Estudo sobre Lv 13: 1-59 (a lepra) e Lv 14: 1-32 (sobre os leprosos purificados). Leia sobre enfermidades físicas em geral do ponto de vista bíblico; diferença entre “doença e enfermidade”. Como os leprosos viviam no AT, no NT e na Idade Média?

Study on Lev. 13: 1-59 (the leprosy) and Lev. 14: 1-32 (on the cleansed lepers). Read about and physical illness in general from a biblical point of view; the difference “disease and sickness.” How did lepers live in the OT, NT and Middle Ages?


Estudo sobre lepra




A lepra (em hebraico: tzaraat, tsaraath ou çãra‘ath – Strong #6883, צרעת) era uma palavra usada para várias doenças de pele. Em outros casos, a mesma palavra falava de manchas em roupas ou paredes, que nós poderíamos chamar hoje de fungo ou mofo, em suma, algo que era cerimonialmente impuro. De acordo com a Lei, uma pessoa leprosa era considerada imunda: “Disse o Senhor a Moisés e a Arão: O homem que tiver na sua pele inchação (inchaço), ou pústula (erupção), ou mancha lustrosa (mancha brilhante), e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes. O sacerdote lhe examinará a praga na pele; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais funda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo” (Lv 13: 1-3).

Alguns estudiosos sugerem que Levítico capítulo 13 incluía diferentes doenças sob o termo geral lepra, pois não há muitas indicações de que a doença fosse freqüente na Antiguidade. Alguns dos sintomas descritos se assemelham à psoríase, aos eczemas, às pústulas (vesícula com conteúdo purulento), ao vitiligo (a pele fica com áreas de despigmentação, ou seja, fica mais branca em alguns lugares), às cicatrizes de queimadura (ou quelóides = cicatrizes espessas), à micose (“tinha” ou “sicose”) na pele ou na barba e à lepra. O diagnóstico era confiado ao sacerdote. Como dissemos acima, os critérios usados para o diagnóstico da doença eram: inchaço (ou algum tipo de tumoração), pústula e erupção, onde os pêlos se tornaram brancos e a parte afetada aparecia mais afundada que o resto da pele (Lv 13: 1-3); caso não se fizesse o diagnóstico de imediato, um novo exame era feito após isolamento de sete dias. Caso houvesse dúvidas ainda, outro exame era feito sete dias depois. Mas a anestesia [supressão da sensação térmica, ou seja, a capacidade de diferenciar entre o frio e o calor, e diminuição da sensação de dor no local, assim como a diminuição da sudorese sobre a mancha, em alguns casos] não é mencionada, nem o espessamento dos nervos superficiais, que são pontos essenciais para o diagnóstico da doença, de modo que a avaliação sacerdotal necessariamente envolvia certo grau de imprecisão. A contaminação se faz por via respiratória, pelas secreções nasais ou pela saliva, mas é muito pouco provável a cada contato. O tempo de incubação após a infecção é longo, de dois a vinte anos, o que explica porque a doença se desenvolve mais comumente em indivíduos adultos, apesar de que crianças também podem ser contaminadas.

