Estudo sobre os 66 livros da bíblia, os autores, a data em que foram escritos e seu conteúdo; a bíblia hebraica e cristã; Septuaginta; Vulgata; apócrifos. Qual o significado da palavra selá, que vemos nos salmos?

Study on the 66 books of the Bible: the authors, the date they were written and their content; the Hebrew and Christian Bibles; Septuagint and Vulgate; apocryphal books. What is the meaning of the word selah, which we see in the psalms?


Os livros da bíblia


Há muitas palavras para se referir à bíblia:

Cânon
O vocábulo grego Kanôn, que é de origem semítica (hebr. qãneh, Ez 40: 3, um junco, instrumento de medir), foi empregado no sentido metafórico para regra de ação. Em meados do século IV DC o termo parece ter sido aplicado à bíblia, uma coleção de inscritos inspirados pelo Espírito Santo, considerada como a regra para nossa fé e vida. Deus usou homens como Seus instrumentos, ao lado de ações humanas e reflexões que interagiram com Ele para nos dar Seus ensinamentos. Kanôn também significa: regra ou padrão; daí, a lista de livros que a Igreja reconhece como a norma da fé e da prática.

Bíblia
Vocábulo latino derivado provavelmente do termo grego bíblia (que significa: livros, e plural de biblion, livro, que é diminutivo de biblos, vocábulo que na prática denota pequena espécie de documento escrito, mas que originalmente significava um documento escrito em papiro, gr. Byblos). A bíblia é, portanto, um conjunto de livros reconhecidos como canônicos pela Igreja Cristã.

As Escrituras
Outro termo sinônimo de bíblia é “As Escrituras” (gr. hai graphai, ta grammata), freqüentemente usado no NT para denotar os documentos do AT em sua totalidade ou em parte.

Testamento
No hebraico: Berïth, e no grego: diatheke, que quer dizer: pacto, aliança. Os escritos do AT não apenas registram essa revelação acerca de Deus; ao mesmo tempo, eles registram a reação dos homens para com a Sua revelação, uma reação algumas vezes desobediente e expressa tanto em ação como em palavras. A relação entre o NT para o AT é a revelação do cumprimento da promessa. Se o AT registra o que Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras nos patriarcas e nos profetas, o NT registra a palavra final que Ele falou por Seu Filho, no qual toda a revelação anterior se centralizou e se confirmou. Em outras palavras, o AT foi uma sombra do NT (Hb 10: 1; Cl 2: 17). A mensagem central da bíblia é a história da salvação, ou seja, o pacto de Deus com os homens.

A bíblia hebraica

Segundo a tradição judaica, a Bíblia Hebraica foi compilada (fechada) por Esdras (Ezra), o escriba, no século V antes da Era comum (EC) em hebraico bíblico e aramaico (fonte: Revista Vértices No. 15 (2013), Guertzenstein D.S.S, DLO/FFLCH/USP, Ph.D.). Segundo Flávio Josefo, o cânon do AT, com 39 livros, foi fechado entre 465 e 425 AC, no tempo de Esdras e Neemias. O que sabemos é que Zacarias profetizou no período de 520-480 AC, e Malaquias, por volta de 450-400 AC. O segundo retorno dos exilados ocorreu em 458 AC, com a vinda de Esdras. O terceiro retorno ocorreu em 445 AC com Neemias, para reconstruir os muros de Jerusalém.

Na bíblia hebraica (Antigo Testamento = Tanakh – תַּנַ״ךְTānāḵ) os livros são arranjados em três divisões diferentes. O termo Ta-Na-Kh é o acróstico das iniciais das palavras Torá, Nevyim (Nevi’im) e Ketuvim (Kethūvīm). O Tanakh é também conhecido como a ‘Tradição Escrita do Povo de Israel’.

1) A Lei, dada por intermédio de Moisés, e compreende os cinco primeiros livros: Gn, Êx, Lv, Nm, Dt (bereshit, shemot, wayyiqrã, bamidhar, devarim), chamada de Torá (= instrução, ensino, apontamento, lei) ou Pentateuco. Em grego, a palavra é pentateuchos (pénte = cinco; teuchos = estojo, receptáculo, significando rolo ou volume. Assim, a palavra Pentateuco quer dizer: cinco estojos ou cinco receptáculos, que era onde os pergaminhos eram guardados). Um tema dominante nos cinco primeiros livros da bíblia é que Deus cumprirá as promessas feitas aos homens. A promessa feita a Abraão (a bênção de Abraão) se compõe de três elementos principais: descendência (nele seriam benditas todas as nações da terra, inclusive os gentios), terra (prosperidade, posse da terra de Canaã) e relacionamento com Deus (intimidade e amizade com o Senhor, pois Deus chamou Abraão de “meu amigo” – Tg 2: 23; Is 41: 8; 2 Cr 20: 7). Em Gênesis (Gn) vemos a reafirmação dessa promessa de descendência aos filhos e netos de Abraão. Êxodo (Êx) e Levítico (Lv) mostram a preservação do relacionamento com Deus. Números (Nm) e Deuteronômio (Dt) concentram-se na Terra Prometida, e em Josué a promessa é cumprida.

2) Profetas: Em hebraico: Nevi’im, נביאיםī īm, ‘Profetas’, literalmente ‘porta-vozes’. São oito os livros dos Profetas (Nevi’im), pois os profetas menores são contados num único rolo.
a) anteriores (נביאים ראשונים – Nevi’im Rishonim): 1) Josué (Yehoshua), 2) Juízes (Shofetim), 3) Samuel (Shemuel), 4) 1 e 2 Reis (Melakhim). Narra o período da história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o exílio babilônico.

b) posteriores (נביאים אחרונים Nevi’im Akharonim): 5) Isaías (Yeshayahu), 6) Jeremias (Yirmeyahu), 7) Ezequiel (Yekhezqel) e 8) os doze profetas menores (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias). Daniel é considerado livro histórico dentro dos Kethūvīm (‘Escritos’).

3) Escritos: ‘Escritos’, em hebraico: כת ובים Kethūvīm; em grego: ‘Hagiographa’). São divididos em:

a) Livros da verdade ou Livros Poéticos (Sifrei Emet): Salmos (Tehillim), Provérbios (Mishlei), Jó (Iyov).

b) Os Cinco Rolos ou Cinco Megillot (חמש מגילות – Hamesh Megillot ou Chomeish Megillos): Cânticos de Salomão ou cântico dos cânticos (Shir Hashirim), Rute (Rut), Lamentações (Eikhah), Eclesiastes (Kohelet ou Qohelet), Ester (Ester). Estão associados a cinco datas judaicas importantes na liturgia rabínica e são lidos por ocasião delas, iniciando pela Páscoa judaica (Pessach).

O substantivo feminino ‘megillah’ (מגילת – Strong #4039) significa rolo, volume, pergaminho, e vem da palavra hebraica ‘galal’, que significa um rolo (isto é, um livro de pergaminho). A palavra Megillah é escrita em alguns versículos do AT, como, Sl 40: 7; Jr 36: 2; 4; 6; 14; 20; 21; 23; 25; 27; 28; 29; 32; Ez 2: 9 (um rolo = megillah; livro = sepher – ספר – Strong #5612); Ez 3: 1; 2; 3; Zc 5: 1; 2. Segundo a fonte de pesquisa de que falei (Revista Vértices No. 15 (2013), Guertzenstein D.S.S, DLO/FFLCH/USP, Ph.D.), eles explicam da seguinte forma:

Cântico dos cânticos (hebraico: Shir ha-Shirim; שיר השירים) – é lido publicamente em algumas comunidades, especialmente pelos Ashkenazim (Judeus da Europa Central e Oriental e provém da palavra hebraica medieval para a Alemanha, Ashkenaz, אשכנז. Em hebraico, o singular é ‘ashkenazi’ e o plural, ‘ashkenazim’), no Sábado da Páscoa [no mês de Nisan ou Aviv – março-abril]. Judeus italianos o lêem no Ma’ariv (Oração da Noite) do primeiro e segundo dia da Páscoa. Na maioria das comunidades judaicas Mizrahi (Mizrahim = judeus no mundo islâmico), ele é lido publicamente a cada semana no início do Shabbat e na Páscoa. A Páscoa Judaica (Pessach) celebra a libertação do povo judeu do Egito, simbolizando assim o amor entre Deus e Israel, levando-o ao Sinai para conhecê-lO, ouvir Sua voz e ‘casar’ com Ele (da mesma forma que o livro de cânticos descreve o amor entre um casal).

