Estudo evangélico sobre a queda do homem. Maldição é a palavra que sai da boca de homens ou da boca de Deus como Seu julgamento contra o pecado, e as conseqüências que isso trouxe. O que é uma dispensação?
Evangelical study on the fall of man in Eden. A curse is the word that comes out of the mouth of men or the mouth of God as His judgment against sin, and the consequences that it brought. What is dispensation?
Gn 3
1 Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
2 Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem em do mal.
6 Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido e ele comeu.
7 Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.
8 Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia [NVI: Quando soprava a brisa do dia], esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.
9 E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?
10 Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.
11 Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12 Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.
13 Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.
14 Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isto fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida.
15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente [referência a Jesus]. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
16 E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.
17 E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.
18 Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.
19 No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.
20 E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser mãe de todos os seres humanos.
21 Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu.
22 Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e toque também na árvore da vida e coma, e viva eternamente.
23 O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado.
24 E, expulso o homem, colocou querubins [vários, pois a palavra está no plural, e não no singular – Strong #3742, cherub ou kerub; plural: cherubims – em hebraico e na KJV] ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.
Você consegue perceber a sutileza da conversa? De alguma forma, a serpente causou uma distorção na mente de Eva; ela passou a confundir a árvore da Vida (símbolo de Jesus) com a árvore do conhecimento do bem e do mal, símbolo da altivez e da arrogância de Satanás, cujo objetivo era roubar para si algo que pertencia exclusivamente a Deus. O diabo, assim como o Criador, conhecia o bem e o mal, pois fora formado muito tempo antes de Adão e Eva e tinha caído por causa de sua soberba; por ser um anjo e ter o poder dado por Deus sobre o mundo espiritual, conhecia a diferença entre luz e trevas. Por isso, por ciúmes do homem e da sua relação com o Senhor, induziu a mulher ao erro para que ela influenciasse o marido e perdessem a tão cobiçada comunhão com Ele. A serpente introduziu na mente do ser humano, entre muitas outras coisas, a distorção, fazendo com que Adão e Eva passassem a ver tudo o que tinha sido criado com outros olhos que não os de Deus; em outras palavras, com olhos maus. Não só o sexo, mas todas as áreas da vida do homem o diabo fez pecaminoso, a partir do momento em que abriu o entendimento deles para a impureza; mesclou a pureza, a inocência e a alegria de Deus ao peso e ao sentimento de culpa pela desobediência a Ele, à curiosidade de saber sobre todas as coisas e que, logicamente, trouxe acusação e punição. Também implantou uma carga emocional desnecessária ao homem, deformando tudo e causando confusão; mais do que isso, transformou a imagem do Criador em algo punitivo, opressor e vingativo. Foi o que a Lei acabou trazendo para impedir as deformidades: a restrição e a proibição. Isso age até hoje, inconscientemente, na vida das pessoas que não sabem lidar muito bem com as emoções e sensações da alma e do corpo: negam-nas, anulam-nas, ignoram-nas, tentam administrá-las através do intelecto, projetam-nas sobre outros ou as proíbem de se manifestar (reprimem-nas). Isso não traz paz de forma alguma à alma, pelo contrário, aumenta o conflito e a pressão interior, ainda mais se foi calcado no inconsciente mais profundo. Até os conflitos virem à tona para ser tratados, o Espírito de Deus vai ter que trabalhar muito na pessoa para ela mesma ver do que se trata e dar àquilo a dimensão correta. Tudo o que aconteceu foi conseqüência da desobediência do ser humano às ordens de Deus.
Encontrei uma informação importante sobre obedecer. O verbo hebraico traduzido como obedecer é “shãma‘ be”, literalmente: dar ouvidos a. Na Septuaginta (tradução grega do AT) e no NT é hypakouõ que significa: ‘ouvir debaixo’ ou eisakouõ (1 Co 14: 21: “Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor”), que significa: ‘ouvir dentro’. No AT, obedecer a Deus significa: ‘dar ouvidos à Sua voz’. Adão e Eva não deram ouvidos à Sua voz. Por isso a pena de Deus sobre Eva, por desobedecer-Lhe, foi ser dominada, governada (submissa, ‘mãshal be’) por Adão: “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3: 16b – mashal = governar, ter poder, ter domínio, reinar – Strong#4910). Estou dizendo isso porque, prestando atenção aos dois verbos, parece que estamos vendo apenas uma transposição de sílabas: shãma‘ be e mãshal be.
