irmãos a natureza do diabo dentro da carne, devendo ser entregue nas mãos do Filho de Deus para ser verdadeiramente extirpada, e a alma ser realmente curada. Como Ezequiel, apesar das oposições e dos cativeiros que nos cercam, nós devemos continuar como atalaias, mostrando aos nossos semelhantes o caminho da Salvação. Assim procedendo, tendo a visão espiritual das coisas, não a carnal, poderemos nos alegrar com a futura restauração não só nas nossas próprias vidas como nas vidas de nossos irmãos.
Como foi dito acima, os exilados na Babilônia foram reanimados em sua tristeza (Sl 137) com a visão de um novo templo (Ez 40–43), que foi concedida a Ezequiel (572 AC – Ez 40: 1). Nunca foi edificado. O segundo templo, o de Esdras (templo reconstruído em 536 AC), foi uma tentativa de reconstruir o que tinha sido edificado por Salomão. Entretanto, erigido ou não, o templo de Ezequiel dava ao povo uma nova esperança de voltar a se sentir o povo escolhido. Talvez, as dimensões e a aparência do templo e da Cidade de Davi a ser reconstruída, mostrados em visão ao profeta, sejam uma alusão à nova Jerusalém (Ap 21: 12-13; Ez 48: 30-38).
Plano do templo de Ezequiel (Ez 40; 41 e 42):
A = altar
E = edifício mencionado em Ez 41: 12
P = portas
C = cozinhas
SS = santuário (Lugar Santo e o Santo dos Santos)
LS = lugar separado; ‘área separada’ (ARA) ou ‘pátio do templo’ (NIV – Ez 42: 13)
Câmaras dos sacerdotes – 3 andares
Ez 40: 5; Ez 43: 13: côvado (1 côvado e 4 dedos) = 51,8 cm; cana = 3,11 metros
Este texto de Ez 16: 1-63 (ARA), embora fale das abominações e da infidelidade de Jerusalém, inicia com uma declaração de amor de Deus ao Seu povo, Sua Noiva (v. 1-14). Aqui, o Senhor os faz se lembrar da sua origem através de Abraão e da dura escravidão no Egito e, de uma forma figurada, Ele explica o que fez conosco, cristãos, quando nos separou para Ele através de Jesus:
1 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho do homem, faze conhecer a Jerusalém as suas abominações;
3 e dize: Assim diz o Senhor Deus a Jerusalém: A tua origem e o teu nascimento procedem da terra dos cananeus; teu pai era amorreu, e tua mãe, hetéia.
4 Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste, não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar, nem esfregada com sal, nem envolta em faixas.
5 Não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma destas coisas, compadecido de ti; antes, foste lançada em pleno campo, no dia em que nasceste, porque tiveram nojo de ti.
6 Passando eu por junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue e te disse: ainda que estás no teu sangue, vive; sim, ainda que estás no teu sangue, vive.
7 Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo; cresceste, e te engrandeceste, e chegaste a grande formosura; formaram-se os teus seios, e te cresceram os cabelos; no entanto, estavas nua e descoberta.
8 Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o tempo era tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua nudez; dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz o Senhor Deus; e passaste a ser minha.
9 Então, te lavei com água, e te enxuguei do teu sangue, e te ungi com óleo.
10 Também te vesti de roupas bordadas, e te calcei com couro da melhor qualidade, e te cingi de linho fino, e te cobri de seda.
11 Também te adornei com enfeites e te pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu pescoço.
12 Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas (NVI: brincos) nas orelhas e linda coroa na cabeça.
13 Assim, foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e de bordados; nutriste-te de flor de farinha (NVI: da melhor farinha), de mel e azeite; eras formosa em extremo e chegaste a ser rainha.
14 Correu a tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti, diz o Senhor Deus.
O Senhor lembra que a nação israelita veio da terra dos cananeus, que foi dada a Abraão (Gn 12: 5), assim como dos demais povos que ali habitavam como os heteus e os amorreus. Os cananeus foram os primeiros moradores da terra prometida antes de Israel chegar. Eles habitavam na região próxima ao Grande Mar (Mar Mediterrâneo) até o Norte, por isso também eram chamados de Siro-Fenícios. Nos tempos do AT, a Fenícia era chamada de Canaã (Hebr.: Kena‘an), e seus habitantes, Cananeus (Hebr.: Kna‘aniy; Strong #3669), que significa ‘comerciantes’, ‘mascates’; e assim como um comerciante zela pelas suas mercadorias para que não sejam roubadas e para que ele não tenha prejuízo financeiro com elas, nós podemos estender seu significado para ‘zeloso’. Em grego, a Fenícia é chamada Phoiníkē, Φοινίκη, ‘terra das palmeiras’. Heteu (Hebr.: Chitti; Strong #2850) significa ‘descendente de Hete’; e Hete significa ‘medo, terror’. Nós podemos dizer, portanto, que Heteu significa ‘o que não tem medo de mostrar quem é’. Amorreu (Hebr.: Emori; Strong #567) é uma palavra derivada de uma raiz primitiva que significa proeminência; conseqüentemente, montanhês, habitante da montanha, alpinista, montanhista; simbolicamente, visionário.