Rute (hebraico: Rut; רות) – o rolo é lido, especialmente pelos Ashkenazim, antes da leitura da Torá na manhã da Festa de Pentecostes (Shavuot) [Mês de Sivã ou Siwãn – Maio-Junho]. Para os judeus, Shavuot celebra a entrega da Torá e sua aceitação voluntária por Israel no deserto. Esse livro mostra: 1) como um não-judeu passa a ser parte da comunidade judaica, aceitando voluntariamente a Aliança de Deus com Seu povo através da Torá; 2) a ancestralidade parcialmente não-judaica da dinastia de Davi por causa de Rute, sua bisavó, que passou de moabita a judia. 3) Deixa o exemplo concreto da legislação social da Torá sendo aplicada em Israel, através da lei do levirato, do sistema previdenciário para os mais pobres (podemos dizer assim, em relação a ‘respigar espigas’ deixadas pelos ceifeiros) e do tratamento para com os estrangeiros.

Lamentações [hebraico: Eikhah; איכה ou Kinnot (2 Cr 35: 25) קינות – plural de Qinah, קִינָה, Ez 2: 10; 17; 32; Am 8: 10] – o rolo é lido no 9º dia do mês de ’Abh (Julho-Agosto), o dia do jejum do 5º mês, em todas as comunidades judaicas. Esse jejum instituído pós-exílio babilônico se referia ao mês em que o templo foi queimado (2 Rs 25: 8). Esse livro, que era um cântico de lamento pela destruição do Primeiro Templo, também se tornou um livro para lamento da destruição do Segundo Templo, e a data rabínica estabelecida para lamentar essa destruição foi chamada de Tisha B’Av (9º dia do mês de ’Abh). Para eles, a destruição do Templo envolve o abandono da própria presença divina com eles. ‘Lamentações’ reflete esse sentimento de abandono pela perda da segurança da sua pátria e da aprovação de Deus.

Eclesiastes (hebraico: Kohelet ou Qohelet; קהלת) é lido publicamente em algumas comunidades, especialmente pelos Ashkenazim, no sábado da festa dos Tabernáculos (festa das Cabanas), Sucot (Setembro-Outubro; mês de Tisri). Em outras comunidades não é lido. Eclesiastes é quase que uma inversão dos livros de sabedoria, com uma visão um tanto cética e pessimista da existência humana no mundo, quando Salomão, já velho, vê a futilidade e a vaidade da vida de prazeres que ele teve. A escolha aparentemente irônica desse livro para ser lido na festa das Cabanas, na qual Deus pede uma alegria especial e intensa, ajuda a valorizar e aproveitar a vida nesse mundo com muita alegria.

O livro de Ester (Hebraico: Ester, אסתר) – o rolo é lido em todas as comunidades judaicas na Festa de Purim (Fevereiro-Março, mês de ’adhar). A leitura pública é feita duas vezes: na noite de Purim e de novo na manhã seguinte. Purim celebra a salvação do povo judeu do massacre pelos persas. O livro conta a história de Ester e seu tio Mordecai na Diáspora, conseguindo superar uma ameaça existencial voltada a todo o povo judeu morando longe de sua terra. Apesar de o nome de Deus não ser mencionado diretamente no livro, mesmo em condições adversas Seu povo deve ter esperança na libertação de toda opressão.

c) Livros históricos: Daniel (Daniyyel), Esdras-Neemias, Crônicas. No Hebraico, 1 e 2 Crônicas (Divre Hayyamim), junto com Esdras–Neemias (Hebr.: Ezra), formam um único livro, por isso são ao todo onze livros (Onze Kethūvīm).

Daniel viveu na Corte Babilônica após o exílio, e depois na Corte Persa (quando Ciro conquistou a Babilônia), onde ele começou interpretando os sonhos do rei Nabucodonosor e depois recebeu suas próprias visões em relação ao domínio de Israel por grandes impérios pagãos, os quais ‘no tempo do fim’ seriam derrotados, dando lugar à restauração do povo judeu. É o único exemplo de literatura apocalíptica judaica a entrar na Bíblia Hebraica.
O livro de Esdras-Neemias (um único livro) descreve o fim do exílio babilônico e a reconstrução de Jerusalém e o Templo, sob o favor do Império Persa. Seria uma nova fase para o povo judeu, na qual a profecia dos profetas anteriores ao exílio influenciaria e daria lugar ao conhecimento aprofundado da própria Torá por meio de um intenso estudo.
O livro de 1 e 2 Crônicas reconta a história vista na Torá e nos Neviim (mais especificamente, nos Profetas Anteriores), recapitulando de Gênesis a 1 e 2 Reis, mas finalizando agora esse conjunto histórico com o Édito de Ciro, favorecendo o retorno dos exilados para a Terra Prometida e cumprindo a profecia de Jeremias (um dos Profetas Posteriores).

Com esta divisão de livros na bíblia hebraica (i.e., sem considerar a vinda de Jesus como o cumpridor da Primeira Aliança de Deus com os homens e, em particular com Seu povo), ela ‘não se fecha’, ou seja, a história do povo judeu desde então continua em aberto, baseada na esperança da restauração completa de Israel de maneira física. Em outras palavras, levando em consideração esses últimos livros e os profetas posteriores, o ciclo iniciado com o retorno dos judeus do exílio babilônico ficou em aberto, pois a restauração completa de Israel na sua terra sob um rei davídico e um Templo contendo a Arca sagrada não chegou a acontecer. Esdras e os demais homens inspirados por Deus seriam, por assim dizer, os ancestrais dos rabinos que escreveriam a Mishná e o Talmude, a saber, os estudiosos da Torá, independente destes alcançarem ou não o Espírito de Profecia (Ruwach HaKodesh, literalmente, o Espírito Santo).

A bíblia cristã

Para nós, cristãos, a divisão é parecida para os 39 livros do AT, mas separados por temas, não mais por períodos da história da Israel:
1) Os livros da Lei: os cinco primeiros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
2) Poéticos e sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos de Salomão.
3) Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.
4) Proféticos: Profetas maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações [de Jeremias], Ezequiel, Daniel) e profetas menores (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias).

O NT (que em Hebraico é chamado HaBrit Hadasha – הברית החדשה) contém 27 livros:
1) Quatro evangelhos
2) Atos dos Apóstolos
3) 21 Cartas escritas por Paulo e outros homens de Deus
4) Apocalipse

Período em que a bíblia foi escrita

Enquanto a escrita dos livros do AT (em hebraico) foi espalhada num período de mil ou mais anos, os livros do NT (em grego) foram escritos dentro de um único século. A compilação total de todos os livros ocorreu, provavelmente, antes do século IV DC. A bíblia contém, então, 66 livros e aproximadamente 44 autores.

Livros apócrifos

Existem certos livros chamados apócrifos (O termo ‘apócrifo’ – apocryphus – foi criado por Jerônimo, no século VI), ou seja, documentos judaicos sem autenticidade comprovada, pois não são considerados pelo Cânon Eclesiástico como inspirados pelo Espírito Santo, mas escritos por homens sem a participação divina. A maioria deles foi escrita num período de 400 anos, desde Malaquias até o nascimento do Messias, o “período de silêncio de Deus”, pois os homens se afastaram demais da Sua presença e Ele não mais lhes falou através dos profetas.

Os apócrifos são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão (o Livro da Sabedoria), Eclesiástico (ou Livro de Ben Siraque), 1 Macabeus, 2 Macabeus, as adições ao livro de Ester; o livro de Baruque; a carta de Jeremias; adições de Daniel (Oração de Azarias, o cântico dos três hebreus, a história de Susana e a história de Bel e o Dragão). A Vulgata Latina decidida pelo Concílio de Trento em 1546, publicada só em 1592, também inseriu os livros de 1 e 2 Esdras e a oração de Manassés (do livro de Odes).

