Aprendizados com a história de vida do personagem bíblico Davi; sua unção pelo profeta Samuel; sua vitória sobre o gigante Golias e seu desempenho como rei de Israel. Davi foi um homem segundo o coração de Deus.
Lessons from the life story of the biblical character David; his anointing by the prophet Samuel; his victory over the giant Goliath and his performance as king of Israel. David was a man after God’s heart.
Textos de referência: 1 Sm 8–1 Rs 2; 1 Cr 2–29
Reinado de Saul: 1050–1010 AC
Reinado de Davi: 1010–970 AC
Resumo:
Quando Samuel estava velho e constituiu seus filhos juízes sobre Israel, o povo viu que o procedimento deles não era digno, portanto, pediu um rei que os governasse. Samuel orou a Deus e Ele concedeu o desejo do povo, orientando-o a ungir Saul (shã’ül = pedido, suplicado, desejado, implorado), benjamita, filho de Quis (qïsh = arco, poder). Saul tinha um porte majestoso e a aparência de um rei. Naquele momento, Saul estava em busca das jumentas do pai que tinham se extraviado. Ele e seus servos chegaram à terra de Zufe, onde Samuel estava com o povo para oferecer sacrifícios no alto (nos lugares altos como, por exemplo, os montes). Convidou Saul para jantar com eles e lhe deu uma porção especial; no dia seguinte o ungiu (1 Sm 10: 1) secretamente como rei sobre Israel. Comunicou a ele que não se preocupasse mais com as jumentas do pai, pois tinham sido achadas. Depois, em Mispa, (1 Sm 10: 17-25) Saul foi ungido publicamente, num episódio singular onde, por meio de sortes, o povo ficou sabendo da escolha de Deus sobre seu rei que, porém, foi achado escondido no meio da bagagem. Saul confirmou sua eleição como rei vencendo Naás, rei dos amonitas em Jabes-Gileade. Naás fizera um acordo de paz bem cruel com os israelitas, prometendo vazar o olho direito dos cidadãos que, por sua vez, pediram auxílio a Saul. Ele venceu os inimigos e ficou confirmado como rei sobre eles. Uma cerimônia religiosa em Gilgal confirmou sua nomeação como monarca (1 Sm 11: 14-15).
Durante os anos que se seguiram à sua nomeação, Saul agiu como um guerreiro destruindo os inimigos de Israel, mas na batalha contra os filisteus, vendo que Samuel demorava a chegar e o povo começava a desistir de lutar, ofereceu sacrifício sacerdotal em Gilgal sem ser sacerdote, ou seja, tomou para si os ofícios de sacerdote sem sê-lo. Quando Samuel chegou, repreendeu-o severamente (1 Sm 13: 8-14) e lhe falou que tinha sido rejeitado por Deus como rei. Saul soube que, na mente do Senhor, já havia um homem segundo o Seu coração para substituí-lo. Jônatas, filho de Saul, iniciou o ataque contra o acampamento dos filisteus, e assim os israelitas puderam derrotá-los. Durante seu reinado houve forte guerra contra os filisteus. Deus, novamente, enviou Samuel ao rei lhe comunicando que entregaria Amaleque em suas mãos (1 Sm 15: 1-35), mas que tanto o rei como toda a nação amalequita deveriam ser destruídos; nada deveria ficar deles, pois o Senhor já os tinha amaldiçoado. Saul desobedeceu às ordens de Deus e poupou seu rei, Agague, e parte do gado. Foi novamente repreendido por Samuel, que lhe disse que a obediência era melhor para Deus do que sacrifícios e holocaustos e que, por causa dessa segunda desobediência às orientações divinas, Ele o destituiria do seu cargo, dando-o a outro. Assim, Samuel cortou suas relações com Saul, pois o Senhor o rejeitara.
O profeta foi instruído por Ele a ir a Belém para ungir um filho de Jessé, pois ali seria escolhido o sucessor de Saul. Samuel chegou a Belém e os habitantes se perturbaram com tão ilustre visita. Ele lhes disse que tinha vindo para sacrificar ao Senhor. Chegou à casa de Jessé e, depois de ter passado por ele seus sete filhos sem, entretanto, nenhum deles ser escolhido por Deus, ele chamou o último que estava pastoreando suas ovelhas. Seu nome era Davi (Dãwidh ou Dãwïdh tem raiz e significados duvidosos; talvez como Dawïdum, ‘chefe’, do antigo babilônico. A raiz hebraica ‘dod’ ou ‘dud’ significa ‘amor’). O significado mais conhecido por todos (“O amado de Deus”), possivelmente é uma descrição do papel de Davi como escolhido do Senhor para líder do Seu povo (como Seu amado, que fez toda a Sua vontade), ao invés do significado propriamente dito do seu nome. Em 1 Sm 16: 12-13 está escrito: “Então, mandou chamá-lo e fê-lo entrar. Ele era ruivo, de belos olhos e boa aparência. Disse o Senhor: Levanta-te e unge-o, pois este é ele. Tomou Samuel o chifre do azeite, e o ungiu no meio dos seus irmãos; e daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá”. ‘Ruivo’ (em hebraico, admoni, אדמוני) não significava exatamente a cor dos seus cabelos. Em hebraico, significa: ‘avermelhado’, ‘corado’ (sadio). Talvez, isso possa se referir à destreza física dele ou significar que era um guerreiro. No AT, apenas Davi e Esaú receberam essa qualificação (‘ruivo’). Isso significa que era corajoso, acreditava no bem, na justiça de Deus sobre sua vida e era sincero, transparente e de coração puro. Em hebraico, a locução ‘se apoderou’ ou ‘se apossou’ (cf. Jz 14: 6; 19; Jz 15: 14) significa ‘apressou-se sobre’, ou seja, o Espírito de Deus veio rapidamente sobre ele. Então disse o Senhor: “Levanta-te e unge-o, pois este é ele”. Samuel tomou do chifre de azeite e o ungiu perante seus irmãos e voltou para Ramá.
Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte deste um espírito maligno o atormentava. Seus servos lhe sugeriram que se buscasse um homem que soubesse tocar harpa para que, ao tocá-la, quando o espírito imundo viesse, ele saísse da presença do rei. Então, um dos servos, conhecendo Davi e sabendo que louvava ao Senhor com toda a sua alma, sugeriu que o trouxessem a Saul. Davi ‘esteve perante o rei’ (ARA; NVI: ‘passou a trabalhar para ele’. A tradução original sugere que “estar perante” não significava permanecer eternamente ali, mas “estar a serviço de alguém”) e, sempre que era chamado, tocava para ele para acalmá-lo. Os filisteus não desistiam de guerrear contra Israel e, um dia, saiu do seu arraial um guerreiro que, por quarenta dias, pela manhã e à tarde, gritava para o exército de Saul, desafiando Israel. Em 1 Sm 17: 4-10; 16 está escrito: “Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados (1 côvado = 45 cm) e um palmo (20 cm). Trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas cujo peso era de cinco mil siclos de bronze (1 siclo = 11, 5 gramas; na NVI, aproximado para 12 gr.). Trazia caneleiras de bronze nas pernas e um dardo de bronze entre os ombros. A haste de sua lança era como o eixo do tecelão [NVI, “era como uma lançadeira de tecelão”], e a ponta da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o escudeiro. Parou, clamou às tropas de Israel e disse-lhes: Para que saís, formando-vos em linha de batalha? Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça contra mim. Se ele puder pelejar comigo e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer e o ferir, então, sereis nossos servos e nos servireis. Disse mais o filisteu: Hoje, afronto as tropas de Israel. Dai-me um homem, para que ambos pelejemos... Chegava-se, pois o filisteu pela manhã e à tarde; e apresentou-se por quarenta dias”.
Assim, Golias tinha a altura de dois metros e noventa centímetros, sua lança pesava sete quilos e duzentos gramas, e sua armadura, cerca de sessenta quilos. Olhando pelos olhos humanos, portanto, era impossível que um garoto o vencesse, mas Davi aceitou o desafio, sabendo que o prêmio para quem o derrotasse seria a mão da filha do rei por esposa e a isenção de impostos para toda a casa de seu pai. Chegou-se a Saul e se apresentou como guerreiro para lutar contra o filisteu. Saul viu diante de si apenas um menino que não tinha, aparentemente, condições de lutar contra um soldado experimentado como Golias e lhe ofereceu sua armadura. Em 1 Sm 17: 39-40; 50 nós podemos ler: “Davi cingiu a espada sobre a armadura e experimentou andar, pois jamais a havia usado; então, disse Davi a Saul: não posso andar com isto, pois nunca o usei. E Davi tirou aquilo de sobre si. Tomou o seu cajado na mão, e escolheu para si cinco pedras lisas do ribeiro, e as pôs no seu alforje de pastor, que trazia, a saber, no surrão; e, lançando mão da sua funda, foi-se chegando ao filisteu... assim, prevaleceu Davi contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e o feriu, e o matou; porém não havia espada na mão de Davi”. Davi tomou a espada do gigante e com ela lhe cortou a cabeça, levando-a a Saul. Davi foi de encontro a Golias com a simplicidade e a fé da entrega a Deus, não com a armadura de Saul nem com espada. Também foi com a autoridade (cajado) e a reverência a Ele, pois se incomodou com a afronta do gigante ao povo do Senhor. Assim, vencendo o inimigo da nação, foi nomeado escudeiro de Saul. Ele se transformou num herói nacional. Quando Israel voltava da vitória sobre os filisteus, pois depois de derrotado o gigante os israelitas perseguiram os inimigos e os venceram, as mulheres cantaram e engrandeceram os atos heróicos de Davi, o que gerou ciúmes no coração de Saul. Em contrapartida, Jônatas (yehônãthân ou yônãthân, ‘YHWH nos deu, dádiva de Deus, YHWH tem dado’), filho de Saul, amou Davi assim que o viu e fizeram uma aliança. Passaram a ser bons amigos.
Todas as vezes que o espírito maligno se apossava de Saul, Davi tocava sua harpa e o espírito se retirava. Numa dessas crises de raiva, Saul tentou encravar Davi na parede com uma lança e este se desviou dele por duas vezes (1 Sm 18: 11). Saul não via Davi com bons olhos, pois o ciúme e a inveja tinham se apossado dele. Então, planejou uma nova maneira de matá-lo. Como tinha prometido a mão de sua filha àquele que vencesse o gigante, pediu como dote cem prepúcios dos filisteus; dessa forma, se Davi morresse pelas mãos do inimigo, Saul não seria responsável direto (1 Sm 18: 21). A primeira filha de Saul se chamava Merabe, mas acabou se casando com outro, e Mical foi dada a Davi (1 Sm 18: 17; 21; 25). Entretanto, Davi saiu vitorioso e trouxe a Saul duzentos prepúcios dos filisteus, o dobro do que tinha pedido (1 Sm 18: 27). As vitórias de Davi começaram a engrandecê-lo perante o povo e, novamente, houve batalha contra os filisteus. Eles foram derrotados pelo ungido do Senhor mais uma vez e, à noite, quando o espírito maligno se apossou de Saul estando Davi tangendo sua harpa para acalmá-lo, o rei tentou encravá-lo na parede com sua lança. Davi fugiu para sua casa e quando Saul enviou guardas para prendê-lo, já não o encontraram lá porque Mical (mïkhal = quem é como Deus), segunda filha de Saul e esposa de Davi, o havia ajudado a escapar do pai. Mais tarde, Saul deu Mical para Palti (Paltiel) como esposa (1 Sm 25: 44): “porque Saul tinha dado sua filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim”. Quando Davi se tornou rei, ele a mandou buscar de volta para ele (2 Sm 3: 14-16): “Também enviou Davi mensageiros a Is-Bosete filho de Saul, dizendo: Dá-me de volta minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus. Então, Is-Bosete mandou tirá-la a seu marido, a Paltiel, filho de Laís. Seu marido a acompanhou, caminhando e chorando após ela, até Baurim. Disse Abner: Vai-te, volta. E ele voltou”.