O que o Senhor quer dizer aqui é que aquilo que Ele desejou para Sua Noiva era o que estava na mão do inimigo antes de Ele entregar aquela terra ao povo escolhido. Ao invés de características e bênçãos pertencentes aos ímpios, deveriam ser nossas características. Nós é que deveríamos zelar pela palavra e pelas coisas de Deus, cuidar delas como sementes plantadas dentro de nós; nós é que deveríamos pensar alto como os habitantes das montanhas, como os visionários e não termos medo de mudar de vida e de mostrar quem somos.
Ele fala no versículo 4: “Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste, não te foi cortado o umbigo,...”, ou seja, ‘sem a devida atenção ao cordão umbilical’, pois a criança que acabou de nascer é susceptível de morrer por causa de uma infecção grave. Para nós isso quer dizer: quando nós nascemos no mundo não havia ninguém ali para interceder por nós e orar, quebrando as maldições hereditárias sobre nossa vida. Nem fomos lavados com água para nos limpar, ou seja, não fomos ministrados com a palavra de Deus nos purificando das maldições de sentença dos homens nem com uma palavra ungida profetizando uma vida de bênçãos para nós. O profeta fala também que não fomos esfregados com sal. O sal diz respeito à fidelidade das promessas, ao amor imutável de Deus, à natureza duradoura da aliança, do Seu pacto com os homens.
O nascimento de uma criança, no Oriente Médio em especial, obedecia a certos padrões e tinha um significado. Enfaixar o recém-nascido era uma prática comum na Antiguidade, mostrando que ele era bem cuidado. Primeiro o cordão umbilical era cortado e a criança era lavada com água, para remover do seu corpo o líquido amniótico e o sangue presente ao nascimento. O bebê era então esfregado com uma pequena quantidade de sal e azeite de oliva, para ajudar a limpar e desinfetar a pele. Algumas tribos do deserto esfregavam sal na pele da criança recém-nascida para que esta suportasse melhor o calor, o que significa: proteção, fortalecimento e resistência às condições adversas. Outro significado dessa prática, igualmente importante para os judeus, é que o sal era acrescentado a cada oferta no altar do sacrifício no Tabernáculo e no Templo. Muito provavelmente, as mães israelitas viam esse costume em relação aos seus bebês como uma maneira simbólica de oferecer seu filho ao serviço do Senhor; de dedicá-lo a Deus.
Depois disso o bebê era envolto em longas faixas de linho ou algodão, o que ajudava a prover conforto à criança; as faixas apertadas repetiriam, por assim dizer, a sensação do conforto do útero. Em algumas ocasiões as bandagens eram marcadas de alguma forma para se saber de quem era o bebê. Alguns estudiosos dizem que eram bordadas com símbolos da ancestralidade da criança. Por isso, o profeta Ezequiel escreveu dessa forma. Assim, voltando ao nosso raciocínio: ninguém nos envolveu em faixas, que quer dizer: fomos privados do calor, do cuidado e do aconchego do nosso Pai verdadeiro, de Deus. Nem fomos consagrados e apresentados a Ele, para o Seu serviço. Estou falando do que aconteceu espiritualmente com o povo de Deus (Israel) e conosco, pelo menos com a maioria de nós que não nascemos num lar evangélico, sem conhecimento real das coisas espirituais.
E no versículo 5, a bíblia diz: “Não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma destas coisas, compadecido de ti; antes, foste lançada em pleno campo, no dia em que nasceste, porque tiveram nojo de ti”. Isso é uma alusão a crianças expostas por seus pais não naturais, ou parteiras cruéis, e deixadas em um campo aberto, ou em qualquer lugar do deserto, para perecerem por falta de cuidados, comida, água e proteção, a menos que alguém as visse e se compadecesse delas. Os Egípcios maltrataram o povo do Senhor, pois os hebreus eram uma abominação para eles. Da mesma forma, muitos filhos de Deus nasceram e sofreram a dor da rejeição, ostensiva ou não e até de maneira inexplicável, pois o inimigo tocou em pessoas para agirem dessa maneira, sabendo de alguma forma que essas crianças já estavam separadas por Deus para serem dEle em algum momento de suas vidas; elas eram ‘diferentes’. Jesus disse: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou” (Mc 9: 37).