Os católicos romanos e ortodoxos dão outro nome para os livros ‘apócrifos’. Eles os chamam de ‘deuterocanônicos’, que significa ‘pertencente ao segundo cânon’, se referindo aos livros apócrifos do AT. Outra nomenclatura para esse tipo de livro é ‘livros Pseudocanônicos’, que incluem os apócrifos do AT e os livros escritos por comunidades cristãs do NT. São muitos: 1 e 2 Esdras, o livro de Odes (uma coleção de cânticos e preces, dentre os quais destaca-se a Oração de Manassés), o salmo 151; 3 e 4 Macabeus; 1, 2 e 3 Meqabyan (Macabeus Etíopes); o livro dos jubileus (Gênese menor ou Leptogênese – antiga obra religiosa judaica de 50 capítulos), Paralipomena de Baruque [da Igreja Ortodoxa Etíope. A obra contém alguns acréscimos ao Livro das Lamentações: a epístola aos cativos (Lm 6), distinta da Carta de Jeremias (Baruque 6), e a profecia contra Pasur (Lm 7: 1-5, cf. Jr 20: 1-6)] e o ‘Cânon mais amplo’ (com 81 livros, usado pela Igreja Ortodoxa Eritréia Tewahedo e Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo. Tewahedo é o nome comum dado às duas igrejas, que antes de 1959 pertenciam à Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria), além dos apócrifos anteriormente citados. A Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo (Etíope ou Copta) admite também o Primeiro livro de Enoque. Vamos falar um pouco sobre ele (fonte: wikipedia.org):

O Primeiro livro de Enoque

O ‘Primeiro Livro de Enoque’ é também chamado 1 Enoque; em ge’ez: mätṣḥäfä henok. Ge’ez, também chamado de etíope, é uma antiga língua semítica que se desenvolveu na atual região da Eritréia e norte da Etiópia no Chifre da África, como a língua dos camponeses. Posteriormente veio a se tornar a língua oficial do Reino de Axum e da corte imperial da Etiópia. O ‘Primeiro Livro de Enoque’ é grandemente conhecido pela sua versão em etíope e mais tarde pelas traduções gregas. Ele teria sido escrito por Enoque, ancestral de Noé, contendo profecias e revelações. Sete cópias importantes em etíope, embora não idênticas na totalidade, foram encontradas em Qumran, em conjunto com cópias do Livro dos Gigantes referenciadas no capítulo IV do Primeiro livro de Enoque. Alguns arqueólogos e historiadores sugerem que a composição dos primeiros capítulos aconteceu a partir do século III AC, mais precisamente entre 200 AC (as seções mais antigas, como o Livro dos Vigilantes) e a parte mais recente (Livro de Parábolas) provavelmente data de 100 AC.

A versão Etíope ou Copta cita os capítulos:
• 1–36: O Livro dos Vigilantes (ou Sentinelas, ou ainda, Observadores; conta a queda dos anjos e a origem dos ‘Nefilins’ ou gigantes; enumera os nomes aramaicos dos vinte chefes dos anjos caídos e narra as viagens de Enoque nos céus);

• 37–71: O Livro de Parábolas (também chamado: O ‘Similitudes’ de Enoque) dá mais ênfase a sua especulação a respeito do ‘Filho do Homem’ na versão do Qumran do que na versão etíope. O Livro das Parábolas apresenta um desenvolvimento posterior da idéia de julgamento final e de escatologia. O Livro das Parábolas usa a expressão Filho do Homem para o protagonista escatológico, também é chamado de ‘Justo’, ‘Escolhido’ e ‘Messias’, e senta-se no trono da glória no julgamento final. Mas não faz nenhuma menção ao livro bíblico de Daniel;

• 72–82: O Livro Astronômico (também chamado de Livro dos Luminares Celestiais ou Livro dos Luminares; uns pesquisadores dizem que essa parte é mais desenvolvida na versão etíope do que na versão de Qumran; outros, dizem o contrário). Este livro contém descrições do movimento dos corpos celestes e do firmamento, como um conhecimento revelado a Enoque em suas viagens ao céu e descreve um calendário solar que mais tarde foi descrito também no Livro dos Jubileus que foi usado pela seita do Mar Morto, mas incompatível com as festas judaicas comemoradas no Templo de Jerusalém;

• 83–90: O Livro dos Sonhos contém uma visão da história de Israel até a Revolta dos Macabeus, como foi interpretado pela maioria, e a história do mundo até a fundação do reino messiânico;

• 91–108: A Epístola de Enoque dá uma exposição profética do reinado de mil anos do Messias. Nessa epístola a história do mundo usa uma estrutura de dez períodos (denominados ‘semanas’), dos quais sete referem-se ao passado e três a eventos futuros (o julgamento final). O clímax ocorre na sétima parte da décima semana, onde ‘novo céu aparecerá’ e ‘haverá muitas semanas sem número para sempre, e tudo permanecerá em bondade e justiça’. A parte do Nascimento de Noé aparece em fragmentos de Qumran separados do texto anterior. Fala do Dilúvio e de Noé, que já nasce com a aparência de um anjo.

O ‘Primeiro livro de Enoque’ não foi considerado canônico nem pelos judeus nem pelos cristãos do AT, nem consta da versão grega do AT (Septuaginta), nem entre os livros Deuterocanônicos. Mas a bíblia Etíope (Copta) admite o Primeiro livro de Enoque. Seu conteúdo é realmente muito diferente dos escritos bíblicos, bastante místico, no mínimo escrito por uma mente fértil ou ‘mal inspirada’ por algum tipo de entidade que não Deus.

Vários fragmentos aramaicos encontrados nos Manuscritos do Mar Morto, bem como fragmentos gregos e latinos koiné, são a prova de que o Livro de Enoque era conhecido pelos judeus e pelos primeiros cristãos do Oriente Próximo. Os autores do Novo Testamento também estavam familiarizados com algum conteúdo da história. Uma pequena seção de 1 Enoque (1: 9) é citada na Epístola de Judas do Novo Testamento, Judas 1: 6; 14-15, e é atribuída a ‘Enoque, o sétimo depois de Adão’ (1 Enoque 60: 8). Também foi alegado que a Primeira Epístola de Pedro (1 Pe 3: 19-20) e a Segunda Epístola de Pedro (2 Pe 2: 4-5) fazem referência a algum material enoquiano.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja SUD) não considera 1 Enoque como parte de seu cânon padrão, embora acredite que um suposto Livro ‘original’ de Enoque foi um livro inspirado, inclusive mencionado no ‘Livro de Moisés’, publicado pela primeira vez na década de 1830.

Por outro lado, o ‘Segundo Livro de Enoque’ (abreviado como 2 Enoque e também conhecido como Enoque Eslavo ou Segredos de Enoque) é um texto pseudepigráfico do gênero apocalíptico. Pseudepigrafia (do grego ψευδεπιγραφία) é o estudo dos pseudepígrafos ou pseudepígrafe, que são textos aos quais é atribuída falsa autoria ou um título falso. O ‘Segundo Livro de Enoque’ descreve a ascensão do patriarca Enoque, ancestral de Noé, por dez céus em um cosmos no centro da Terra, o que corresponde intimamente às primeiras crenças medievais sobre a estrutura metafísica do universo. O texto foi perdido após vários séculos e recuperado e publicado no final do século XIX. O texto completo existe apenas na Igreja eslava (Russa e Búlgara), mas fragmentos Coptas são conhecidos desde 2009. A versão búlgara antiga em si representa uma tradução de um original em grego. A autoria do ‘Segundo Livro de Enoque’ é discutida. Ele não está incluído nos cânones judaicos ou cristãos e se distingue do ‘Primeiro Livro de Enoque’ e ainda um ‘Terceiro Enoque’.

Versões mais conhecidas entre os cristãos

1) Septuaginta ou versão dos setenta: conhecida pela sigla LXX, é a mais importante tradução grega do AT, bem como a mais antiga tradução influente em qualquer idioma. A origem é incerta; provavelmente foi escrita por volta de 250 AC, no reinado de Ptolomeu Filadelfo ou Ptolomeu II (285-247 AC). Esse rei fez um apelo ao sumo sacerdote de Jerusalém para ter uma tradução das Escrituras hebraicas para sua biblioteca real. O sacerdote lhe enviou setenta e dois anciãos a Alexandria com uma cópia oficial da Lei. Ali, em setenta e dois dias, fizeram uma tradução que foi lida perante a comunidade judaica apresentada ao rei. Por causa do número de tradutores, essa tradução tornou-se conhecida como Septuaginta. Essa foi a Septuaginta original. Os livros restantes do AT foram sendo traduzidos aos poucos, posteriormente: os livros canônicos algum tempo antes de 117 AC, enquanto que os livros apócrifos foram traduzidos até o início da era cristã. A Septuaginta foi escrita em grego koiné (popular). A Septuaginta não é aceita na literatura rabínica, pois segundo eles os conteúdos têm um sentido diferente e por questões técnicas e religiosas o nome de Deus não pode ser traduzido.