A partir daí (de escapar de Saul com a ajuda de Mical), Davi tornou-se um fugitivo. O primeiro lugar onde se refugiou foi com Samuel, na casa dos profetas, na província de Ramá (1 Sm 19: 18-24). Saul enviou três delegações para poder resgatar Davi das mãos do homem de Deus, mas as três foram tomadas pelo espírito de profecia. Quando ele, em pessoa, também foi até lá, começou a profetizar como os outros.
Davi pediu ajuda a Jônatas e, depois, fugiu para Nobe, para o sacerdote Aimeleque. Estava com fome e conseguiu do sacerdote que comesse os pães da proposição que estava no Lugar Santo, onde só os levitas poderiam entrar. Tomou a espada de Golias que estava com Aimeleque e tornou a fugir. Quando Saul soube, matou o sacerdote e seus filhos. O único deles a escapar foi Abiatar, que mais tarde veio a ser sacerdote de Davi (1 Sm 22: 20-23; 2 Sm 8: 17; 2 Sm 20: 25; 1 Cr 18: 16).
Procurando um lugar seguro, longe de Saul, Davi se refugiou na terra dos filisteus, pois sabia que seria o último lugar que Saul iria procurá-lo. Fez-se de louco para que o rei Aquis não o matasse e, expulso dali pelo próprio rei, dirigiu-se para a caverna de Adulão. Ali já havia quatrocentos homens com ele e a sua própria família. Podemos ver que a princípio era uma coleção heterogênea de fugitivos; posteriormente, uma força armada que atacava invasores estrangeiros, protegia as colheitas e rebanhos das comunidades israelitas das fronteiras e que vivia da generosidade das mesmas. O Senhor estava treinando Davi para ser rei, não só capacitando-o na guerra, mas trabalhando interiormente a alma dele. Não ficou muito tempo ali; passou a se refugiar no bosque de Herete, depois em Queila, no deserto de Zife, em Horesa, passando a En-Gedi, depois ao deserto de Parã (ou Maom, o que é o mais correto, e ficava nas terras altas da tribo de Judá – Js 15: 55; 1 Cr 4: 41; 1 Sm 23: 24. No texto Massorético foi escrito erroneamente ‘deserto de Parã’, pois Parã (Hc 3: 3) é um deserto situado na região centro-oriental da península do Sinai, a nordeste do Monte Sinai e a sudoeste de Cades, com a Arabá e o Golfo de Aqaba em sua fronteira oriental), até que se refugiou na terra dos filisteus, Gate (aqui já tinha seiscentos homens consigo: 1 Sm 23: 13; 1 Sm 27: 2). En-Gedi (‘en-gedhï, ‘fonte da cabra’) é uma fonte de água fresca a oeste do Mar Morto, na terra de Judá. A fertilidade dessa área, em meio a uma região tão estéril, tornava-a local ideal para os fora-da-lei, para encontrar alimento e como lugar de esconderijo, por isso Davi foi para lá (1 Sm 23: 29; 1 Sm 24: 1-3). Seu antigo nome era Hazazom-Tamar, ‘fendas das palmeiras’ (Gn 14: 7; 2 Cr 20: 2), porque era banhada por uma quente e constante corrente, e foi outrora célebre pelas suas palmeiras e vinhas (Ct 1: 14).
Este é um resumo da rota de fuga de Davi, que durou anos até Saul morrer e ele pudesse substituí-lo no trono de Israel. Voltando à atividade que Davi realizava para o seu povo, protegendo-o dos inimigos, houve um episódio relatado em 1 Sm 25: 2-44, quando se deparou com um rico criador de ovelhas, chamado Nabal (‘louco’, ‘desvairado’), no deserto de Maom. Este se recusou a reconhecer sua dívida de gratidão para como ungido de Deus. A esposa de Nabal, Abigail, interveio a favor de Davi; o Senhor matou seu louco marido e ela passou a ser mulher de Davi.
Logo após ter deixado Adulão, Davi livrou a Queila, entretanto, seus habitantes o traíram denunciando-o a Saul. Foi quando Davi se mudou para o deserto de Zife. Ali, os zifitas revelaram ao rei seu esconderijo (1 Sm 23: 19-29) e Saul foi ao seu encontro, apenas se livrando, de última hora, quando o rei ficou sabendo de outro ataque dos filisteus, tendo que deixar sua perseguição para depois. Num prazo de alguns anos que se seguiram, Davi poupou por duas vezes a vida de Saul, na primeira, chegando a cortar a orla da túnica do rei (1 Sm 24: 4) e na segunda, removendo a lança e a bilha de água no acampamento dele (1 Sm 26: 11). Houve um período de tempo entre os dois episódios, nos mostrando diferentes traços na personalidade de Davi. No primeiro, ele foi respeitoso; no segundo, desafiador, pois já estava cansado das perseguições insanas de Saul.