O pecado tinha criado uma impureza e um abismo entre Deus e o ser humano. Em Gn 3: 22 está escrito: “Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e toque também na árvore da vida e coma, e viva eternamente”. Esse comentário também deixa subentendido que Adão e Eva passaram a ter a noção do certo e do errado e isso ficou impresso no coração do ser humano, mesmo que inconscientemente, dando-lhe, portanto, a responsabilidade sobre suas futuras atitudes. É como se Deus quisesse dizer: “mesmo que vocês não tenham ainda as minhas leis gravadas em pedra (pois a Lei só foi dada milhares de anos mais tarde através de Moisés), a noção do certo e do errado permanece dentro de vocês; portanto, não têm mais desculpa de não saberem o que estão fazendo”. Por isso, uma criancinha, mesmo sem saber ler ou mesmo sem conhecer a Palavra, expressa visivelmente seu entendimento de que fez algo errado. Dentro dela, ela sabe que errou, que fez algo que não é bom – cf. Pv 20: 11: “Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto”.
Deus os expulsou do Éden e colocou querubins para guardar o oriente do jardim. O oriente, na bíblia, significa: o espiritual. Isto quer dizer que Deus fez, a partir daí, uma separação espiritual entre Ele e o homem, pois este tinha se maculado com o pecado e não mais poderia usufruir espiritualmente do relacionamento íntimo com Ele como tinha antes. Como vimos, Adão deu à sua mulher o nome de Eva (Hawwâ), que significa: vida (Hebr.: ‘chai’, ‘chay’ ou ‘hay’), raiz da vida, mãe da humanidade, mãe de todos os seres vivos. Essa palavra (Hawwâ) só aparece na bíblia duas vezes em relação a Eva:
• Gn 3: 20: “E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser mãe de todos os seres humanos”.
• Gn 4: 1: “Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim [= adquirido, forjado, possessão]; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor”.
Deus havia criado o homem à Sua imagem e semelhança, abençoando-o em tudo e lhe dando o direito de conversar com Ele e conhecer Seus segredos e Seu caráter. A condição era a obediência. Mas, debaixo da influência sedutora da serpente, a mulher foi enganada e levou o homem a pecar também, comendo ambos do fruto da árvore proibida por Deus. A bênção de Deus se transformou em maldição. A terra se tornou maldita e o trabalho de Adão passou a ser com esforço e luta. A terra, que antes produzia frutos bons e agradáveis, passou a produzir cardos e abrolhos (Gn 3: 18), isto é, ervas daninhas. A mulher, que tinha uma posição de honra e igualdade com o homem passou a ser dominada por ele, ou seja, antes era ensinada por ele em amor e o complementava. A partir do pecado, entrou inimizade no seu relacionamento e ela passou a ser controlada por ele, pois não se mostrou digna de sua confiança. A semente da desconfiança gerou a escravidão. De qualquer forma, o pecado foi pelos dois e afetou a vida dos dois e do resto da humanidade. Para a mulher, a quem antes da queda seria abençoada a atividade de criar filhos, o fato de criar descendência num mundo decaído passou a ser um trabalho árduo (com dores). Deus sabia que, a partir daí, teria que colocar em prática Seu plano de salvação enviando Seu Filho, que nasceria do ventre de uma mulher, mas seria o Único capaz de reverter todo o processo de destruição e acabar com as obras da serpente. Por isso disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente [Jesus]. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3: 15).