2) Vulgata: a versão latina da bíblia. Esta revisão foi empreendida por Jerônimo no século IV a pedido do papa Damaso em 382 DC. Ele se baseou nos textos gregos da Septuaginta, embora existam fontes de pesquisa dizendo o contrário: que a Vulgata foi traduzida diretamente do texto hebraico original. O nome vem da expressão “vulgata versio”, isto é, “versão de divulgação para o povo”, e foi escrita em um latim cotidiano, assim como a Septuaginta havia sido escrita em grego koiné (popular).

No século VI DC surgiu a Massorá, que é o conjunto de comentários críticos e gramaticais acerca da bíblia, sobretudo do AT, feitos pelos doutores judeus. Os massoretas (literalmente: transmissores) substituíram os antigos escribas (sopherim) como guardiões do texto sagrado. Estiveram em atividade desde cerca de 500 DC até cerca de 1.000 DC. A escrita das consoantes apenas foi processo adequado enquanto o hebraico continuou sendo um idioma falado. Quando aparecia uma palavra que poderia ser ambígua, eram usadas letras vogais para deixar o texto mais claro. Os massoretas criaram os sinais vocálicos e a pontuação ou sinais de acentuação, que foram adicionados ao texto consonantal.

Resumindo: enquanto a Septuaginta foi uma tradução grega da bíblia hebraica para os povos gentios, a Massorá foi uma versão moderna escrita em hebraico para os próprios judeus, usando vogais, pois o hebraico falado na época de Moisés não mais existia.

O fato é que as Escrituras que os judeus possuem não são os manuscritos originais da época de Moisés; são apenas cópias das cópias, por isso muitos destes documentos diferem entre si. Em 1947 se descobriram os manuscritos do Mar Morto, quando uma cópia completa de Isaías, fragmentos de Gênesis, Levítico, Deuteronômio e Juízes foram encontrados. Estes manuscritos datam do século I ou II DC no máximo. Há uma evidência indireta de que eles vêm da Septuaginta, escrita no século III AC, e do chamado Pentateuco Samaritano, do IV século DC. Há diferenças entre este último texto e o texto hebraico, mas, são de pouca importância.

O autor, a data em que cada livro foi escrito e seu conteúdo


Bíblia

O Antigo Testamento

Gênesis: abrange o início da Criação e a queda do homem até o dia que Israel chegou ao Egito e se tornou nação (por volta de 1800 AC), passando por toda a história dos patriarcas. Foi provavelmente escrito por Moisés por volta de 1440 AC por revelação divina ou por antigos relatos escritos e orais. Deve-se buscar em Gênesis a relação entre Deus e a humanidade, quebrada no Éden e em vários ciclos de pecado e arrependimento, e restaurada por sacrifícios e encontros com Ele (as alianças). Gênesis, em hebraico: Bereshit = no início, no princípio.

Êxodo: (Hebr.: Shemot = Êxodo). O autor é Moisés e foi composto por volta de 1440 AC. Abrange a saída do Egito (1446 AC) e a entrada em Canaã (1406 AC). O Êxodo se deu em 1446 AC (cf. 1 Rs 6: 1, pois o reinado de Salomão ocorreu no período de 970-931 AC).

Levítico: escrito por Moisés por volta de 1440 AC. Fala das leis, regras e relacionamentos com Deus e com a sociedade, leis para a vida social e religiosa, pois diz respeito aos levitas e a como deveriam conduzir corretamente a adoração. Levítico é chamado “O livro das Leis”. Em hebraico, seu nome é wayyiqrã, que significa: “ele chamou”, porque o livro inicia justamente com a frase: “Chamou o Senhor a Moisés e, da tenda da congregação, lhe disse:...”.

Números: quem escreveu foi Moisés, por volta de 1406 AC. Fala sobre os quarenta anos passados na peregrinação no deserto desde o Sinai até as margens do rio Jordão em frente a Jericó: três meses do Egito até o Sinai e um ano acampados ao pé desse monte, mais trinta e oito anos e nove meses vagando pelo deserto, após o castigo determinado por Deus para os rebeldes. Neste livro, contam-se as famílias que saíram do Egito em busca da Terra Prometida. Também conta histórias que mostram o pecado do homem e a ira de Deus, assim como Sua misericórdia para com os que se voltam para Ele. Em hebraico: Bamidbar = “no ermo”, por causa de Nm 1: 1: “No segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito, no primeiro dia do segundo mês, falou Deus a Moisés, no deserto [ermo] do Sinai, na tenda da congregação...”.

Deuteronômio: Moisés é o autor, por volta de 1406 AC. Ensina o povo como ser livre, gozando da plena vontade de Deus no exercício da fé, que se torna ativa quando brota de um relacionamento vivo com um Deus de amor. Registra as palavras finais de Moisés aos israelitas antes de entrarem na Terra Prometida ordenando-lhes a obedecerem a Deus e a rejeitarem todas as formas de idolatria para não morrerem como seus pais morreram no deserto. Deuteronômio (Devarim) significa: repetição das leis.

Josué: Talvez escrito por Josué ou os sacerdotes Eleazar e Finéias, por volta de 1390 AC. Fala da entrada na Terra Prometida e de sua conquista, “a segunda chance” de Deus, já que tinham falhado da primeira vez e ficaram quarenta anos no deserto.

Juízes: Começaram a governar por volta de 1375 AC. Mostra a ascensão e queda do povo no relacionamento com Deus em vários ciclos consecutivos. Escrito, provavelmente, por Samuel ou qualquer outro profeta, por volta de 1050-1000 AC. O livro abrange mais ou menos trezentos e cinqüenta anos onde doze juízes julgaram sucessivamente a Israel, entre eles, uma mulher: Débora. Mais do que consultores jurídicos, eram líderes locais que passaram a ter destaque em toda a nação por conta de suas vitórias militares.

Rute: Provavelmente, uma história passada no período dos juízes (1375-1050 AC) e escrita por Samuel ou autor desconhecido, por volta de 1000 AC. Conta a história de Rute que, mesmo sendo estrangeira, viúva, sem filhos, pobre e abandonada, encontrou seu lugar numa nova comunidade.

1 Samuel: Autor anônimo. Os profetas Samuel, Natã e Gade mantiveram registros (1 Cr 29: 29) que, mais tarde, talvez, tenham sido compilados, formando assim 1 e 2 Samuel. Há quem acredite que historiadores oficiais da corte (cronistas) tivessem registrado esses acontecimentos (2 Sm 8: 16-17; 1 Rs 4: 3). O livro pode ter sido escrito por volta de 900 AC, após a divisão do reino do Norte e do reino do Sul. Mostra a história do relacionamento de Deus com o Seu povo. É a transição entre a era em que os juízes governaram em Israel e o período dos reis.

2 Samuel: Autor anônimo, por volta de 925 AC. Traça a história de Israel desde a morte de Saul até o fim do reinado de Davi (mais ou menos 1010-970 AC). Mostra também os detalhes mais importantes do reinado de Davi e a mão de Deus sobre os acontecimentos.

1 Reis: A tradição judaica considera o profeta Jeremias o autor desse livro ou autor desconhecido que tenha usado os documentos preexistentes, como o livro da história de Salomão (1 Rs 11: 41), o livro da história dos reis de Israel (1 Rs 14: 19) e o livro da história dos reis de Judá (1 Rs 14: 29) ou outras fontes (1 Cr 29: 29; 2 Cr 9: 29; 2 Cr 12: 15). Provavelmente foi escrito durante o exílio babilônico dos judeus, por volta de 560 e 550 AC. Abarca os últimos dias de Davi, o reinado e a queda de Salomão, além da divisão do reino em Israel e Judá (971-846 AC).