Davi voltou a se refugiar na terra dos filisteus, na corte de Aquis, em Gate. Este o permitiu residir em Ziclague (1 Sm 27: 1-12); mesmo servindo a um filisteu, Davi ainda ajudava os israelitas atacando os que os hostilizavam. Obteve a confiança de Aquis, mas não dos seus comandantes. Quando eles planejaram um grande ataque contra Israel, objetaram quanto à presença de Davi nas suas fileiras, pois temiam que, de última hora, ele se bandeasse para o lado de Saul (1 Sm 29: 1-11). Então, ele retornou a Ziclague, que havia sido pilhada pelos amalequitas. Atacou o inimigo e retomou tudo o que era seu e destruiu os assaltantes. Foi quando teve notícia da morte de Saul e Jônatas pelos filisteus no Monte Gilboa. Por orientação de Deus, voltou a Judá, a Hebrom, e ali sua tribo o ungiu rei sobre Judá, onde reinou por sete anos e meio. Nos dois primeiros anos do seu reinado em Hebrom, houve guerra civil quando Abner, comandante do exército de Saul, ungiu o filho do rei, Isbosete (‘Homem da vergonha’ ou ‘Homem de Baal’; também chamado Esbaal – ‘fogo de Baal’ – ou Isvi – ‘igual’), como rei em Maanaim (2 Sm 2: 8). Joabe, comandante militar de Davi, assassinou Abner por ter matado seu irmão Asael em combate. Isbosete morreu nas mãos de dois homens de Israel, que foram executados por Davi.
Depois dessa vitória, foi ungido rei sobre as doze tribos em Hebrom. Davi começou a reinar com 30 anos de idade e reinou sete anos em Hebrom (2 Sm 5: 4-5; 1 Cr 29: 27-28). Depois, transferiu sua capital para Jerusalém (Jebus), tomando-a das mãos dos jebuseus. Ali, reinou por trinta e três anos (2 Sm 5: 6-10; 1 Cr 11: 1-9). Deu início a um programa de reconstrução do reino, auxiliado por Hirão, rei de Tiro (2 Sm 5: 10-12). Davi prosseguiu em suas campanhas militares de conquista da terra de Israel e teve vitórias sobre muitos povos (cananeus, moabitas, amonitas, arameus e siros, amalequitas e edomitas) expandindo, assim, o reino.
Ele se preocupou também com a restauração da vida religiosa. Ordenou que a arca da Aliança fosse trazida da casa de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, onde estava há mais de vinte anos, desde os tempos de Samuel (1 Sm 7: 1) para Jerusalém (2 Sm 6: 1-11; 1 Cr 13: 5-14). Entretanto, procurou trazê-la da maneira errada, sobre um carro de bois e, quando alguém tocou nela tentando impedir que caísse ao chão, o Senhor interveio e matou o homem (Uzá). Davi ficou com medo da ira do Senhor e deixou a arca por três meses na casa de Obede-Edom, o geteu, tornando a buscá-la, trazendo-a para Jerusalém. Desta vez, ele o fez da maneira correta, carregada pelos levitas, e teve sucesso (2 Sm 6: 12-23; 10 Cr 15: 1-15), mas, ao chegar dançando à sua cidade, Mical o desprezou por achar que sua atitude não era digna de um rei. Davi, por sua vez, a repreendeu e continuou seu plano de governo, pensando na edificação de um templo onde a arca da Aliança pudesse ficar no meio do seu povo. Todavia, Natã, o profeta, lhe disse que isso estaria reservado para o seu filho (2 Sm 7: 1-29).
Davi também honrou seu pacto com Jônatas procurando Mefibosete (‘vergonha destruidora’; ‘beseth’ ou ‘besheth’ significa ‘vergonha’; outra tradução para ‘Mefibosete’ é ‘Aquele que tirou minha vergonha’), seu único filho sobrevivente e lhe restaurou as propriedades da família, tratando-o como um dos seus filhos (2 Sm 9: 1-13). Por este tempo, as lutas no reino já tinham diminuído e Davi já não ia à batalha com seu exército. Num desses dias, viu pela janela do seu palácio uma mulher chamada Bate-Seba, esposa de um dos seus fiéis oficiais, Urias, o heteu, e se agradou dela. Trouxe-a para o palácio e teve relações com ela. Como Joabe, seu comandante, estava realizando o cerco sobre Rabá e Urias estava também participando da luta, Davi viu que havia um único meio de ficar com Bate-Seba: colocar Urias na frente de batalha para que fosse morto. Conseguiu seu intento e se casou com Bate-Seba; também foi vitorioso sobre Rabá e seus cidadãos amonitas acabaram sendo sujeitos a trabalhos forçados. Natã, o profeta, repreendeu Davi pelo seu pecado e lhe disse que Deus o perdoava, mas mataria o filho dessa união pecaminosa; além disso, da parte de Deus, lhe foi feita uma profecia que, por causa daquele ato infame, a espada não se apartaria de sua casa (2 Sm 12: 7-12, com enfoque no v.10). Realmente, o filho morreu e o pecado de Davi veio a gerar desordens familiares que se estenderam às futuras gerações: Amnom, seu filho, cometeu pecado de incesto com Tamar, sua meia-irmã, também filha de Davi; e o outro filho, Absalão, para compensar o primeiro crime, cometeu mais um que foi matar Amnom. Depois disso, fugiu e não pôde comparecer à presença de Davi por muito tempo, até que foi readmitido na corte. Entretanto, a semente da revolta e da rebeldia existia no seu coração e se rebelou contra o próprio pai para tirar dele o reino. Com a revolta de Absalão, Davi fugiu; Joabe matou Absalão e o reino foi restituído a Davi. Nesse processo todo, Aitofel, um dos conselheiros de confiança do rei se voltou para Absalão, mas ciente da sua traição, cometeu suicídio. Outro conselheiro, Husai, permaneceu fiel a Davi. Mais uma conseqüência daquele pecado foi a disputa entre Adonias e Salomão pelo trono. Com a maldição se estendendo por várias gerações, a casa de Judá foi quase exterminada no reinado de Atalia, sendo preservado um único neto dela: Joás.