O homem, ser masculino, passou a se desviar do seu projeto inicial em relação ao amor, à entrega, à provisão, à submissão a Deus e ao compromisso com Ele e com sua mulher. Passou a ser omisso em relação às suas obrigações e a abusar do poder e da autoridade que Deus lhe deu, oprimindo a mulher. Ela, por sua vez, passou a ser uma competidora do homem ao invés de sua auxiliadora, deixando o ciúme, a maledicência, a sedução e a influência negativa entrarem no relacionamento. Outra semente maligna implantada pela serpente no interior da mulher foi a rebeldia, não só ao homem como seu marido, mas a todos os tipos de autoridade delegada por Deus, o que piorou o seu estado durante os séculos que se sucederam, criando um cativeiro e uma “prisão”, onde ela passou a ser oprimida, humilhada, desrespeitada em sua dignidade em todos os sentidos. Isso tudo acarretou nela um comportamento mais inflexível, fazendo-a até perder sua feminilidade. Passou a fazer coisas que homens faziam com mais freqüência como beber, fumar, jogar, viver uma vida sexual mais libertina e sem compromisso etc. Os séculos se passaram e, em prol da sua libertação e busca pela própria dignidade e respeito, a mulher “se perdeu”, pois passou a usar a maneira de lutar do mundo, não a de Deus. Submissão implica em ‘sustentar uma missão’, ou seja, sustentar a direção dada por Deus ao homem em relação a tudo, inclusive a família. Portanto, se o homem não ouvir a Deus e negligenciar sua posição de “cabeça” da família, de “teto de sua própria casa”, a família perece, a casa fica sem “telhado” e o alicerce, que é a mulher, fica desprotegida (sem cobertura).
Muitas pessoas jamais pensaram que Deus amaldiçoa. Não é propriamente a Sua vontade de fazê-lo, mas porque Suas leis são imutáveis, quem as viola acaba caindo no julgamento que a própria Palavra traz, como disse Jesus: “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo” (Jo 12: 46-50).
Outras referências bíblicas: Dt 11: 26-28; Dt 30: 15- 20; 2 Sm 12: 7-15 (Natã repreende Davi pelo seu pecado com Bate-Seba); Sl 37: 22; Ml 3: 9; Gl 3: 10-13.
• Hb 6: 4-8: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmo o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição, e o seu fim é ser queimado”.
• Hb 10: 26-31: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés (Dt 17: 6 e Dt 19: 15). De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”.
Podemos comparar os dois textos acima com o que Pedro diz em 2 Pe 2: 20: “Portanto, se depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro”.
Se lermos com atenção o que foi escrito por Pedro para os que se afastaram da fé, não é o mesmo que está dito por Jesus em Mt 12: 43-45 sobre a estratégia de Satanás? “Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa”. Isso é maldição.
Assim, deduzimos que a maldição de Deus não foi só no Antigo Testamento, mas também no Novo Testamento para quem rejeita a graça salvadora de Jesus e se recusa a crescer com Ele e se santificar.
Não foi só Adão, Eva e a serpente que foram amaldiçoados; Caim também o foi, quando matou seu irmão Abel por ciúmes e inveja do seu relacionamento puro com Deus:
Gn 4
8 Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou.
9 Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou tutor de meu irmão?
10 E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim.
11 És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão.
12 Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.
13 Então, disse Caim ao Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.
14 Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará.
15 O Senhor, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.
16 Retirou-se Caim da presença do Senhor e habitou na terra de Node, ao Oriente do Éden.
Node era uma terra para o oriente do Éden (qidhmath-‘edhen). O nome nôdh é o mesmo que o infinitivo do verbo nüdh (nwd) que significa: andar para lá e para cá, vaguear, quando Caim se queixa do fato que se tornaria errante. Esse nome é desconhecido fora da bíblia, porém, sua forma e o contexto sugerem que se tratava de uma região onde se tornava necessária uma existência nômade, tal como aquela que até hoje se pode encontrar em diversas porções do oriente médio. Apesar do castigo de Deus, Caim trazia Sua marca (Gn 4: 15) e quem o matasse, seria vingado sete vezes. Depois dessas informações, o Espírito Santo me fez lembrar das tribos dos queneus e dos recabitas (descritas em Jr 35: 1-19, no século VII-VI AC), que se dizem descendentes de Caim (fonte: O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995).
Eu pensei: “se todo ser vivente foi destruído após o dilúvio, e só os filhos de Noé, descendente de Sete, o terceiro filho de Adão, permaneceram vivos, como, então, os queneus teriam Caim como antepassado?” Então, juntando as hipóteses de que:
1) Com a marca de Deus, ele não poderia morrer, portanto, teria que deixar descendência (Gn 4: 15 e 4: 24).
2) Foi morar como nômade no oriente do Éden, local depois do Dilúvio atribuído ao Oriente Médio, provavelmente Midiã, a terra do sogro de Moisés.