2 Reis: Provável autor: Jeremias ou desconhecido. Inicialmente, fazia parte de 1 Reis e foi, provavelmente, escrito após a queda de Jerusalém em 586 AC, mas antes de 550 AC. Trata dos acontecimentos entre 853 e 562 AC. Foi escrito para preservar a história de Judá e Israel para os judeus que estavam vivendo no exílio na Babilônia. O autor queria que os leitores aprendessem as lições da História, lembrando-os das conseqüências da infidelidade para com Deus. O livro de reis foi dividido em duas partes no século II AC por ocasião da Septuaginta. Um rolo teria sido suficiente para o hebraico (que não usa vogais). Mas o grego (que precisa das vogais) exigiria o dobro do espaço. 2 Reis mostra as conseqüências da idolatria: a derrota de Israel (722 AC) e seu cativeiro na Assíria e a derrota de Judá (586 AC) e seu cativeiro na Babilônia.

1 Crônicas: Tradicionalmente, a autoria é atribuída a Esdras, entre 450 e 400 AC. Foi escrito para um povo que retornava do exílio, perguntando se ainda se enquadrava nos planos de Deus. O propósito do autor era que os israelitas reconhecessem suas raízes santas e reencontrassem sua herança. Abrange a genealogia do povo, a morte de Saul, o reinado de Davi e a proclamação de Salomão como rei de Israel.

2 Crônicas: Quem o escreveu foi Esdras, sacerdote e escriba em fins de 400 AC. Embora o livro abarque o período desde o reinado de Salomão (970 AC) até a queda de Jerusalém (586 AC), foi escrito para os que estavam retornando do cativeiro e reconstruindo a sociedade.

Esdras: Esdras talvez o tenha escrito junto com o livro de Neemias, por volta de 430 AC. Na bíblia hebraica original, Esdras e Neemias compõem um só livro. Descendente de Arão, Esdras era sacerdote e escriba (copista da lei de Moisés) – Ne 12: 26. Os acontecimentos relatados em Neemias foram concluídos um pouco depois de 440 AC. Esdras fala da reconstrução do templo, das dificuldades encontradas e das medidas drásticas exigidas para expurgar a impureza dos exilados que se uniram aos idólatras da terra.

Neemias: Esdras o compôs junto com o livro anterior, por volta de 430 AC. O episódio de Neemias se deu entre 445 e 432 AC. A Pérsia conquistou a Babilônia em 539 AC e depois permitiu que os judeus retornassem a Jerusalém (538 AC). O templo tinha sido reconstruído, mas os muros permaneciam em ruínas. O livro fala da reconstrução dos muros e da maneira pela qual Neemias equilibrou espiritualmente as ações práticas.

Ester: Escritor desconhecido, mas, provavelmente, um judeu consagrado como Mordecai, Esdras ou Neemias por volta de 460-350 AC. Ester veio a ser rainha em 479 AC. O autor relata a história de Ester na Pérsia, como veio a ser rainha e como Deus a usou em prol do Seu povo. Relata também a festa de Purim e a proteção de Deus sobre eles.

Jó: Autor desconhecido. Cogita-se Jó (embora não seja Israelita), Eliú, Moisés, Salomão, Isaías, Ezequias ou Baruque (amigo de Jeremias). Os antecedentes culturais e históricos parecem remontar aos tempos de Gênesis (uma vez que se faz menção de Elifaz, o temanita, um dos amigos de Jó – Jó 2: 11 etc.). Temã (têmãn) foi neto de Esaú (Gn 36: 11; 1 Cr 1: 36), e talvez tenha dado seu nome ao distrito, norte de Edom (Jr 49: 20; Ez 25: 13; Am 1: 12). Seus habitantes eram famosos por causa de sua sabedoria (Jr 49: 7; Ob 8 e seg.). Acredita-se que a história de Jó foi transmitida oralmente, de geração em geração, e só depois registrada por escrito. O livro foi escrito para lidar com a questão do sofrimento e da injustiça; também para nos alertar contra as acusações falsas que vêm dos supostos amigos.

Salmos: A maior parte dos salmos foi escrita durante os reinados de Davi e Salomão (1010-930 AC). Os autores são diversos: Davi (71 salmos, não necessariamente do nº 1 ao 71º como muitos pensam, pois há salmos posteriores reputados a Davi: 86, 96, 101, 103, 105, 108, 109, 110, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145), Asafe (Sl 50; 73-83), os descendentes de Coré (Neto de Coate e bisneto de Levi; por exemplo: Sl 42-49; 84; 85; 87), Hemã (Sl 88), Etã (Sl 89), Salomão (Sl 72 e 127), Moisés (Sl 90), Esdras (Sl 119) e outros autores (Sl 92; 93; 94; 95; 97; 98; 99; 100; 102; 104; 106; 107; 111; 112; 113; 114; 115; 116; 117; 118; 120; 121; 122; 123; 124; 125; 126; 128; 129; 130; 131; 132; 133; 134; 135; 136; 137; 146; 147; 148; 149; 150). O salmo 91 ninguém tem certeza de quem escreveu.

‘Salmos’, em hebraico, são chamados tehillïm, que significa ‘cânticos de louvor’. Na Septuaginta, os salmos são chamados pelo nome de ‘saltério’ (Psaltírio, ψαλτήριο, ou Psaltíri, ψαλτήρι), o nome de um instrumento musical bastante conhecido na Antiguidade; em latim, ‘salmo’ é escrito como ‘salterium’.

Os salmos são auxílios na adoração, na oração e na instrução a respeito de Deus. Revelam as emoções dos seus autores diante de várias situações, mostrando que são iguais a nós quanto à manifestação dos seus sentimentos mais profundos. O salmo 30 era empregado na festa da Dedicação do Templo (a ‘Festa das Luzes’, depois do período do segundo templo) e o salmo 92 era empregado no sábado (Shabbat). Os salmos 120 a 134 são chamados ‘salmos de ascensão, peregrinação ou romagem’, pois geralmente eram cantados após a volta do exílio babilônico por judeus que subiam a Jerusalém nas festas.

Selá

Frequentemente, nós podemos ver nos salmos a palavra Selá.
Selá (סלאח, transliterada como selāh ou selâ) é uma palavra usada freqüentemente na bíblia hebraica, 71 vezes em 39 dos 150 salmos, na maioria dos casos no final de um verso, e três vezes no terceiro capítulo de Habacuque (Hc 3: 3, 9 e 13). Selá provavelmente registraria uma pausa na música, em grego traduzida às vezes por aei (ἀεί), significando ‘sempre’, ou eis telos (em grego: εἰς τέλος, ‘no fim’), parecendo indicar uma bênção litúrgica semelhante a ‘Amém e Aleluia’. Então, os adoradores deveriam elevar as vozes, clamando “Bendito seja Yahweh para sempre” ou “Yahweh vive para sempre”.

Outras fontes dizem que selá significa ‘elevação’, pois vem da raiz hebraica (calah), que significa ‘suspender’ e por implicação medir (peso), indicando moderação nas palavras; então, pode estar ligada a um sinal litúrgico de elevação (salal, ‘elevar’), para que fossem elevadas as mãos em atitude de oração ou uma orientação musical dada aos cantores ou à orquestra para elevar, isto é, cantar ou tocar mais forte, ou um acompanhamento mais alto.

Na NVI, por exemplo, no salmo Sl 140, depois dos vs. 3, 5, 8, a palavra selá (selah) está traduzida como ‘pausa’, o que significaria uma pausa para reflexão. Seria semelhante à Septuaginta, onde selah foi traduzida por diapsalma (em grego: διάψαλμα), que significa: intervalo, interlúdio, mudança de tom; um sinal indicativo para que nesse ponto o adorador se prostrasse, se levarmos em consideração que selah seja um termo derivado de uma raiz aramaica s-l, significando ‘prostrar-se’. Também aparece no salmo 3 (depois dos vs. 2, 4, 8); no salmo 24 (depois dos vs. 6 e 10), no salmo 46 (depois dos vs. 3, 7 e 11) e no salmo 143 (depois do v. 6).

Habacuque, avaliando as calamidades que viriam sobre seu país e os subsequentes castigos sobre os caldeus, terminou seu livro com uma sublime e poética prece, na qual aparece três vezes a palavra ‘Selá’ (Hc 3: 3, 9 e 13), provavelmente indicando sua meditação sobre o que viria.