Depois de pouco tempo da revolta de Absalão, o rei teve que abafar outra revolta no reino, dessa vez por parte de Seba, benjamita, mas que foi decapitado por alguns dos seus próprios seguidores (2 Sm 20: 1-26).
Um dos últimos atos no reinado de Davi foi o levantamento do censo por ele decretado para saber sobre sua força militar (1 Cr 21: 1-27; 2 Sm 24: 1-25). Ficou sabendo que tinha com ele oitocentos mil homens no seu exército, mas o Senhor não se agradou dessa atitude e lhe apresentou três alternativas como punição: três anos de fome, três meses de derrota pelos seus inimigos ou três dias de peste na terra; Davi se entregou à escolha de Deus (1 Cr 21: 11-13). A peste foi enviada por três dias sobre o povo e Davi, se arrependendo, pediu perdão ao Senhor e levantou um altar na eira de Araúna (Ornã), no mesmo lugar onde Abraão tinha oferecido Isaque em sacrifício (Moriá). Ali, mais tarde, foi construído o templo por Salomão (2 Cr 3: 1), que foi o primeiro filho de Bate-Seba, depois que o “filho do pecado” morreu e Davi a consolou.
No final de seus dias, estando já velho, teve que se envolver na luta entre Salomão e Adonias pela sucessão do trono. Isso ainda era o legado do derramamento de sangue dentro do seio da própria família, predito por Natã.
Davi morreu e Salomão reinou em seu lugar. Adonias, seu outro filho, foi morto no início do reinado de Salomão por Benaia, chefe da guarda pessoal de Davi.
1) Diferença entre dom e herança: seria outra maneira de dizer que existe diferença entre carne e espírito, entre buscar a bênção e buscar o abençoador. Aqui, vemos o perfil psicológico e espiritual de três homens: Saul, Davi e Absalão. Deus deu dons espirituais a Saul, mas como ele não era segundo o coração de Deus, não pôde ter a herança divina, ou seja, conhecer o Senhor e ter tudo o que Ele tinha para lhe dar. Não teve a aprovação de Deus sobre sua vida até o fim. Saul lutava na carne, vivia na carne e, apesar do derramar do Espírito Santo capacitando-o para reinar, ele não cresceu espiritualmente porque não se entregou ao Senhor como fez Davi. Tinha pouco contato com Deus. Houve uma grande diferença na escolha divina com Saul e Davi. Saul foi como que ungido de última hora para satisfazer aos rogos do povo, por isso não teve tempo de ser treinado pelo Senhor. Não tinha mentalidade para ser rei: escondeu-se no meio da bagagem para não ser achado nem assumir a responsabilidade de rei. Como todos os que andam na carne, Saul andava atrás de coisas velhas, empacadas, não passíveis de mudança (jumentas); apenas sabia ser guerreiro, obedecendo aos seus instintos, não às ordens de Deus (não esperou por Samuel, ofereceu sacrifício sem ser sacerdote e não destruiu completamente os amalequitas como o Senhor havia determinado). Não controlava as emoções e era capaz de matar alguém, como no caso de Davi, simplesmente, porque não o agradava ou porque sentia ciúmes ou inveja do seu sucesso, como muitas pessoas, hoje, buscam apenas as bênçãos, mas não o abençoador (Jesus). Davi tinha o dom e a herança porque era segundo o coração de Deus. Apesar de ser homem falho e, muitas vezes, até tomado pelas suas emoções e pelos desejos da carne, sempre se arrependia e se voltava para Ele porque O temia e reconhecia Sua soberania sobre sua vida. Sabia respeitar Seus ungidos e esperava pela justiça e pela Sua resposta no tempo certo. Sabia que Deus o colocaria no lugar que tinha reservado para ele, sem ter que usar de astúcia ou força para conquistá-lo. Absalão era o terceiro tipo: não tinha nem o dom nem a herança porque não tinha sido escolhido por Deus; resolveu escolher a si mesmo e caiu. Não sustentou o poder sem a aprovação do Senhor. Não tinha intimidade alguma com Ele.
2) Obedecer é melhor que sacrificar (1 Sm 15: 22-23): foi o que Samuel disse a Saul quando pecou contra as ordens do Senhor. Deus não se agrada de desobediência, de idolatria, de religiosidade, nem de teimosia. Saul cometeu os quatro erros e foi desqualificado por Ele. A única coisa que Deus pede de nós, ainda hoje, é a rendição à Sua vontade e o amor a Ele.
3) O homem vê o exterior, o Senhor, porém, o coração (1 Sm 16: 7): em hebraico, a palavra coração (lebab), neste texto, significa: coragem; isso quer dizer que o homem vê as coisas externas, as aparências, mas Deus vê o interior do homem, não só os seus sonhos, intenções e desejos, como também sua coragem de lutar pelas Suas coisas e pelos Seus projetos. Davi tinha o coração limpo e transparente; além disso, tinha coragem para lutar por aquilo que acreditava e Deus o honrou. Ele quer ver algo em nosso coração que o agrade, não as máscaras, mas a essência do nosso ser.