3) Queneus eram os integrantes de uma das tribos de Midiã, filho de Abraão com Quetura (Gn 15: 19; Nm 10: 29-33; Jz 1: 16; Jz 4: 11; 1 Sm 15: 6; 1 Sm 27: 10; 1 Sm 30: 29; 1 Cr 1: 32-34; 1 Cr 2: 55); o nome queneu significa ‘ferreiro’ e a presença de cobre a sudeste do golfo de Aqaba (parte do Mar Vermelho, a leste, entre da península do Sinai e a região de Midiã, correspondente à Arábia Saudita) confirma esta interpretação.
4) A bíblia fala que na 6ª geração de Caim, seu descendente Tubalcaim foi artífice de todo instrumento cortante de ferro e bronze (amálgama marrom-amarelado de cobre com até 1/3 de estanho; o latão, que a bíblia às vezes chama de bronze é um amálgama amarelado de cobre e zinco): “Zilá, por sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá” (Gn 4: 22).
5) Jetro (sogro de Moisés) conhecia de alguma forma o nome de YHWH, provavelmente pelos seus antepassados, pois ensinou a Moisés como adorá-lO e, depois que o povo saiu do Egito e venceu Amaleque, o sacerdote de Midiã [Jetro] lhe trouxe sua filha e seus netos que estavam com ele para adorar o Senhor, junto com Moisés e Arão (Êx 18: 12).
6) O Dilúvio poupou apenas a família de Noé (sua esposa, seus três filhos e suas três noras), para depois repovoarem a terra.
... Cheguei à conclusão que uma das noras de Noé era descendente de Caim, por isso seu nome não desapareceu da terra. Dessa forma, mesmo amaldiçoando-o, Deus colocou Sua marca nele, dando-lhe escape a fim de que sua descendência não fosse dizimada.
Nossa conclusão é: a desobediência à vontade de Deus traz consigo a maldição, pois a transgressão acarreta uma punição. Por isso, foi necessária a preservação da árvore da vida (Jesus), pois só através do Seu sacrifício, nos substituindo, seria possível a restauração da pureza do Éden. Quem não tem Jesus como seu Senhor e Salvador permanece debaixo da maldição e da dispensação do AT.
É um período de tempo (histórico / espiritual), no qual Deus trata com a humanidade, ou com um povo, de uma determinada maneira. Jesus veio trazendo uma nova dispensação, a da graça (favor imerecido, isto é, não é pelas nossas obras que somos salvos), pois pela fé nEle alcançamos a Salvação e não precisamos mais cumprir os preceitos infindáveis da Lei, senão dois: “Amarás o teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Maldição é a palavra que sai da boca de Deus como Seu julgamento contra o pecado (lembre-se de Davi – 2 Sm 12: 10), em especial a condenação eterna sobre os desobedientes e impenitentes. Não apenas Deus tem uma palavra de maldição contra o pecado, mas o ser humano também pode amaldiçoar outro através de uma palavra que sai da sua boca. Nós não estamos mais debaixo da maldição da Lei, ou seja, não é pelos nossos bons atos que seremos salvos, mas pelo sangue de Jesus; entretanto, quando pecamos e Ele nos perdoa, ainda assim o nosso ato pecaminoso e o que saiu da nossa boca (‘uma maldição de sentença’) acarretaram uma conseqüência ruim para nós e para outros, que só será quebrada de fato com o nosso novo posicionamento em Cristo: quebrando com a nossa boca as maldições que proferimos ou que outros proferiram, aprendendo a abençoar vidas, pedindo perdão a quem ferimos e liberando perdão para quem nos feriu, restituindo o que foi roubado, agindo como um verdadeiro discípulo de Cristo e lutando pela justiça de Deus na terra. Em outras palavras, nós conquistamos na vida material a bênção que Jesus já nos deixou nas regiões celestiais (Ef 1: 3; 20-23; Ef 2: 6; Ef. 3: 10; Ef 6: 12). Esta parte é da nossa incumbência.
Gn 4
1 Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim [= adquirido ou forjado]; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor.
2 Depois, deu à luz a Abel [= sopro, vapor, ou filho], seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador.
3 Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
4 Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta;
5 ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante.
6 Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante?
7 Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.