Na verdade, sua etimologia e significado são imprecisos.
O termo não deve ser confundido com sela‘ ou cela`, que significa ‘rocha’ e era o nome de uma cidade dos tempos bíblicos, hoje uma cidade da Jordânia, chamada Petra.

Provérbios: Autores: Salomão, Agur, Lemuel (talvez um rei não Israelita). Provavelmente escritos por volta de 935-930 AC, mas compilados mais ou menos em 700 AC. O objetivo é mostrar como a sabedoria de Deus serve para a vida real. O provérbio é uma verdade condensada em poucas palavras, sendo pertinente a várias situações da vida.

Eclesiastes: Talvez, escrito por Salomão (Ec 1: 1; Ec 1: 12; Ec 2: 8-9, provavelmente já idoso, após ter sido punido por Deus por causa de sua idolatria, por isso vendo a vaidade da vida) ou por um pregador anônimo (ou professor ou líder de assembléia) que, simplesmente, falou da perspectiva de um rei. Oferece uma filosofia de vida, usado pelos judeus como livro de instrução, mostrando como descobrir relevância espiritual numa vida que de outra forma seria irrelevante. Época em que foi provavelmente escrito: por volta do século X AC.

Cânticos: Salomão ou um autor desconhecido. Escrito, provavelmente, por volta do século X AC. A atribuição tradicional do livro a Salomão (séc. X AC) se baseia nas referências feitas a ele (Ct 1: 1; Ct 3: 7; Ct 3: 9; Ct 3: 11; Ct 8: 11), especialmente no versículo do título (Ct 1: 1). Alguns acham que Salomão escreveu este cântico na sua juventude, antes de adquirir seu enorme harém. Outros acham que o livro de Cânticos reflete o amor de um jovem pastor israelita e de sua noiva, criando a fantasia de serem rei e rainha por um dia. A bíblia diz que Salomão compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco (1 Rs 4: 32), por isso, não seria estranho pensar que foi ele realmente o autor deste livro, assim como Eclesiastes e a maioria dos Provérbios. Há uma grande controvérsia quanto à interpretação, tanto por parte dos judeus quanto dos cristãos, uns levando para o lado do amor humano, outros para o relacionamento de Deus com um povo. Seja como for, o amor é dádiva de Deus.

Isaías: Isaías, filho de Amoz, por volta de 700-680 AC. Seu ministério em Judá foi de 740 a 681 AC. Fala da posição dupla do povo de Israel diante de Deus, sua acomodação e falta de amor verdadeiro ao Senhor. Isaías trabalhou para dar ao povo a clareza dessa hipocrisia na esperança de mudarem de atitude. Em 722 AC houve o exílio de Israel e em 586 AC, o exílio de Judá. Durante seu ministério quatro reis de Judá reinaram. Por meio de Isaías e de sua profecia, Deus mostrou ao povo Seus dois lados: misericórdia e juízo, justiça e perdão, exílio e salvação. Profetizou a vinda do Messias, por isso foi chamado de profeta messiânico.

Jeremias: Jeremias, durante seu ministério: 626-585 AC. Os últimos versículos foram acrescentados depois, mais ou menos 25 anos após a destruição de Jerusalém. Foi sacerdote e profeta (seu pai Hilquias era sacerdote da descendência de Abiatar, que oficiou no reinado de Davi, e da linhagem de Itamar, irmão de Eleazar, filho de Arão). Seu assistente, Baruque, anotou as profecias à medida que Jeremias as ditava. Recebeu ainda jovem o chamado de profeta (por volta do início de sua 2ª década de vida) para chamar o povo para Deus, antes que chegasse a destruição. Depois da queda Jerusalém, foi forçado a fugir para o Egito e supõe-se que ali tenha morrido na cidade de Tafnes.

Lamentações: Jeremias, pouco depois da queda de Jerusalém diante dos babilônios em 586 AC ou, talvez, um escritor anônimo, levando-se em conta algumas possíveis contradições no estilo literário entre seu livro profético (Livro de Jeremias) e o livro de Lamentações, por exemplo, ao ser mencionado o julgamento sobre Zedequias (Lm 4: 20 cf. Jr 24: 8), a esperança de ajuda por parte do Egito (Lm 4: 17 cf. Jr 37: 7) e a aceitação do sofrimento por causa de pecado dos pais (Lm 5: 7 cf. Jr 31: 29-30). Mas, com certeza, foi escrito por alguém que presenciou a destruição de Jerusalém pelos babilônios. É para quem já sofreu uma grande perda e manifesta a grande tristeza de uma nação.

Ezequiel: Ezequiel, o sacerdote levado cativo para Babilônia, onde começaram suas visões proféticas, escrevendo-o entre 592 e 571 AC. O primeiro retorno dos exilados a Jerusalém só se deu em 538 AC. Escreveu para os que estavam com ele no exílio, tentando reanimá-los, dizendo que Deus os levaria de volta à sua terra. Temas principais do livro:

• Advertências do juízo vindouro sobre a Jerusalém impenitente.
• Promessas de juízo sobre outras nações.
• Palavras de esperança para o futuro de Israel.
• Visão do novo templo e do país restaurado.

Daniel: Daniel, membro de uma família real de Judá e que foi levado à Babilônia por volta de 605 AC. Provavelmente foi escrito entre 536 e 530 AC, pouco depois de Ciro conquistar a Babilônia em 539 AC. Fala da fidelidade de Deus e Seu poder sobre os líderes e os impérios, sempre comprovando Sua superioridade sobre todos os demais deuses. A História fala sobre três etapas do exílio de Judá: 605, 597, 586 AC.

Oséias: Oséias, profeta de Israel, do reino do Norte por volta de 715 AC (seu ministério profético foi de 755 a 715 AC, abarcando o exílio de Israel em 722 AC). Conta o amor de Oséias por Gômer, sua esposa infiel, que ilustra o amor de Deus por nós, mesmo quando lhe somos infiéis. Jeroboão II (782-753 AC) foi um rei ímpio cujo domínio produziu uma sociedade materialista, imoral e injusta. Os seis reis que se seguiram nos próximos vinte e cinco anos contribuíram para a queda de Israel em 722 AC.

Joel: Joel, numa época desconhecida. Pode ter sido quando o rei Joás ainda era uma criança (835 AC). Profetiza a descida do Espírito Santo e vincula a obra de Deus no AT ao nascimento da Igreja no NT. Mostra o desejo intenso de Deus de ter intimidade com todo o Seu povo. Joel conclamou o povo a se voltar para Deus.

Amós: Amós, entre 760 e 750 AC, antes do exílio de Israel em 722 AC. Ele era um pastor de Judá sem credenciais conhecidas, a não ser o fato de que tinha uma palavra da parte de Deus (Am 7: 14-15). Amós fala sobre o descontentamento divino contra a exploração dos mais pobres e indefesos, assim como critica o materialismo e o baixo nível moral de Israel, que tinha absorvido dos seus vizinhos pagãos (Am 2: 8-16).

Obadias: Obadias, em época desconhecida (profetizou entre 605 e 583 AC, no tempo do exílio). Fala sobre a rixa entre Israel e Edom (parente distante de Israel por meio de Esaú), pois quando o reino de Judá foi invadido e conquistado pela Babilônia, Edom não só não os apoiou, mas ajudou a saquear o reino do Sul, entregando os israelitas aos seus inimigos. A primeira etapa que Judá foi levado à Babilônia foi em 605 AC, mais ou menos. Deus condenou os edomitas pela arrogância e pela traição.

Jonas: Jonas, entre 785 e 750 AC no reinado de Jeroboão II, rei de Israel (782-753 AC – 2 Rs 14: 25). Fala da compaixão de Deus por todo o Seu povo e Seu desejo de arrependimento sincero, independentemente do que a pessoa tenha feito.

Miquéias: Miquéias, por volta de 742 a 687 AC, durante os reinados de três reis de Judá: Jotão (740-732 AC), Acaz (732-716 AC) e de Ezequias (716-687 AC). Miquéias escreveu para os habitantes de Judá a fim de adverti-los de que o juízo divino era iminente por haverem rejeitado Deus e Sua lei. Falava também que a nação acabaria sendo restaurada.