4) Vencer os gigantes da alma na força de Deus: Davi foi contra Golias na força de Deus, na sua fé nEle, não na força humana, tanto é que recusou a armadura de Saul; era pesada demais para ele. Podemos escrever esse pensamento em outras palavras: braço da carne x braço de Deus, guerrear na carne x guerrear no espírito, violência do inimigo x sabedoria de Deus. Golias era a expressão da força bruta, da força carnal que leva em conta seus próprios dotes, se necessário, usando até da violência. Davi usava a força espiritual, a força de Deus, o poder da Sua palavra lhe garantindo a vitória, pois ele não conhecia o Senhor superficialmente, de maneira religiosa como os outros; ele O conhecia de maneira mais profunda, tinha intimidade com Ele; tinha-O conhecido nas madrugadas no deserto da Judéia onde apascentava as ovelhas de seu pai, onde no silêncio da noite e olhando a amplitude do céu, podia ouvir Sua voz e sentir Seu coração. Davi tinha experimentado a força do Senhor quando lutava com ursos e leões para defender suas ovelhas. Deus o protegia e o inspirava. Hoje, nós podemos ter ainda muito mais do que ele tinha, pois temos o Espírito Santo conosco todos os dias nos ensinando a lutar contra os nossos inimigos invisíveis e nos livrando, através da Sua sabedoria, dos nossos inimigos físicos. Hoje, temos conosco as armas da cruz.
5) Louvor, arma poderosa contra o adversário: quando Davi tocava sua harpa o espírito maligno se retirava de Saul, pois seu louvor trazia o poder de Deus. Ainda hoje, podemos experimentar grandes vitórias no louvor; quando entoamos de coração nosso cântico ao Senhor, Ele luta as nossas batalhas e vence o inimigo por nós. Ungidos com o poder do Seu Espírito (e o louvor é uma maneira de fortalecê-lO em nós e nos revestir da Sua presença – 2 Rs 3: 15), nós expulsamos os demônios em nome de Jesus (Mc 16:17).
6) Amizade entre Davi e Jônatas: essa amizade expressa o amor incondicional que gera um compromisso duradouro. Tanto um como outro participaram da bênção decorrente dessa união. Jônatas é a figura de Jesus, enquanto Davi é a figura da Igreja. Em relação a Jônatas, sua lealdade à verdade e à amizade, assim como seu caráter pacificador (mesmo o colocando em uma escolha difícil, pois teve que optar entre Davi e o pai), fizeram com que Davi ocupasse o trono, como era da vontade de Deus. Davi, por sua vez, se beneficiou da amizade com Jônatas e honrou essa amizade até o fim, levando a sério sua promessa de proteger e poupar toda a casa de Saul. Por amor a Jônatas, Davi restituiu a Mefibosete suas propriedades e o tratou como um filho. Também usou de misericórdia para Isbosete, filho de Saul, que Abner tinha colocado como rei sobre Israel, e não pretendia matá-lo para ficar com o trono, mas colocou tudo nas mãos do Senhor. Quando Isbosete foi morto, Davi executou seus assassinos, pois não se agradara de sua morte, como não tinha se agradado das mortes de Saul e Jônatas, mesmo sabendo serem seus competidores ao trono. Saul tinha feito tudo errado em relação a ele, mas Davi o pranteou quando ele morreu. Hoje, nós temos a amizade com Jesus que nos protege das acusações e dos ataques do diabo e nos garante Sua proteção e Sua companhia até o final das nossas vidas. Da mesma forma, Ele espera que honremos essa lealdade e essa amizade para podermos estar sempre em Sua presença e sermos vencedores.
7) Romper com a religiosidade para comer o melhor de Deus: quando estava fugindo de Saul, Davi quebrou as regras religiosas ao entrar na casa do sacerdote Aimeleque e comer os pães da proposição (ou pães da Presença) que estavam reservados apenas para os sacerdotes. Pão fala de comunhão, de intimidade com o Senhor, de revelação, do corpo de Cristo, portanto, se quisermos comer do melhor de Deus e termos intimidade com Ele, temos, muitas vezes, que romper com a religiosidade, com as regras, para entrarmos livremente em Sua presença e Lhe pedirmos o que necessitamos. Trata-se de uma busca pessoal, ouvindo a voz do Espírito Santo em nosso coração e seguindo Suas orientações, mesmo que possam parecer diferentes para todas as outras pessoas.
8) O exemplo do líder muda a vida e a conduta dos seus liderados: podemos ver isso quando Davi estava em Adulão (1 Sm 22: 2), onde tinha consigo quatrocentos homens difíceis de lidar (a bíblia fala que se juntaram a ele os que estavam em aperto, os endividados e os amargurados de espírito) e, não se importando com isso, se tornou exemplo para eles, inclusive aumentando o seu número para seiscentos homens (1 Sm 27: 2). Em 2 Sm 8: 15-18 e 1 Cr 11: 10-47, a bíblia fala dos oficiais de Davi e depois dos seus valentes. Isso quer dizer que o exemplo de Davi transformou homens comuns em guerreiros experimentados, pessoas emocionalmente instáveis e desequilibradas em soldados com domínio próprio. Saul perseguiu Davi por vários anos. Durante toda essa caminhada, Deus trabalhou com Davi fortalecendo sua autoconfiança, capacidade de liderança, autoridade, submissão a Ele, autocontrole, sabedoria, prudência, destreza na batalha, estratégias militares e todos os outros traços de caráter com o objetivo de transformá-lo em líder de um povo. Ele não se importou com a quantidade de trabalho que tinha pela frente nem com a aparente falta de caráter dos que estavam ao seu lado. Ele influenciou, mas não foi influenciado por ninguém nas suas decisões. Dispôs-se a ser trabalhado pelo Senhor e ser um canal de transformação e cura na vida dos que estavam com ele. Não se importou com os comentários nem com as sugestões afoitas e carnais dos seus liderados (1 Sm 24: 4: “Então, os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego nas mãos o teu inimigo, e far-lhe-ás o que bem te parecer”), pelo contrário (embora tenha cortado a orla do manto de Saul), seu comportamento conteve os ímpetos e aumentou o respeito de todos à sua capacidade de liderança [“E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor. Com estas palavras, Davi conteve os seus homens e não lhes permitiu que se levantasse contra Saul; retirando-se Saul da caverna, prosseguiu seu caminho” (1 Sm 24: 6-7)]. A expressão ‘ungido do Senhor’ é usada nos livros de Samuel como sinônimo de ‘rei’. Quem quer ser segundo o coração de Deus não pode ouvir nem aceitar qualquer sugestão, não pode ser dirigido, mas aprender a dirigir, não pode ter medo do trabalho nem do tamanho dele.