Quando um leproso era purificado e assim pronunciado pelo sacerdote, é provável que a condição fosse auto-limitada, não verdadeiramente lepra (hanseníase). Sendo considerados puros (Lv 14: 1-32), o homem ou a mulher voltavam ao sacerdote e eram aspergidos sete vezes com sangue de uma ave limpa molhado num ramo de hissopo ou pau de cedro. Outra ave era solta em campo aberto. Os pêlos eram rapados, o corpo e as vestes lavadas e, depois de oito dias, se levava ao sacerdote um cordeiro sem defeito, de um ano, como oferta pela culpa, e três dízimas (30%) de um efa de flor de farinha (1 efa = 17,62 litros, portanto, 30% = 5,280 litros), para oferta de manjares, amassada com azeite, e separadamente um sextário (NVI: ‘caneca’ – mais ou menos trezentos mililitros) de azeite de oliva. O outro cordeiro sem defeito era para o holocausto. Uma cordeira de um ano sem defeito era oferta pelo pecado. O sangue da oferta pela culpa era colocado sobre a ponta da orelha direita e sobre o polegar da mão direita e sobre o hálux (dedão do pé) direito. Os trezentos mililitros de azeite, o sacerdote derramava sobre a palma de sua mão esquerda e molhava o dedo direito no azeite, aspergindo sete vezes perante o Senhor. Do restante do azeite, o sacerdote punha sobre a ponta da orelha direita do ex-leproso, sobre o polegar de sua mão direita e sobre o hálux direito em cima do sangue da oferta pela culpa. O que sobrava do azeite, o sacerdote derramava sobre a cabeça da pessoa. Um cordeiro sem defeito de um ano era oferecido em holocausto ao Senhor, junto com 30% de 1 efa de flor de farinha (a farinha mais fina e mais pura) misturada com azeite, o que resultava em pães, representando a oferta de manjares. Caso fosse pobre, traria um cordeiro para oferta pela culpa como oferta movida ao Senhor, para fazer expiação pela pessoa, 10% de 1 efa (1,762 litro) de flor de farinha amassada com azeite por oferta de manjares, além de 1 sextário (NVI: ‘caneca’ – mais ou menos 300 ml) de azeite e duas rolas ou dois pombinhos, dos quais um seria para oferta pelo pecado e o outro, para holocausto. A orelha direita significava que, a partir daquele momento, a pessoa se dispunha a obedecer a Deus e ouvir Sua voz com atenção. O polegar direito significava o compromisso de agir segundo os mandamentos, e o hálux direito, caminhar corretamente sobre a Palavra.

Para que isso seja entendido, vamos colocar umas informações necessárias sobre os sacrifícios do Antigo Testamento:
• Quando mais de um tipo de oferta era apresentado (Nm 7: 13-17), o procedimento era normalmente o seguinte: 1) oferta pelo pecado, 2) holocausto, 3) oferta pacífica e oferta de manjares (junto com uma libação). Essa seqüência mostra parte da importância espiritual do sistema sacrificial. Em primeiro lugar, o pecado tinha de ser tratado (oferta pelo pecado ou pela culpa). Em segundo lugar, o adorador comprometia-se completamente com Deus (holocausto e oferta de manjares). Em terceiro lugar, estabelecia-se a comunhão ou amizade entre o Senhor, o sacerdote e o adorador (oferta pacífica). No sacrifício pacífico, o peito e a coxa direita eram a porção do sacerdote, determinada por Deus (Lv 7: 29-34).

• Lv 22: 17-33: a oferta deve ser sem defeito. Não eram aceitos animais defeituosos, portanto, a nossa oferta diante do Senhor deve ser com o que temos de melhor, com as primícias, não com o que sobra, com os restos. O v. 19 diz: “Para que seja aceitável, oferecerá macho sem defeito”. A oferta deve ser dada com liberalidade e com inteireza de coração. Neste caso do leproso, a referência está em Lv 14: 10.

• A oferta movida ('othâm tenuphâh ou ath-m thnuphe – Lv 7: 30; Lv 14: 12) de carne ou de manjares recebeu esse nome, talvez, por ser movida diante do Senhor antes de lhe ser apresentada. Em hebraico, o verbo ‘eniph’ significa ‘mover a oferta’.

• Arão e seus filhos foram consagrados sacerdotes. A palavra hebraica traduzida por ‘consagração’ (millu) ou ‘consagrações (millu'iym – Strong #4394 – Lv 7: 37; Lv 8: 22; 28-29; 31; 33; Êx 29: 22; Êx 29: 26-27; Êx 29: 34) significa, literalmente: ‘encher a mão’, ‘mãos cheias’, e talvez se referisse às ofertas depositadas sobre as mãos ou ao óleo que era derramado sobre elas em alguns casos (o leproso depois de sarado – Lv 14: 15). O ritual de consagração dos sacerdotes (Lv 8: 1-36) simbolizava as responsabilidades e os privilégios do sacerdócio, lembrando os levitas que haviam sido separados para o serviço de Deus. Segundo a ‘Concordância Lexicon Strong’, a palavra millu'iym, מלאים, procede de mâlê' – מלא (Strong #4390), uma raiz primitiva, preencher ou estar cheio de, realizar, confirmar, encher, preencher, cumprir, ser ou tornar-se pleno ou completo, transbordar, plenitude, fornecer (prova, evidência) ou mobiliar (casa), recolher (isoladamente ou em conjunto), reabastecer, satisfazer, tomar (tirar) com uma mão cheia, presumir, ousar (como em Et 7: 5, na ARA, ‘instigou’, KJV: ‘que ousou presumir’, NIV/NVI: ‘ousou, se atreveu’).