É importante lembrar que neste período, o homem já trazia dentro de si a natureza pecaminosa implantada pela serpente. Abel parecia puro de coração e o seu desejo era adorar o Senhor, apesar da bíblia mencionar em Gn 4: 26 que só a partir do neto de Adão e Eva, é que se começou a invocar o nome do Senhor: “A Sete [(hebr.: sheth), filho de Adão e Eva após a morte de Abel porque Eva dissera: ‘Deus me concedeu (shãth) outro descendente em lugar de Abel’] nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos [que significa: ‘mortal, homem’]; daí se começou a invocar [NVI: ‘proclamar’] o nome do Senhor”. Seja como for, o espírito de Abel o atraía para o Criador. A grande diferença entre a oferta de Caim e a oferta de Abel é que Caim fazia por obrigação ou para imitar o irmão, mas não com o coração espontâneo do outro. Abel deu a Deus as primícias do seu rebanho, isto é, o que tinha nascido primeiro, como um sinal de que o Criador era mais importante do que qualquer coisa; Ele estava em primeiro lugar em sua vida. Caim não procedeu da mesma forma e, quando foi tirar satisfação com Deus, este lhe respondeu: “Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gn 4: 6-7). Isso queria dizer que, a partir do momento em que a serpente corrompeu o coração do homem, a tentação estaria sempre presente em sua vida, mas cumpria a ele dominá-lo. O homem é que teria que aprender a dominar a tentação, não Deus. Por causa disso, Caim se sentiu rejeitado e matou o irmão. Outro texto interessante sobre a atitude de Abel se encontra em Hb 11: 4 e 6: “Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio delas, também mesmo depois de morto, ainda fala (Gn 4: 3-10)... De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.
Esta narrativa sobre a oferta de Abel e Caim descreve o primeiro ato de adoração registrado na história humana. Os dois trouxeram algo como uma oferta de adoração ao Senhor. O livro de Gênesis não explica por que começa a prática do sacrifício com o objetivo de adoração a Deus. Como os primeiros cinco livros da bíblia foram escritos por Moisés, que tinha sido instruído por Deus a respeito dos sacrifícios, talvez os primeiros leitores deste texto entendessem bem essa questão.
Não há indicação nenhuma sobre a adoração deles envolver o derramamento de sangue (Hb 9: 22), pois nem Caim nem Abel se achegaram a Deus naquele momento para pedir o perdão por pecados cometidos. As ofertas deles foram atos voluntários de adoração e, segundo o sistema de sacrifícios descritos na própria bíblia, Deus abençoava tanto as ofertas de cereais (as ofertas de manjares) como o sacrifício de animais (Lv 6: 14-23). Assim, os agricultores apresentavam uma porção de sua produção, e os pastores, animais de seu rebanho.
Talvez o sacrifício de Caim tenha sido inferior ao de Abel porque sua motivação não fosse boa, e a do seu irmão sim. Por algum motivo que não é aludido no texto, Deus atentou para a oferta de Abel, e não para a de Caim, e isto o deixou irado, levando-o a matar o irmão por inveja. Como descrevi acima em Hb 11: 4 e 6, um grande fator a ser levado em consideração aqui é a fé, ou seja, a diferença de motivação dos dois corações. Sendo Abel um homem de fé, veio com o espírito correto e adorou de maneira agradável a Deus. A bíblia em nenhum momento deixa claro o conhecimento de sua necessidade de expiar seus pecados usando um animal do seu rebanho. Pelo que parece as duas ofertas expressavam gratidão, ação de graças e devoção a Deus. Mas o homem que não tinha fé verdadeira no seu coração não podia agradar a Deus, embora sua oferta material fosse imaculada, ou seja, mesmo que Caim ofertasse a Deus um cordeiro comprado do rebanho de Abel. Deus não se agradou de Caim porque já olhara para ele e vira o que havia no seu coração. Abel veio a Deus com a atitude certa de um coração disposto a adorar. Caim não.
Além disso, Abel ofereceu o melhor que ele tinha a oferecer, dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura. A bíblia não descreve o mesmo sobre Caim. Isso indica que ele ofereceu ao Senhor uma parte qualquer de sua produção, enquanto Abel apresentou a melhor parte das primícias. Dessa forma, Deus olhou primeiro para o ofertante, depois para sua oferta (Sl 40: 6-8).