9) Mesmo o pecado perdoado tem suas conseqüências: podemos ver isso no caso de Urias, quando Deus perdoou o pecado de Davi, mas as conseqüências perduraram por gerações, chegando até a descendência de Salomão, em Roboão, quando o reino de Israel foi novamente dividido, ficando apenas duas tribos, Judá e Benjamim, com a casa de Davi, por ordem divina. As demais tribos constituíram o reino do norte e tiveram um rei para si. A espada não se afastou da casa de Davi: rivalidade entre Absalão e Amnom, a morte de Absalão após tentar tirar o trono do pai (Davi), Adonias e Salomão competindo pelo trono, Roboão (neto de Davi que não soube governar com misericórdia e sabedoria) etc. Outra conseqüência de pecado de Davi foi a peste decorrente do censo que mandou realizar sem a aprovação de Deus. O povo pagou pelo seu erro, até que o rei se arrependeu e pediu perdão ao Senhor. O Anjo do Senhor colocou a espada na bainha, mas a peste tinha destruído muitos israelitas. Devemos pensar nisso. Sempre que cometemos um pecado, Deus nos perdoa, porém, as conseqüências dele podem perdurar até serem quebradas verdadeiramente. É o que ocorre com as maldições hereditárias decorrentes de pecados ocorridos lá atrás por quem nós nem chegamos a conhecer, mas que podem, ainda hoje, estar atuando em nossas famílias, até que as quebremos realmente pelo poder de Deus e pela nossa fidelidade a Ele, mudando nossas atitudes. Jesus nos perdoa, nos cobre com Seu sangue, quebra nossas maldições e deixa esta bênção ganha para nós nas regiões celestiais, mas nós trabalhamos aqui na terra para trazê-la à existência. Na bíblia, podemos ver outros exemplos semelhantes nos livros de reis, onde alguns foram fiéis, outros não, gerando problemas para seus descendentes.
10) Carregar a presença de Deus (arca) não pode ser de qualquer jeito, displicentemente: da primeira vez que Davi tentou trazer a arca, ele o fez na força humana (carro de bois) e sem respeitar a santidade de Deus (Uzá foi morto por tocar na arca). Só depois se lembrou que os únicos que poderiam carregar a arca eram os levitas (talvez, só naquele momento pôde ter informações dos sacerdotes a respeito da Lei, o que é de se estranhar, pois na Lei estava escrito que os reis deveriam ter um traslado da Torá para poder governar: Dt 17: 18-20). Aí sim, a arca foi trazida para Jerusalém. Davi mesmo reconheceu seu erro (1 Cr 15: 13), pois da primeira vez, somente o povo de Judá (2 Sm 6: 2) estava lá; os levitas não foram e também não estavam santificados para transportar a arca (1 Cr 15: 12). A bíblia não deixa claro que Uzá e Aiô eram mesmo sacerdotes, pois em 1 Sm 7: 1 ela diz que os homens de Quiriate-Jearim (em Judá) consagraram Eleazar, irmão daqueles dois e filho de Abinadabe, para guardar a arca (caso fosse sacerdote mesmo, é provável que não fosse da linhagem Aarônica). Isso significa que não conseguimos nossos objetivos espirituais pela força da carne, mas pelo Espírito de Deus e pelo louvor, pois o louvor libera Seu poder em nosso favor. Além disso, o louvor faz fluir a alegria e o Espírito Santo começa a agir.
11) Manter a inocência e a espontaneidade diante de Deus: Davi, mais uma vez, quebrou a religiosidade e manifestou sua liberdade para expressar o louvor a Deus quando trouxe a arca para Jerusalém por meio dos levitas. 2 Sm 6: 14-16; 20-23 diz: “Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido duma estola sacerdotal de linho. Assim Davi, como todo o Israel, fez subir a arca do Senhor, com júbilo, e ao som de trombetas. Ao entrar a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela, e, vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração... Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele, lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pejo, se descobre um vadio qualquer! Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. Ainda mais desprezível me farei e me humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado. Mical, filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua morte”.