• A palavra original traduzida por ignorância significa: vaguear, como uma ovelha que se desgarra do rebanho. Refere-se ao pecado oriundo da fraqueza do caráter humano, não de uma rebelião mal-disfarçada ou de um mal premeditado. Associamos a culpa à intenção, mas os antigos a associavam aos seus efeitos.

• O sacrifício de Jesus na cruz veio substituir todos esses sacrifícios, tendo Jesus se oferecido como cordeiro sem mácula, em nosso lugar, para nos resgatar do pecado e da maldição da Lei.


Sacrifício Bíblia Elementos Objetivo
Holocausto Lv 1:1-17 Boi, cordeiro ou rola (macho) ou pombinho para o pobre, sem defeito.
Era totalmente consumido.
Ato voluntário de adoração ou expiação de pecado por ignorância.
Expressão de devoção, aliança e completa submissão a Deus.
Oferta de manjares Lv 2:1-16 Flor de farinha, azeite de oliva, incenso, bolos com sal, sem fermento nem mel, que também faziam parte dos holocaustos e das ofertas pacíficas (junto com uma libação). Ato voluntário de adoração e dedicação a Deus por Sua bondade e provisão. O azeite simboliza alegria.
Oferta pacífica Lv 3:1-17 Qualquer animal sem defeito do rebanho.
Variedade de pães.
Ato voluntário de adoração; ação de graças e comunhão (junto com uma refeição comunitária).
Oferta pelo pecado Lv 4;
Lv 5;
Lv 6;
Lv 16:1-34
1. Novilho: no caso do sumo sacerdote e de todo o povo de Israel.
2. Bode: no caso do príncipe.
3. Cabra ou cordeiro: no caso de pessoas do povo.
4. Rola ou pombinho: no caso do pobre. Décima parte de uma efa de flor de farinha: no caso do muito pobre.
Expiação obrigatória para certos pecados por ignorância.
Confissão de pecado e o perdão dele. Purificação da mácula.
Oferta pela culpa Lv 7:1-10 Carneiro ou cordeiro Expiação obrigatória para pecados por ignorância que exigissem restituição. Purificação de máculas.
Restituição: 20% de multa.


Fonte da tabela: Bíblia de Estudo Vida, 2ª edição, Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida.

Caso fosse constatada impureza, seu portador deveria ser afastado do convívio dos demais cidadãos. O Antigo Testamento deu instruções explícitas para quem tivesse a lepra diagnosticada pelo sacerdote:

• Lv 13: 45-46: “As vestes do leproso, em que está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo! Imundo! Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; a sua habitação será fora do arraial”.
• Nm 5: 1-4: “Disse o Senhor a Moisés: Ordena aos filhos de Israel que lancem para fora do arraial todo leproso, todo o que padece de fluxo e todo imundo por ter tocado em algum morto; tanto homem como mulher os lançareis; para fora do arraial os lançareis, para que não contaminem o arraial, no meio do qual eu habito. Os filhos de Israel fizeram assim e os lançaram para fora do arraial; como o Senhor falara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel”.
• Nm 12: 9-15: “E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. Ora, não seja ela como um aborto, que, saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida”.
• 2 Reis 7: 3: “Quatro homens leprosos estavam à entrada da porta, os quais disseram uma aos outros: Para que estaremos nós aqui sentados até morrermos?”
• 2 Reis 15: 5: “O Senhor feriu ao rei [Azarias], e este ficou leproso até o dia da sua morte e habitava numa casa separada. Jotão, filho do rei, tinha o cargo da casa e governava o povo da terra”.