Já podemos ver uma diferença em relação a Noé e ao sacrifício de animais limpos que ofereceu sobre o altar, logo depois que deixou a arca. Ali, a bíblia deixa claro que se tratava de expiação pelo pecado.
Para nós, fica o ensinamento de que o Senhor deve estar sempre em primeiro lugar em nossa vida e, agindo dessa forma, nós o agradaremos. Não apenas a nossa reverência, nossa fé e o nosso louvor o agradam, mas também a nossa atitude perante o mal, resistindo a todas as tentações do inimigo.
A queda do homem envolve sua desobediência à palavra de Deus e o não cumprimento do propósito pelo qual foi criado. O resultado da desobediência é que sua vida se tornou caracterizada pela escravidão (Hb 2: 14-15: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida”), pelo conflito com poderes malignos (Ef 6: 12: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”), pela fragilidade e frustração (Is 40: 6: “Uma voz diz: Clama; e alguém pergunta: Que hei de clamar? Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva”; Jó 14: 1-2: “O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação. Nasce como a flor e murcha; foge como a sombra e não permanece”), pela perversão na mente e no coração (Gn 8: 21: “E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz”; Jó 14: 4: “Quem da imundícia pode tirar coisa pura? Ninguém!”; Sl 51: 5: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”; Mt 15: 19-20: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina”; Mt 12: 39: “Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas”) que transforma a verdade de Deus numa mentira (Rm 1: 25: “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amem!”).
O ‘eu’ que foi criado por Deus é a nossa racionalidade, senso de obrigação moral, sexualidade, vida familiar, dons de apreciação estética e criatividade artística, mordomia dos frutos da terra, nossa fome de amor e experiência de comunidade, nossa consciência de majestade transcendental divina, nosso impulso inato de nos prostrar e adorar a Deus. Essa natureza foi manchada e distorcida pelo pecado. Cristo veio para redimi-la, não destruí-la.
O ‘eu’ que veio com a queda foi a irracionalidade, perversidade moral, obscurecimento das distinções sexuais e falta de domínio nesta área, egoísmo que deturpa a vida familiar, fascinação pelo feio, recusa de desenvolver os dons de Deus, poluição, danos ao meio ambiente, tendências anti-sociais que inibem a verdadeira comunidade, autonomia orgulhosa, recusa idólatra em adorar ao Deus vivo e verdadeiro. Cristo veio para destruí-la (1 Jo 3: 8).
É o nosso ego inicial que precisa ser resgatado. Assim, deixa de haver “crise existencial” no ser humano, pois ele vai saber como Deus o fez e para quê, portanto, passará a cooperar com o Espírito Santo para a cura da sua alma e sua restauração, diminuindo por assim dizer, o conflito entre carne e espírito. O homem passa a entender que se entregar a Jesus como seu Senhor não é uma perda, nem uma perda de sua identidade nem uma perda de seus sonhos e posses materiais, mas um meio de voltar ao princípio, quando foi criado à imagem e semelhança de Deus. Passará a orar a Ele da maneira certa, não mais colocando o foco da sua existência no ‘ter’ e no ‘fazer’, e sim, no ‘ser’. Em outras palavras, ele deixa de identificar seu eu verdadeiro com uma profissão ou com aquilo que possui materialmente, e começa a se identificar com os dons, qualidades e potenciais que o Senhor colocou dentro dele. Ao invés de dizer: eu sou médico, advogado, etc.; eu sou rico, faço isso ou aquilo, o homem passa a dizer: “eu sou um filho de Deus, chamado por Ele para mostrar Sua imagem na terra e me comportar como Ele, de tal e tal maneira; estou aqui para mostrar o Seu caráter e ser útil ao meu semelhante da forma que o Senhor quiser que eu seja”. Os valores do reino de Deus (que se vêem através do espírito) passam a ter uma prioridade sobre os valores do mundo, sobre as coisas carnais, que só se vêem com os olhos humanos distorcidos.
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Curiosidades e Revelações – Gênesis (PDF)
Curiosities and Revelations – Genesis (PDF)
Curso para ensino bíblico – nível 1 (PDF)
Biblical teaching course – first level (PDF)
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
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