Por isso, no versículo 6, o Senhor diz: “Passando eu por junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue e te disse: ainda que estás no teu sangue, vive; sim, ainda que estás no teu sangue, vive”. O Senhor passou por ela, Sua noiva, Seu povo, e lhe deu uma palavra de resgate e vida. “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava” (Mc 10: 14b-16).
A Noiva cresceu e, no versículo 7, quando chegou o tempo de ter filhos, Ele estendeu sobre ela o Seu manto. Em hebraico, a palavra ‘manto’ (Kanaph), significa, entre outras coisas, ‘asas’ e é símbolo de proteção, vida, unção, poder. Também se refere aos pedidos de casamento. Assim, quando o Senhor nos separou para Ele, passamos a ser Sua propriedade exclusiva e deixamos de nos sentir desprotegidos. Deus fez conosco uma aliança como num casamento (v. 8).
Do versículo 9 ao 14, Ele relata o processo de crescimento e embelezamento da Noiva, a quem Ele mesmo vai acrescentando dons e bênçãos como ornamentos. No versículo 9, Ele diz que nos lavou com água, ou seja, viemos para Jesus, passamos a ouvir a Sua palavra e ela começou a nos lavar das maneiras antigas de pensar e agir. Ele diz também que nos enxugou do nosso sangue, ou seja, curou nossas feridas. Depois nos ungiu com óleo, ou seja, foi derramado do Seu Espírito em nós, nos fortalecendo e nos santificando e nos consagrando para Ele. No versículo 10, Ele fala de trajes finos como seda, linho fino, bordados e de calçados como couro (“Também te vesti de roupas bordadas, e te calcei com couro da melhor qualidade, e te cingi de linho fino, e te cobri de seda”). O linho fino é símbolo de santidade e justiça (Ap 19: 8). A seda, de refinamento e sensibilidade. Ele protegeu os pés da Noiva dos ferimentos, assim como os capacitou a andar com segurança. Onde está escrito “te calcei com couro da melhor qualidade”, a palavra usada para ‘couro’ em hebraico é tahash (tā·haš) ou tachash – תחש (plural: tahashim ou thchshim – תחשים) – Strong #8476; provavelmente originada do egípcio thhs, ‘couro’, e do árabe tuhasum, ‘delfim’. Tahash significa: golfinho; porco do mar; vaca marinha ou peixe-boi (dugongo); um animal limpo com pele ou pêlo macio (como o de certas espécies de cabra). A expressão ‘peles finas’ ou ‘animais marinhos’ na KJV traduzida como ‘peles de texugos’. Provavelmente, aqui se referia a sapatos, não sandálias. Os sapatos eram feitos de couro macio; as sandálias, de couro duro.
Quero fazer um parêntesis aqui para falar um pouco sobre sandálias e sapatos nos tempos antigos.
As sandálias eram bem conhecidas: Am 2: 6; Am 8: 6; Dt 25: 10; em Ez 24: 17, onde na nossa versão está escrito sandália (סנדל), em hebraico está escrito ‘calçado’ ou ‘sapato’ – na‘al, נעל ou נָעַל – Strong #5275; em Ez 16: 10 é a mesma palavra, usada para o verbo ‘calçar’ (נָעַל – Strong #5274, naal ou na‘al).
Sandálias com solas (ne‘ãlïm ou na‘alayim – נעל – Strong #5275) de couro foram usadas para proteger os pés da areia ardente e umidade. As sandálias também podiam ter um solado (ne‘ãlïm) de madeira preso com correias ou tiras de couro (serõkh – Gn 14: 23; Is 5: 27; Mc 1: 7; Lc 3: 16; Mc 6: 9). Sandálias não eram usadas em casa nem no santuário (Êx 3: 5; Js 5: 15). Andar sem sandálias era sinal de grande pobreza (Dt 25: 9; Lc 15: 22) ou de luto (2 Sm 15: 30; Is 20: 2-4; Ez 24: 17, 23). Quando um anjo apareceu a Pedro na prisão, ordenou-lhe que calçasse as sandálias (At 12: 8).