Anos tinham se passado desde que Davi fora ungido por Samuel, mas agora, um adulto e rei de Israel, ainda mantinha suas características da juventude: a inocência e a espontaneidade diante de Deus. A estola sacerdotal era uma veste curta e sem manga, na altura das coxas, entretanto, não era indecente, por isso o comentário de Mical não era pertinente. Mical simboliza: falsa moral, religiosidade, inveja, hipocrisia. O significado do seu nome em hebraico é: Quem é como Deus? Isso quer dizer que a religiosidade procede do diabo (Saul) e, quando Deus nos liberta das suas garras, não há mais motivo para adorarmos o Senhor vestidos com ela. Ela não faz mais parte da nossa vida, do reinado que Deus nos deu. A religiosidade traz uma falsa reverência e um falso temor ao Senhor. Atua na sociedade através de normas, regras, etiquetas, “fachadas” e aparências, que destroem a espontaneidade e a alegria verdadeira. Convém ressaltar que Mical não só morreu guardando essa amargura e essa inveja, mas morreu estéril. Nunca teve filhos, de Davi ou de ninguém. A religiosidade gera esterilidade, não produz descendência.
12) Semear para a descendência: “Eis que, com penoso trabalho, preparei para a casa do Senhor cem mil talentos de ouro e um milhão de talentos de prata, e bronze e ferro em tal abundância, que nem foram pesados; também madeira e pedras preparei, cuja quantidade podes aumentar. Além disso, tens contigo trabalhadores em grande número, e canteiros, e pedreiros, e carpinteiros, e peritos em toda sorte de obra, de ouro, e de prata, e também de bronze, e de ferro, que não se pode contar. Dispõe-te, pois, e faze a obra, e o Senhor seja contigo!... Disponde, pois, agora o vosso coração e a vossa alma para buscardes ao Senhor, vosso Deus; disponde-vos e edificai o santuário do Senhor Deus, para que a arca da Aliança do Senhor e os utensílios sagrados de Deus sejam trazidos a esta casa, que se há de edificar ao nome do Senhor” (1 Cr 22: 14-16; 19). “Quando os teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa em meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (2 Sm 7: 12-13). Davi sabia que não construiria o templo, mas ajuntou tudo o que era necessário para ele, guardando para que seu filho construísse o melhor para Deus. Assim devem ser nossas ações; da mesma forma que o pecado pode gerar conseqüências sérias para nossos filhos, os bons atos também geram bênção para a descendência.
13) Ser servo: uma das características que sempre se manteve intacta no coração de Davi foi o desejo de servir, ou seja, sua disposição ao serviço a Deus e aos outros. Ele não só se colocou como servo de Saul, como súdito que era (“Teu servo [ele estava falando com Saul] apascentava as ovelhas de seu pai”), como também um servo do povo de Deus. Ele se incomodou com as afrontas de Golias ao exército de Israel e se dispôs a lutar por ele. Também servia suas próprias ovelhas, defendendo-as dos ataques dos animais. No Antigo Testamento, a palavra pastor era usada para indicar um cargo de liderança, como o rei. Servir tem a ver conosco, o homem e a mulher segundo o coração de Deus, com o amor incondicional que devemos exercitar diariamente com aqueles que o Senhor coloca em nosso caminho. Devemos ter em nosso coração a mesma disposição de servir que tinha no coração de Davi.
14) O perdão está presente na vida do cristão: Davi experimentou o perdão de Deus por várias vezes e liberou o perdão na sua vida para muitas pessoas, várias vezes também, por isso Deus se manteve fiel a ele e cumpriu todas as Suas promessas, inclusive libertando-o de todos os seus inimigos. O perdão precisa fazer parte da nossa vida, mesmo que nos custe, pois assim o Senhor garante Sua mão de proteção, poder, bênção e livramento sobre nós. O ódio gera laços, o perdão os desata.
15) Não se acomodar: Davi, mesmo proclamado rei, não se acomodou, mas expandiu o reino. Continuou a pelejar as batalhas do Senhor, para que o reino se tornasse unido. Em 2 Sm 6: 1-4, a bíblia fala das diversas vitórias de Davi. No capítulo 10, fala da vitória contra os amonitas e os siros. No capítulo 12, fala da conquista de Rabá; nos capítulos seguintes Davi luta para manter unido o reino na revolta de Absalão e no capítulo 22, mais quatro gigantes são mortos pelos valentes de Davi. Finalmente, no livro de 1 Reis, Davi não descansa até passar seu reino a Salomão. O importante no homem e na mulher que são segundo o coração de Deus é que não se acomodam com os louros das vitórias passadas, mas aceitam desafios maiores para que o reino de Deus seja implantado. Os “Davis” têm dentro de si o desejo de melhorar e aperfeiçoar cada dia mais seu trabalho para agradar ao Senhor. Não desanimam nem buscam desculpas para seus fracassos, porém, realizam seu trabalho reconhecendo seu próprio limite e confiando no poder ilimitado de Deus. Buscam novos incentivos e aceitam os desafios para seu crescimento. Outra característica importante para os “Davis” que querem continuar trabalhando na Obra é querer sempre mais de Deus. Não há nada que Deus não possa nos dar. Ele é dono de tudo e qualquer sonho é possível para Ele, portanto, podemos Lhe pedir o que quisermos sabendo, entretanto, que a bênção que estamos pedindo será também para abençoar outros filhos Seus. Davi, quando foi ungido por Samuel, ainda era inexperiente, não tinha a mentalidade de um rei. O Senhor o forjou dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, até ele estar pronto para reinar e não mais perder o trono. Para Davi foi uma grande responsabilidade, pois da sua descendência nasceria o Messias, mesmo que isso estivesse oculto a ele. Ele se entregou nas mãos de Deus e se deixou ser conduzido. Entregou-se, foi conduzido e venceu.
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“Davi”
Curso para Ensino Bíblico – nível 1 (PDF)
Biblical Teaching Course – first level (PDF)
Davi, o servo, o líder, o amado de Deus (PDF)
David, the servant, the leader, the beloved of God (PDF)
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
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