Assim, o leproso era expulso de casa e da sociedade e proibido de entrar em qualquer cidade. Devia vestir roupas rasgadas, deixar o cabelo emaranhado e clamar “imundo, imundo!”, se alguém se aproximasse. Aparentemente, estas convenções ainda estavam em vigor no tempo de Jesus. Os dez leprosos que encontraram Jesus nos arredores de uma aldeia permaneceram a certa distância e gritaram para Ele: “Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós!” (Lc 17: 12-13). Porém, o leproso em Mc 1: 40 veio direto até Jesus e Lhe implorou de joelhos que o purificasse: “Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me”. Se as vestes estivessem contaminadas, eram queimadas (Lv 13: 47-52).


O leproso na época Medieval com um sino


Na Idade Média, o uso de um sino era obrigatório para os leprosos, como uma forma de avisar as pessoas de que eles estavam chegando. Na Alta Idade Média (ou Antiguidade Tardia – do século V ao X – 476-999 DC), com o advento do Cristianismo e seu auxílio aos doentes (não apenas aos leprosos) e aos mais fracos, surgiu a instituição do hospital, formalmente reconhecida pelo imperador Justiniano (525-565 DC). O hospital diagnosticava a doença e realizava o tratamento, iniciando-se praticamente com o diagnóstico e a terapia de doenças oftalmológicas. Mesmo conhecida desde a Antiguidade, a lepra se difundiu pelo Ocidente a partir das Cruzadas (as Cruzadas na Terra Santa – 1095-1272, tradicionalmente contadas como nove; a 1ª de 1095-1099 e a 9º de 1271-1272). Do final do século XI ao século XIV, no mínimo 320 leprosários foram criados na Inglaterra, onde se pode ver muito a atitude humanitária da Igreja, pois o leproso enfrentava a recusa de atendimento por parte da sociedade. Os leprosários (sucedidos por hospitais específicos para leprosos e chamados ‘lazaretos’) foram instituídos ainda sobre a base de que o leproso era uma pessoa impura.


O leproso na época Medieval com um sino


Na imagem acima você pode ver um leproso mutilado (sem a mão esquerda e o pé direito) com um sino (os leprosos deveriam anunciar que estavam passando, para que as pessoas pudessem saber e se afastar). The British Library, Pontifical (c. 1400), Manuscrito Lansdowne 451, folio 127.

Enfermidades do ponto de vista bíblico

1) A enfermidade, algumas vezes, na bíblia, foi descrita como uma forma de punição ou penalidade pelo pecado ou como conseqüência do próprio pecado:
• Nm 12: 10: “A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa”.
• Dt 28: 21-22: “O Senhor fará que a pestilência te pegue a ti, até que te consuma a terra a que passas para possuí-la. O Senhor te ferirá com a tísica [tuberculose], e a febre, e a inflamação, e com o calor ardente, e a secura, e com o crestamento [queimadura de pele pelo calor do sol], e a ferrugem [NVI: mofo]; e isto te perseguirá até que pereças”.
• Dt 28: 27-28: “O Senhor te ferirá com as úlceras do Egito, com tumores, com sarna e com prurido de que não possas curar-te. O Senhor te ferirá com loucura, com cegueira e com perturbação do espírito”.
• Dt 28: 59-61: “Então, o Senhor fará terríveis as tuas pragas e as pragas da tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades graves e duradouras. Fará voltar contra ti todas as moléstias do Egito, que temeste; e se apegarão a ti. Também o Senhor fará vir sobre ti toda enfermidade e toda praga que não estão escritas no livro desta lei, até que sejas destruído”.
• 2 Rs 5: 27: “Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve”.
• 2 Cr 21: 14a; 15: “Eis que o Senhor castigará com grande flagelo ao teu povo, aos teus filhos, às tuas mulheres e todas as tuas possessões. Tu terás grande enfermidade nas tuas entranhas, enfermidade que aumentará dia após dia, até que saiam as tuas entranhas” [Câncer de reto ou prolapso retal; em relação ao rei Jeorão].
• 2 Cr 16: 19b: “Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na casa do Senhor, junto ao altar do incenso” [em relação ao rei Uzias].
• Mc 2: 5: “Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados”.

2) Outras vezes, foi para que se manifestasse a glória de Deus. As enfermidades aqui não estavam relacionadas diretamente ao pecado da pessoa ou dos antepassados, mas Ele as permitiu para que através delas Seu poder fosse manifesto:
• Lc 8: 42: “Pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte” (filha de Jairo, que foi ressuscitada).
• Jo 9: 3: “Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (a cura do cego de nascença).
• Jo 11: 4: “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (Lázaro).