Naum: Naum, entre 663 AC (quando o Egito já estava nas mãos da Assíria) e 612 AC (quando a Assíria foi conquistada pela Babilônia, e quando ocorreu a queda de Nínive), mais ou menos cem a cento e cinqüenta anos depois de Jonas entregar a mensagem de Deus a Nínive, capital da Assíria. Naum faz lembrar que o Senhor detém o controle da História e que não permitirá que o mal prevaleça para sempre.

Habacuque: Habacuque, profeta de Judá, mais ou menos entre 610 e 597 AC, durante o reinado do rei Jeoaquim. Fala a Deus como um intercessor do povo pedindo que acabasse com a corrupção de Judá.

Sofonias: Sofonias, durante o reinado do rei Josias em Judá (640-609 AC), mas antes da destruição da cidade de Nínive em 612 AC (profetizada por Naum). Escreveu para o povo de Judá, advertindo-o do juízo de Deus pelos pecados e assegurando que isso abriria o caminho para uma nova sociedade, na qual a justiça prevaleceria e toda a humanidade adoraria ao Senhor.

Ageu: Ageu, mais ou menos em 520 AC. Embora os judeus tivessem iniciado a reedificação do templo dezesseis anos antes dessa profecia (por volta de 536 AC), a oposição dos povos vizinhos conseguia intimidá-los e levá-los a abandonar a obra de reconstrução. Ageu estimula o povo a reconstruir em 520 AC (Ag 1: 1; Ed 4: 24; Ed 5: 1-2). Ageu e Zacarias são os primeiros profetas referidos depois do retorno dos primeiros exilados em 538 AC. A ordem de reconstrução já havia sido dada por Ciro em 539-538 AC, quando teve início o Império Persa. O templo começou a ser edificado em 536 AC, mas parou por dezesseis anos e era por isso que Ageu clamava. Sua conclusão foi em 516 AC. Segundo a História, o segundo retorno dos exilados a Jerusalém (sob comando de Esdras) foi em 458 AC e a reconstrução das muralhas de Jerusalém, em 445 AC (3º retorno: Neemias). Ageu testemunhou a crescente apatia durante aquele período e, ao chegar à idade apropriada, o Espírito de Deus sobre ele operou com o dom da profecia.

Zacarias: Zacarias, em 520 AC, durante o reinado de Dario. Era profeta e sacerdote e nasceu no exílio. Quando jovem, voltou da Babilônia para Jerusalém. Motivou o povo a restaurar o templo e fez predição sobre o Messias.

Malaquias: Malaquias, mais ou menos 440 AC, depois de Israel ter voltado do cativeiro babilônico e depois da reconstrução do templo de Jerusalém (516 AC). Combate o comodismo e a indiferença no meio do povo e dos sacerdotes. Ajuda a reavaliar o relacionamento com Deus.

O Período Intertestamentário

A seguir coloco o período entre Malaquias e Cristo, que compreende os quatrocentos anos, aproximadamente, quando Israel foi dominado pelos pagãos e quando o Senhor deixou de falar ao Seu povo por intermédio dos profetas. Você pode encontrar informações mais detalhadas no tema sobre o Período Intertestamentário.

Período Persa: 539-333 AC.
Por cerca de cem anos após a época de Neemias (445-332 AC), os persas dominaram Judá, mas os judeus tiveram permissão de dar prosseguimento às observâncias religiosas sem enfrentar nenhuma oposição. Nesse período, Judá foi governado por sumos sacerdotes.

O período Helenístico: 333-167 AC.
Em 333 AC os exércitos persas concentrados na Macedônia foram derrotados por Alexandre, o Grande. Para ele, sem dúvida, a cultura grega seria a única força a congregar o mundo. Ele permitiu que os judeus guardassem suas leis e até mesmo lhes garantiu a isenção de tributos e impostos nos anos sabáticos. Por volta de 250 AC, a conquista grega possibilitou a tradução do AT para o grego [a chamada Versão dos Setenta ou Septuaginta, no reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-247 AC)]. Reis: Alexandre, o Grande (330-323 AC), Reinado dos Ptolomeus do Egito e dos Selêucidas da Síria (323-167 AC).

O período Hasmoneano: 167-63 AC.
Hasmon era o nome da família de Judas ben Matatias.
No início desse período da História, os judeus submeteram-se a um jugo muito pesado. Os Ptolomeus tinham sido complacentes para com os judeus, permitindo suas práticas religiosas, mas os Selêucidas empenharam-se tenazmente por impingir-lhes o helenismo. Instituiu-se como lei a destruição dos exemplares das Escrituras, e esse decreto foi cumprido com extrema desumanidade. Os judeus oprimidos se rebelaram sob o comando de Judas Macabeu.

O período Romano:
No ano de 63 AC, o general romano Pompeu conquistou Jerusalém, e as províncias da Palestina se subjugaram ao domínio romano. O governo de cada região ficava parte do tempo a cargo de príncipes e, no restante, sob a responsabilidade de procuradores nomeados pelo imperador. Herodes, o Grande, foi rei de toda a Palestina na época do nascimento de Cristo. Em 476 DC ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente.

O Novo Testamento

Mateus: Mateus, o publicano, um dos doze apóstolos, provavelmente nos primeiros anos da era cristã (50 DC), dirigindo-se fundamentalmente a leitores judeus, pois citou as comprovações do AT em apoio às afirmações que os crentes vinham fazendo acerca de Jesus como o Messias esperado. Faz, assim, a transição da história do AT para a do NT.

Marcos: João Marcos, primo de Barnabé e filho de Maria, a mulher viúva que oferecia sua casa para as reuniões da Igreja Primitiva (At 12: 12; 25; At 13: 13; At 15: 37-39; At 19: 29; At 27: 2; Cl 4: 10; Fm 24). Era teólogo e historiador. Marcos escreveu o livro por volta de 50-65 DC, provavelmente para os crentes gentios habitantes de Roma e para quem ele explica as tradições judaicas de forma clara (Mc 7:1-4; 14: 12; 15: 42).

Lucas: Lucas, médico gentio, companheiro de Paulo. Escreveu a Teófilo, provavelmente um gentio que acabara de se converter, por volta de 59-63 DC. Apresenta a maior variedade de ensino, parábolas e acontecimentos da vida de Jesus. Mostra o interesse de Jesus pelo mundo não judeu e pelos pobres.

João: João, apóstolo de Jesus, mais ou menos entre 80 e 85 DC, provavelmente em Éfeso (Turquia), pouco antes do seu exílio em Patmos (90-95 DC). Escrito para os seguidores não judeus de Jesus, provando que Ele era o Filho de Deus vivendo como homem aqui na terra e, portanto, na sua humanidade, fazendo os prodígios e os milagres do Pai. João registra sete milagres, culminando com a ressurreição do Senhor, que ele considera a prova de que Jesus é o Filho de Deus. Os demais relatos explicam o propósito da Sua vida.

Atos dos Apóstolos: Quem o escreveu foi Lucas, mais ou menos 63 a 70 DC, como historiador, para narrar o que aconteceu após a ressurreição de Cristo. Mostra a vida da Igreja Primitiva, o avivamento e o crescimento dependentes da ação do Espírito Santo.

Romanos: Paulo, ditado a Tércio (Rm 16: 22), mais ou menos 56 DC aos gentios de Roma. Temas principais: fé, graça, justiça, justificação, com o propósito de moldar o caráter do crente.

1 Coríntios: Paulo, provavelmente ditado a Sóstenes (1 Co 1: 1), mais ou menos 54 ou 55 DC, para os cristãos de Corinto, importante cidade comercial da Grécia, onde iniciou uma igreja. Dois a três anos depois de deixá-la, soube de conflitos e divisões tentando ameaçá-la por causa de crentes carnais e espiritualmente arrogantes. Dá conselhos honestos quanto à vida cristã e os relacionamentos na igreja. Segundo alguns autores, a cidade de Corinto tinha mais ou menos 650 mil habitantes, sendo que mais da metade deles eram escravos. Seu interesse era a filosofia grega, a sabedoria e a religião. Ali havia 12 templos dedicados a deuses gregos e era considerada uma cidade de grande imoralidade.