Na Assíria, as sandálias cobriam também o calcanhar e o lado do pé. A sandália e a correia eram tão comuns que simbolizavam a coisa mais insignificante, como em Gn 14: 23. A maioria das pessoas naquele tempo andava descalça ou usava sandálias, mas os sapatos não eram tão comuns. Os pobres não podiam se dar ao luxo de usar sapatos, visto que estes eram feitos de couro macio, que era escasso. As sandálias eram de couro duro. Os judeus não usavam as sandálias dentro de casa (Lc 7: 38); eles as retiravam ao entrar na casa, e lavavam os pés.
Sandálias dizem respeito a autoridade, ocupação, posse material. Em Êx 3: 5 e Js 5: 15, quando o Senhor diz a Moisés e a Josué, em ocasiões diferentes, para tirar as sandálias dos pés, está implícita a ligação entre tirar os sapatos e se entregar, se render, sinal de submissão, reverência e respeito: “Tira as sandálias dos pés, pois o lugar que estás é terra santa”. Os judeus consideravam carregar ou desatar as sandálias de outra pessoa como uma tarefa muito humilde. Quando João Batista falou da vinda de Cristo, disse: “O qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (Jo 1: 27).
Voltando ao nosso texto de Ezequiel 16:
Nos versículos 11 e 12, o Senhor nos fala dos adornos e dos enfeites que Ele nos deu, que significam os dons e frutos do Espírito Santo.
Na Antiguidade, os homens judeus usavam braceletes, anéis, correntes e colares de vários tipos. No Oriente Próximo, ambos os sexos usavam cadeias de ouro como ornamento e símbolo de dignidade. Os oficiais do governo colocaram tais colares de ouro em José e em Daniel como símbolo de soberania (Gn 41: 42; Dn 5: 29). Os homens judeus usavam jóias com o intuito de melhorar sua aparência pessoal. A arte de joalheria iniciou em um período remoto da humanidade (Nm 31: 50; Os 2: 13). O judeu usava o anel como selo e símbolo de sua autoridade (Gn 41: 42; Dn 6: 17). Com o sinete ele estampava seu selo pessoal nos documentos oficiais (no tempo de Ester, por exemplo). Podia ser usado num cordão em torno do pescoço ou no dedo. Os homens também usavam anéis ou faixas nos braços (cf. 2 Sm 1: 10). O bracelete e a coroa são símbolo de glória e majestade. O colar é símbolo de graça, misericórdia (Hebr.: Hesedh ou Chesed) com que somos ornados.
Mas um judeu, como homem livre, nunca usava brincos. Os pendentes e brincos são símbolos de propriedade particular voluntária. No AT, quando chegava o sétimo ano da escravidão de alguém, ele tinha direito a ser alforriado, mas se quisesse permanecer com o seu senhor, este o levava aos juízes e sua orelha era colocada na ombreira da porta e furada. Era colocado, então, um brinco e o escravo passava a servir aquele senhor para sempre (Êx 21: 6; Dt 15: 16-17): “Se você comprar um escravo hebreu, ele o servirá por seis anos. Mas no sétimo ano será liberto, sem precisar pagar nada... Se, porém, o escravo declarar: ‘Eu amo o meu senhor, a minha mulher e os meus filhos, e não quero sair livre’, o seu senhor o levará perante os juízes. Terá que levá-lo à porta ou à lateral da porta e furar a sua orelha. Assim, ele será seu escravo por toda a vida” (Êx 21: 2; 5-6); “Mas se o seu escravo lhe disser que não quer deixá-lo, porque ama você e sua família e não tem falta de nada, então apanhe um furador e fure a orelha dele contra a porta, e ele se tornará seu escravo para o resto da vida. Faça o mesmo com a sua escrava” (Dt 15: 16-17). Espiritualmente falando, o brinco é sinal de escravidão.
No versículo 13, o Senhor fala que alimentou a Noiva com o que tinha de melhor: mel, azeite e flor de farinha (a farinha mais fina). Assim, bem-tratada e adornada, a Noiva chegou a ser formosa e sua fama se espalhou pelas nações.
Nos versículos seguintes, como um marido traído e revoltado, Ele relata a infidelidade da noiva se entregando a todo o tipo de idolatria e que a levou à perda da beleza. Assim, o Senhor nos toma do mundo, nos cura, nos enfeita, nos sustenta, nos embeleza; portanto, Ele deseja de nós a fidelidade e a gratidão, e não que nós venhamos a repetir o mesmo erro de Israel. Que Sua Igreja saiba guardar a herança preciosa que recebeu dEle, esperando-O para a Sua vinda.
Profeta, o mensageiro de Deus (PDF)
Prophet, the messenger of God (PDF)
Jamais falte óleo sobre tua cabeça (PDF)
Never be lacking oil on your head (PDF)
Table about the prophets (PDF)
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
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