Nestes casos, assim como o caso da mulher curada de hemorragia há doze anos (Mc 5: 25-34), a própria fragilidade e imperfeição humana favoreceram o aparecimento da doença, pois o pecado de Adão trouxe imperfeição ao corpo humano e à sua genética e ao nascermos, essas deformidades se estabelecem, mesmo que não haja pecado dos antepassados. Assim, a glória de Deus pôde se mostrar aos homens como uma forma de expressar a Sua perfeição divina que cura e liberta de toda a deformidade e imperfeição.

3) Outras vezes, era descrita como gerada por espírito imundo:
• Mc 5: 5: “Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras” (as feridas eram feitas por espíritos imundos).
• Mc 9: 17-18: “E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que os expelissem, e eles não puderam” (epilepsia).
• Lc 13: 11-12: “E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum pode endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade”.

4) Outras vezes, a doença física pode ser gerada por um abatimento de alma e espírito (Pv 17: 22: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”) ou ser mandada pelo Senhor com um propósito (por exemplo, a esterilidade, no caso de algumas mulheres no AT e no NT) e esta levar à doença emocional (tristeza, amargura), que, por sua vez, pode agravar a doença inicial ou provocar outra. É o que podemos ver, por exemplo, em 1 Sm 1: 5-8 no caso de Ana: “A Ana, porém, dava porção dupla, porque ele a amava, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril (A sua rival a provocava excessivamente para a irritar, porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre). E assim o fazia ele de ano em ano; e, todas as vezes que Ana subia à Casa do Senhor, a outra a irritava; pelo que chorava e não comia. Então, Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que estás de coração triste? Não te sou eu melhor do que dez filhos?”

A bíblia não diz que a esterilidade era uma maldição por seu pecado ou de seus antepassados (diferente do caso de Sara, Rebeca, Raquel e Rute por serem descendentes de idolatria), mas tinha sido permitida pelo Senhor para realizar Seu propósito na vida de Ana, através de Samuel (1 Sm 1: 19b e 20: “... e, lembrando-se dela o Senhor, ela concebeu e, passado o devido tempo, teve um filho, a que chamou Samuel, pois dizia: Do Senhor o pedi”). O fato de Ana estar triste e amargurada pela esterilidade e se recusar a comer por causa disso, poderia agravar sua esterilidade ou levá-la a outro tipo de doença, por exemplo, anemia e inanição. Outra mulher estéril foi a mãe de Sansão e, através dela, Deus exerceu Seu propósito de dar Sansão a Israel como juiz e libertador e mostrar ao Seu povo que Ele ainda continuava a fazer milagres (Jz 13: 2-5). No NT, Isabel também era estéril (Lc 1: 5-7 e 36) e, através do milagre de Deus, deu à luz João Batista para cumprir o propósito divino como precursor do Messias.

Diferença entre doença e enfermidade (Difference between disease and sickness)

Vale a pena um comentário sobre a diferença entre as palavras “doença” e “enfermidade”, algumas vezes usadas no NT por Jesus:
• Mt 4: 23: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”.
• Matt. 4: 23: “Jesus went throughout Galilee, teaching in their synagogues, preaching the good news of the kingdom, and healing every disease and sickness among the people.” – NIV

• Mt 9: 35: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades”.
• Matt. 9: 35: “Jesus went through all the towns and villages, teaching in their synagogues, preaching the good news of the kingdom and healing every disease and sickness.” – NIV

• Mt 10: 1: “Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades”.
• Matt. 10: 1: “He called his twelve disciples to him and gave them authority to drive out evil [Greek: unclean] spirits and to heal every disease and sickness.” – NIV

“Doença”, em grego, νοσον, nosos – Strong #G3554 significa: uma doença, enfermidade. E “enfermidade”, μαλακιαν, malakia – Strong #G3119 significa: fraqueza corporal, doença. Procede de outra palavra, malakos, que significa: debilidade; um sentimento de ser drenado de energia ou vitalidade; fadiga.