2 Coríntios: Paulo, provavelmente ditado a Timóteo (2 Co 1: 1), mais ou menos em 55 DC. Dá conselhos para resolver conflitos como choque de personalidade entre os membros da igreja, conflitos teológicos sobre falsos ensinos e conflitos culturais entre a igreja e o mundo. Paulo estava acalmando os ânimos, restaurando a unidade da congregação e reafirmando seu papel de líder.

Gálatas: Paulo, mais ou menos 48-53 DC, para os cristãos da Galácia, província romana na região central do que é hoje a Turquia. Corrige os falsos ensinos que se tinham infiltrado nas igrejas que Paulo e Barnabé haviam fundado.

Efésios: Paulo, mais ou menos 60 a 62 DC durante o seu encarceramento em Roma. Escreveu para os efésios, habitantes da cidade de Éfeso, cidade da atual Turquia, para que pensassem sobre si mesmos como novas pessoas em Cristo, pessoas com identidade radicalmente nova. Fala sobre o propósito da vida, ou seja, a eternidade, as pazes com Deus e a identificação com Cristo.

Filipenses: Paulo e Timóteo (Fp 1: 1), quando aguardavam o julgamento mediante apelo ao imperador romano Nero, mais ou menos 60-62 DC (Fp 4: 22). Paulo escreveu para os crentes de Filipos, localizada a nordeste da Grécia (Macedônia). Filipos foi uma colônia romana, o primeiro lugar onde Paulo fundou a primeira igreja em solo europeu por volta de 50 DC (At 16: 11-40). Ele agradecia aos Filipenses por lhe mandarem dinheiro para cobrir suas despesas em Roma. Também os advertiu contra falsos mestres e exortou-os a ter mais unidade.

Colossenses: Paulo e Timóteo (Cl 1: 1), em prisão domiciliar em Roma enquanto esperava julgamento de Nero, mais ou menos 60-62 DC. Colossos era uma pequena cidade localizada a sudoeste da Turquia. Paulo os advertiu contra os argumentos sutis e falsos ensinos que ameaçavam a fé dos colossenses.

1 Tessalonicenses: Paulo (Silvano e Timóteo, 1 Ts 1: 1), mais ou menos 50 DC aos crentes da Igreja da Tessalônica, fundada em sua 2ª viagem missionária. Distúrbios e oposição o haviam forçado a deixá-los antes do desejado, mas as notícias posteriores do progresso da igreja o incentivaram a escrever, elogiando-os por crescerem no Senhor e exortando-os a corrigirem os erros. Dá orientações práticas para os cristãos levarem uma vida santa numa cultura hostil aos valores cristãos.

2 Tessalonicenses: Paulo (Silvano e Timóteo, 2 Ts 1: 1), mais ou menos, 51-52 DC. Temas importantes: sofrimento do cristão, trabalho, tempos do fim.

1 Timóteo: Paulo, talvez 63 DC. Escreveu para Timóteo (1 Tm 1: 2; At 16: 1-5) dando conselhos sobre como conduzir melhor a Igreja de Éfeso frente aos falsos profetas que agiam ali.

2 Timóteo: Paulo, talvez 62-63 DC. Muitos o tinham abandonado na prisão. Paulo escreve para Timóteo (2 Tm 1: 2), colocando sua sabedoria a serviço de Deus. Desafiou Timóteo a ter um ministério mais eficiente.

Tito: Paulo, talvez 62-63 DC. Tito era amigo íntimo e protegido de Paulo e o ajudara a organizar e a dirigir igrejas na região leste do Império Romano. Paulo escreveu essas instruções para ajudar Tito a liderar a conturbada igreja da ilha de Creta, próxima à Grécia.

Filemom: Paulo, entre 60 e 62 DC quando estava preso em Roma. Filemom era cristão rico da igreja de Colosso e seu escravo fugitivo chamado Onésimo foi convertido à fé por Paulo. Ele escreveu a Filemom para que perdoasse seu escravo e o recebesse de volta sem puni-lo.

Hebreus: Paulo, Barnabé, Lucas ou Apolo em 60-70 DC. Forte evidência a favor de Paulo em Hb 13: 19 e 23-24 pela semelhança da frase com outras epístolas, embora o estilo literário pareça ser um pouco diferente das demais epístolas Paulinas. Outros acham que foi Apolo quem a escreveu, por causa do seu profundo conhecimento dos assuntos do AT, pois era um judeu alexandrino. Apolo é a abreviação de Apolônio. O termo hebreu é usado no AT como designação do povo semita. O filho de Noé, Sem, pai dos semitas, era antepassado de Héber (de onde talvez, se origine a palavra hebreu, Gn 10: 21 e 1 Cr 1: 18). Aplicado em sentido mais amplo, o termo inclui outros povos não israelitas como os arameus, os moabitas e os amonitas. O termo parece referir-se mais à cultura do povo que à sua identidade étnica. Hebreus, no NT, eram os primeiros crentes judeus que, por causa da perseguição e das dificuldades, sentiam-se fortemente atraídos a voltar ao estilo de vida segundo o AT. O autor traça contrastes freqüentes entre a lei cerimonial do AT e a fé do NT.

Tiago: Tiago, meio-irmão de Jesus, primeiro bispo de Jerusalém, mais ou menos 40-50 DC, às doze tribos [Tg 1: 1: às pessoas de Israel que se haviam convertido e habitavam em outras nações, ou à Igreja em sentido simbólico (judeus e gentios)]. Tiago advertiu os crentes sobre alguns hábitos que haviam adquirido e que corroíam a essência da sua fé: favoritismo, hipocrisia, calúnias, orgulho, mau uso das riquezas e falta de paciência.

1 Pedro: Pedro aos crentes (“eleitos” – ARA) gentios e de origem judaica dispersos (“forasteiros” – ARA) entre os não-convertidos em diferentes regiões da Ásia Menor (atual Turquia), por volta de 60-64 DC; eram cristãos que, devido às crescentes lutas e perseguições, imaginavam que Deus os tinha abandonado.

2 Pedro: Pedro, para alertar os crentes quanto aos falsos mestres que haviam invadido a comunidade cristã. Aos crentes dispersos por todas as regiões da Ásia Menor (Turquia), entre 64 e 68 DC. Orienta a desenvolver o caráter cristão, apegar-se à verdade, ficar advertido contra falsos mestres e esperar a vinda do Senhor.

1 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC, para incentivar e fortalecer os crentes de um grupo de igrejas nas proximidades de Éfeso (a oeste do que é hoje a Turquia). Fala sobre o amor de Deus.

2 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC. Para os cristãos que se sentiam pressionados pelos falsos mestres, incentivando-os a renovar o compromisso com a verdade.

3 João: João, apóstolo, por volta de 85-90 DC, ao amigo Gaio, incentivando-o a continuar apoiando fielmente os mestres legítimos.

Judas: Meio-irmão de Jesus, irmão de Tiago, por volta de 65 DC. Advertia os crentes contra as falsas doutrinas e os mestres enganadores.

Apocalipse: João, apóstolo, 90-95 DC, às províncias da Ásia Menor (atual Turquia), a fim de adverti-los para que não abandonassem a fé em Cristo, assegurando sua vitória por permanecerem com Deus. A palavra grega Apocalipse (Apokálypsis) significa: descobrimento, revelação. Os escritos apocalípticos judaicos utilizavam a linguagem figurada e o simbolismo para mostrar que o mal será substituído pela bondade e pela paz do reino de Deus.

Nota:

A bíblia fala que o povo ficou setenta anos em cativeiro, provavelmente calculando desde a 1ª etapa do exílio de Judá em 605 AC até o retorno a Jerusalém em 538 AC (2 Cr 36: 21: “para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumprisse”). Outras referências em Jr 25: 11; Jr 29: 10 e Dn 9: 2. A explicação para isso está na palavra Sábado. O povo deveria honrar a Deus permitindo que a terra descansasse a cada sete anos. Esse período do seu plantio era considerado sábado de descanso (Lv 25: 2-4; Êx 23: 10-11). Como, porém, deixaram de fazer isso ao longo dos séculos, Deus os condenou e retirou todos os sábados de descanso de uma só vez. A terra ficaria adormecida durante o cativeiro na Babilônia (Lv 26: 34-35; 43).

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livro evangélico: Curso para ensino bíblico – nível 1

Curso para ensino bíblico – nível 1 (PDF)

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Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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