“Disease”, in Greek, νοσον, nosos – Strong #G3554 means: a disease, malady, infirmity, sickness. And “sickness”, μαλακιαν, malakia – Strong #G3119 means: weakness, illness, sickness, bodily weakness. It comes from ‘malakos’, meaning: softness, i.e. Enervation (debility): a feeling of being drained of energy or vitality; fatigue.

Cassell (médico e bioeticista americano, Eric Jonathan Goldstein, que mudou seu nome para Eric Jonathan Cassell – 1928-2021; em seu trabalho ‘Illness and disease’ – ‘Enfermidade e doença’ – publicado em 1976) define a ‘enfermidade’ (illness, sickness) como ‘o que o paciente sente quando ele vai ao médico’ e ‘doença’ (disease) como ‘o que o paciente tem ao sair do consultório médico’. ‘Doença, então, é algo que um órgão tem; enfermidade é algo que um homem tem’. A enfermidade é a resposta subjetiva do paciente ao fato de não estar bem, a experiência e a sensação de uma saúde debilitada; modificação no estado de saúde de uma pessoa. A doença (disease) se refere às anormalidades da estrutura e função dos órgãos e sistemas corporais (Eisenberg 1977), como por exemplo, diabetes, tuberculose, etc.

Em outras palavras, enfermidade significa que a pessoa não está ou não se sente em saúde completa. Por sua vez, a doença é um distúrbio de estrutura ou função que produz sinais ou sintomas específicos ou que afeta um local específico do corpo e não é simplesmente um resultado direto de lesão física. Leon Eisenberg (1922-2009), um psiquiatra infantil americano, estabeleceu a utilidade de distinguir ‘doença’ de ‘enfermidade’. Para ele, o termo enfermidade se refere especificamente à experiência pessoal do paciente com sua doença: uma pessoa pode ter uma doença sem estar enfermo, ou seja, ter uma condição médica objetivamente definível, mas não se sentir doente ou angustiado por ela; ou, então, estar enfermo sem estar doente (a pessoa se sente mal sem ter uma doença física; ela se sente constrangida por não estar em total vigor e interpreta esse sentimento como doença em vez de emoções normais).

Seja qual for a causa da doença ou da enfermidade, o sacrifício de Jesus veio para nos resgatar dela:
• Is 53: 4-5: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas doenças e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
• 1 Pe 2: 24: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”.

Conclusão deste tópico

As enfermidades têm inúmeras causas, mas, por assim dizer, um único e verdadeiro tratamento: a fé em Deus. A medicina trata; Deus cura. A nossa atitude diante da vida ocupa uma grande parcela nas enfermidades, pois quem se ama, se cuida. Quem se sente amado por Deus, sente também o desejo de amar e preservar o que Ele criou. Homens podem isolar e segregar uns aos outros por causa de doenças ou por qualquer outra causa; Deus, entretanto, nos chama para Ele para que possamos ter uma convivência sadia com nossos irmãos.


Jesus cura o leproso

Lepra emocional e espiritual

Vamos terminar falando sobre “lepra espiritual e emocional”, como a bíblia mostra.

É bom relembrar que nos tempos bíblicos, várias afecções dermatológicas eram agrupadas sob o nome de lepra, entretanto, muitas eram evidentes, fazendo com que a pessoa começasse a perder a sensibilidade de algumas partes do corpo pela doença, propiciando a formação de feridas que, infectadas e mal tratadas, faziam-na perder progressivamente os membros. Por isso, ao ser diagnosticada a lepra numa pessoa, ela era rotulada como cerimonialmente impura, além de ser um perigo para a sociedade. Portanto, o diagnóstico de lepra trazia à pessoa um completo isolamento espiritual e social, afetando grandemente sua vida física, emocional e familiar. Quando, porém, por algum milagre de Deus as pessoas eram curadas, deveriam voltar ao templo e mostrar a ferida ao sacerdote e oferecer sacrifícios pela sua purificação. Assim, tanto no corpo, como na alma e no espírito, a lepra deixava marcas, por isso o leproso era expulso de casa e da sociedade e proibido de entrar em qualquer cidade. Devia habitar só (Lv 13: 45-46), vestir roupas rasgadas, deixar o cabelo emaranhado e clamar “imundo, imundo!” se alguém se aproximasse. Quando Jesus veio e começou a fazer milagres, as pessoas acometidas por este mal vieram a Ele em busca de cura, pois se elas fossem curadas, tudo o mais seria restaurado em suas vidas. Duas palavras-chave escritas no texto abaixo são importantes para nós:

• Nm 12: 9-15: “E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. Ora, não seja ela como um aborto, que, saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida”.

Assim, a lepra tem o significado bíblico de feridas emocionais (“envergonhada”) que nos isolam do convívio normal com nossos semelhantes ou o pecado (lepra espiritual), que deixa marcas espirituais terríveis gerando separação entre a pessoa e Deus, por isso Jesus veio para nos curar das marcas deixadas pela lepra do pecado. O pecador que O procura está consciente da sua inutilidade como ser humano, pois se torna impossível viver mais desse jeito; a pessoa se sente rejeitada e impura. É o que o seu espírito e a sua alma sentem quando se deparam com o próprio erro. Entretanto, deve ter a ousadia de se aproximar do Senhor suplicando por cura. O primeiro ensinamento aqui é: quando reconhecemos o nosso pecado e nos submetemos à vontade de Deus Lhe pedindo perdão, Ele nos toca com cura. O segundo é: mesmo que muitos sintam nojo de nós ou repulsa pelo mal que nos acometeu, Jesus jamais nos rejeita, pois não tem medo nem nojo de feridas; Ele veio para nos livrar delas. A lepra acomete raízes nervosas, o que faz com que a pessoa passe a não ter mais sensibilidade naquela região do corpo que está afetada. É o que o pecado faz com aqueles que dele estão cativos: se tornam insensíveis à verdade, não sentem mais a presença de Deus. Assim, o terceiro ensinamento é: quando o Senhor nos toca com libertação, as “cascas da ferida” caem e voltamos a ser sensíveis à Sua voz e à Sua presença. Dessa forma estamos aptos para reatar nossa convivência não apenas com Ele, mas com nossos irmãos, pois voltamos a amar e a ter compaixão pelos outros. Começamos a nos sentir úteis porque a experiência que tivemos nos capacita, agora, com unção para tratarmos os que estão com o mesmo problema.

Lepra, portanto, pode ter o significado de: lepra mesmo (mal de Hansen), outras doenças de pele; feridas emocionais ou pecado (lepra espiritual).

Quero terminar com um comentário que coloquei no assunto sobre os animais permitidos e proibidos por Deus no livro de Levítico 11: 1-47:
Nós podemos dizer que é uma vergonha existir ainda hoje certas doenças em nosso meio (a lepra é um exemplo), pois perpetuá-las é uma prova da maneira suja de manter a nossa própria vida, fazendo pouco caso da higiene e das orientações sanitárias, que estavam mais presentes e mais atuantes num povo nômade do deserto do que hoje, com tanta tecnologia. Aquele povo que caminhou sob as ordens de Moisés e guiado por Deus mantinha pouquíssimos casos de doenças infecciosas, apesar de tudo o que passou (Exceto nos casos onde elas foram enviadas por Deus como punição – Nm 12: 10; Nm 14: 12; 37; Nm 16: 46; 48). É só ler a bíblia com atenção que vamos perceber a descrição exageradamente detalhada de Deus dada a Moisés e, conseqüentemente, ao Seu povo. Era cheia de minúcias para não deixar dúvidas quanto ao que deveriam fazer, inclusive, o que comer. Hoje nós dispomos de banheiras, duchas, preservativos, absorventes higiênicos e fraldas descartáveis, freezer, geladeira, microondas, antibióticos, autoclaves, centros hiperbáricos, hospitais e equipes cirúrgicas especializadas. Lá atrás, eles só tinham alimentos precários, de difícil conservação caso passassem um ou dois dias debaixo do sol do deserto, água escassa, mas uma grande e forte presença de Deus, proibindo ou permitindo coisas na Sua onisciência para que o homem não fosse prejudicado, coisas que nós viemos a descobrir séculos depois. Pior do que isso, nós descobrimos as causas, porém desrespeitamos as regras divinas para facilitar sua erradicação.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Curiosidades e revelações

Curiosidades e revelações (PDF)

Curiosities and Revelations (PDF)


Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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